Investigação da Polícia Federal aponta que o suposto esquema criminoso de fraude na vacinação envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro teve origem em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Segundo a PF, foram servidores da Prefeitura de Caxias que inseriram no Sistema Único de Saúde (SUS) os dados falsos de vacinação de Bolsonaro, de sua filha Laura, de dois assessores e do deputado Gutemberg Reis (MDB).
A exclusão dos dados, sob alegação de erro, também envolveu uma funcionária do município, segundo a PF.
A vacinação contra a Covid na cidade da Baixada Fluminense foi marcada por filas quilométricas, aglomeração nos postos e desorganização. A Justiça chegou a bloquear R$ 2,5 milhões do então prefeito, Washington Reis, por suspeitas de irregularidades na campanha.
Os dados no ConecteSUS
Nesta quarta, o próprio ex-presidente reafirmou que ele e a filha não se vacinaram contra a Covid.
No sistema da Rede Nacional de Dados em Saúde, no entanto, constam duas doses da Pfizer para cada:
- Jair Bolsonaro teria tomado a 1ª dose da vacina no dia 13 de agosto de 2022, no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias;
- o ex-presidente teria tomado a 2ª dose no mesmo lugar no dia 14 de outubro de 2022;
- a filha do ex-presidente, Laura, teria recebido a primeira dose no dia 24 de julho de 2022 também no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias;
- já a segunda dose de Laura teria sido administrada no mesmo dia que a primeira dose de Bolsonaro, no dia 13 de agosto de 2022, no mesmo local.
Os dados, segundo os investigadores, foram inseridos no ConecteSUS apenas em 21 de dezembro, pelo ex-secretário de Saúde na época e atual secretário municipal de Governo de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha.
Informações do Ministério revelaram que só em 2022 ele fez mais de 60 inserções de dados de vacinação contra a Covid no sistema. Ele foi um dos seis presos na Operação Venire, nesta quarta (3).
A exclusão dos dados, uma semana depois, no dia 27 de dezembro, também envolve uma pessoa ligada à administração municipal. Foi feita pela chefe da Central de Vacinas de Caxias, Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, sob alegação de “erro”.
PF: esquema começou com braço direito de Bolsonaro
A PF descobriu que em 2021 o braço direito de Bolsonaro, o tenente-coronel da ativa, Mauro Cid Barbosa, ex-ajudante de ordens do ex-presidente recorreu ao advogado Ailton Gonçalves Morais Barros para conseguir incluir a informação no SUS de que sua esposa, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, havia tomado as doses necessárias da vacina contra Covid. A intenção era que a esposa de Cid pudesse viajar aos Estados Unidos.
Ailton é ex-major do Exército, se candidatou a deputado pelo PL no ano passado. Nas propagandas, dizia que era o “01 do Bolsonaro”. Ele não se elegeu e hoje está como suplente.
Segundo a PF, Ailton recorreu ao ex-vereador do Rio, Marcello Siciliano, para conseguir o certificado falso.
Em conversa grampeada pela PF, Ailton diz a Cid: “Ele é um político, né? Vereador, né? Sabe como resolve.”
Em seguida, Ailton pede a Cid um favor em troca: “E foi por isso também que eu pedi pra você para ver se a gente consegue botar ele de frente com o cônsul americano aqui”.
Segundo as investigações, Siciliano queria renovar o visto para ir aos Estados Unidos e estava com dificuldades.
A PF afirma que os registros de vacinação da esposa do coronel Cid foram inseridos no sistema no mesmo dia e horário. De acordo com a investigação, três horas depois Ailton Barros mandou uma mensagem para o coronel dizendo “aquele amigo já está vacinado com as 2 doses da fase”.
Na mesma hora, Ailton enviou ao coronel Cid duas fotos mostrando um cartão de vacinação de Covid da Prefeitura de Caxias, com as datas retroativas.
As investigações da Polícia Federal apontam que o mesmo esquema para conseguir os registros falsos de vacinação contra a Covid de Duque de Caxias para a esposa do coronel Mauro Cid pode ter sido usado para fraudar o cartão nacional de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sua filha, Laura.
No ano passado, a PF descobriu, depois de solicitação da Controladoria Geral da União (CGU), que constava no sistema do Ministério da Saúde o registro de que Bolsonaro teria recebido duas doses da vacina da Pfizer contra a Covid: uma em 13 de agosto, outra em 14 de outubro.
As duas doses foram aplicadas em Duque de Caxias — a mesma cidade em que a esposa do coronel Cid conseguiu o registro falso.