Corpos sendo transportados em vans escolares, enterros à luz da lua e aglomeração em filas para a liberação de caixões de pessoas que morreram de Covid. A escalada de mortes em março, o mês mais letal da pandemia, lotou hospitais e impactou o Serviço Funerário da capital paulista, que tomou medidas que não tinham sido usadas nem no pico de 2020.
Nesta terça-feira (30), o número de enterrados em um dia na capital paulista bateu recorde: foram 419. Esse número nunca havia passado de 400.
Neste mês, até o dia 30, foram enterradas 9.350 pessoas nos cemitérios públicos, particulares e crematórios de São Paulo, o que representa um aumento de 56% em relação ao mês anterior, que é mais curto.
Fevereiro, que teve 28 dias, registrou 5.964 sepultamentos. Ainda assim, nos meses anteriores, a média mensal de enterros ficou por volta de seis mil (veja o gráfico abaixo).
Para se ter ideia, em maio de 2020 – o pico de enterros no ano passado – foram 8.368 sepultamentos.
Março superou o mês com o maior número de enterros em 2020. No ano passado, o dia com o maior número de enterros foi em 14 de julho: 262.
O secretário municipal das Subprefeituras, Alexandre Modonezi, havia dito que, caso a média de enterros diários passasse de 400, a Prefeitura poderia utilizar apenas três cemitérios para sepultamentos em São Paulo.
Com esta escalada de enterros, a Prefeitura de São Paulo estendeu os horários dos sepultamentos em quatro cemitérios: Vila Formosa e Vila Alpina, na Zona Leste; o São Luiz, na Zona Sul; e o Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte.
Os enterros passaram a ser feitos também de noite, com geradores de energia e refletores. Em 2020, a Prefeitura chegou a contratar postes de iluminação para possíveis enterros noturnos, mas eles foram devolvidos em julho sem terem sido utilizados.
Além disso, o Serviço Funerário, que contava com 45 veículos que faziam o transporte de corpos, ampliou a frota e contratou 50 vans particulares. Alguns desses veículos era usados no transporte escolar.
Os motoristas irão adaptar o veículo, retirar os bancos e o adesivo amarelo que fica na lateral e o identifica como transporte escolar. Ao final da contratação, a Prefeitura irá higienizar os veículos usados para o transporte de corpos.
“A medida consta do Plano de Contingenciamento Funerário, apresentado publicamente em 2020, e foi definido com base em critérios logísticos com base no número de óbitos ocorridos em 24 horas na cidade, que enfrenta pandemia e está em fase de emergência, conforme determina o Plano São Paulo do governo do Estado”, disse o Serviço Funerário em nota.
O maior cemitério da América Latina, o da Vila Formosa, na Zona Leste, tem registrado aglomerações. Familiares relataram filas para a liberação dos corpos das pessoas que morreram de Covid-19 e falta de distanciamento social.
“Eles colocam os corpos de vítimas das Covid-19 em uma sala, e eles vão liberando conforme vão chegando os carros para levar para os sepultamentos. Com isso, forma-se uma aglomeração, as famílias ficam todas paradas ali, esperando a liberação do caixão”, disse Debora Nogueira, que esteve no local no dia 21 de março.
O Serviço Funerário informou que “as equipes de fiscalização atuam nos cemitérios municipais instruindo as famílias quanto às medidas de segurança nesse período de pandemia”.
O Serviço Funerário informou ainda que hoje conta com 398 sepultadores atuando nos cemitérios municipais, sendo 173 efetivos e 225 contratados entre 2020 e início de 2021.