O Brasil optou por não assinar um comunicado conjunto divulgado por parte dos países do Mercosul que pede o restabelecimento da democracia e o respeito aos direitos humanos na Venezuela. O texto foi articulado sob liderança da Argentina e divulgado à margem da cúpula do bloco realizada em Foz do Iguaçu, no Paraná, sob presidência brasileira.
Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, também não subscreveu o documento. A avaliação do Palácio do Planalto é que a iniciativa poderia ser interpretada como aval político a uma eventual ação militar dos Estados Unidos contra a Venezuela, hipótese considerada contrária aos interesses diplomáticos do Brasil.
O comunicado não faz referência direta ao aumento da presença militar norte-americana no Caribe nem à escalada de tensões entre Washington e Caracas. Os Estados Unidos, sob o governo de Donald Trump, não reconhecem Nicolás Maduro como líder legítimo do país, onde ele está no poder desde 2013.
Nos últimos meses, forças norte-americanas realizaram ações contra embarcações venezuelanas, incluindo a apreensão de navios petroleiros, sob o argumento de combate ao narcotráfico. O governo venezuelano afirma que as medidas visam enfraquecer financeiramente o país e forçar a saída de Maduro do poder.
A Venezuela está entre os maiores produtores de petróleo do mundo, e o setor é central para sua economia. Analistas avaliam que o cerco internacional pode provocar uma forte restrição financeira ao país caribenho.
Posicionamento regional
O texto foi assinado pelos presidentes da Argentina, Javier Milei, do Paraguai, Santiago Peña, e do Panamá, José Raúl Mulino, além de autoridades da Bolívia, Equador e Peru. Os signatários manifestaram preocupação com a crise migratória, humanitária e social venezuelana, ressaltando a defesa de uma solução pacífica.
O comunicado reafirma o compromisso com a restauração da ordem democrática e a observância dos direitos humanos, além de pedir a libertação de presos políticos. Os países também reforçaram a validade do Protocolo de Ushuaia, que trata das cláusulas democráticas do Mercosul.
Fundado em 1991, o Mercosul incorporou a Venezuela em 2012, mas o país foi suspenso em 2017 após a avaliação de ruptura da ordem democrática.
Embora não reconheça oficialmente Nicolás Maduro como vencedor das eleições realizadas em julho de 2024, o governo brasileiro mantém postura cautelosa em relação ao tema. Para o Planalto, não é eficaz cobrar soluções políticas sem considerar o risco de uma intervenção militar externa.
Alerta humanitário
Em declarações recentes, Lula afirmou ter conversado por telefone tanto com Maduro quanto com Trump, defendendo uma saída diplomática. Durante a reunião do Mercosul, o presidente brasileiro alertou que uma intervenção na Venezuela poderia resultar em uma catástrofe humanitária e abrir um precedente perigoso no cenário internacional.
Em contraste, o presidente argentino Javier Milei fez duras críticas ao governo venezuelano, chamou Maduro de narcoterrorista e elogiou a pressão militar exercida pelos Estados Unidos, afirmando que a região não deveria mais adotar uma postura considerada tímida diante da crise.





















