O risco de um terremoto de grande magnitude atingir o Brasil é “próximo de zero”. É o que diz o geofísico e professor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), George Sand França.
Após o terremoto que atingiu o sul da Turquia e o norte da Síria, na madrugada de 6 de fevereiro, causar a morte de mais de 25 mil pessoas e deixar um rastro de destruição em várias cidades. Entenda a seguir por que não precisamos temer um grande terremoto por aqui.
Segundo o professor George Sand França, a probabilidade de um tremor de grande magnitude acontecer no Brasil é próxima de zero, apesar de nunca ser descartada.
Isso porque os grandes terremotos costumam acontecer em regiões próximas aos limites das placas tectônicas (grandes blocos rochosos que formam a porção superficial da litosfera terrestre).
O Brasil está situado na porção central da Placa Sul-Americana.
“No Brasil, a probabilidade de ocorrerem terremotos de grande magnitude é baixa porque estamos sobre uma placa onde o limite oeste está na Placa Sul-Americana, que fica na região que compreende Chile, Peru e Venezuela — o chamado Cinturão de Fogo do Pacífico. Ali sim há grande probabilidade. E o outro limite, ao leste, está em alto-mar no Oceano Atlântico” explica o professor.
O doutor em geofísica comenta que, no Brasil, geralmente acontecem tremores de baixa magnitude.
“Mas tivemos dois terremotos de magnitude maior que 6, considerada grande para o nosso país. O maior [tremor] do Brasil foi de magnitude 6,2 [na escala Richter], em Porto dos Gaúchos (MT), registrado em 1955. No mesmo ano, houve um tremor no mar a 300 km da costa de Vitória (ES). No caso do Distrito Federal, terremotos são ainda menos prováveis. Não há registros de grandes terremotos aqui”, tranquiliza. O risco é tão baixo que, segundo fontes da Defesa Civil no Distrito Federal ouvidas pela reportagem, “não há plano específico para terremotos, visto que a probabilidade de tal fenômeno no Brasil com potencial de causar danos é praticamente inexistente”.
O professor afirma que a probabilidade de ocorrência de atividade sísmica é maior em regiões como o Rio Grande do Norte, a área entre Goiás e o Tocantins, a cidade de Porto dos Gaúchos (MT), a região próxima a Montes Claros (MG) e Vitória (ES), que, assim como em toda a costa onde ocorre a exploração de óleo, têm atividade sísmica. No entanto, não há motivo para medo.
“Os tremores nessas regiões são todos de menor magnitude, e a probabilidade de terremotos severos é bem menor do que em regiões como Turquia e México”, esclarece.
De acordo com George Sand França, o que diferencia o Brasil da Turquia, do ponto de vista da geofísica (ciência que estuda as propriedades físicas e os processos físicos que ocorrem no interior da Terra), é que a Turquia está no encontro de três placas tectônicas que geram energia ao se movimentarem causando os terremotos: Placa da África, Placa Arábica e microplaca da Anatólia. “Elas acumulam pressão uma sobre a outra até o momento em que a região não suporta e libera energia, o que causa o terremoto”, esclarece o geofísico. “A possibilidade de um terremoto de 7,8 graus na escala Richter, como o visto na Turquia, é muito pequena”, completa.
A UnB abriga um dos quatro centros de monitoramento sismológico do país: a Rede Sismográfica do Centro e Norte do Brasil (RSCN).
Ela faz parte da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), que também congrega a Rede Sismográfica do Sul e do Sudeste (RSIS/SE), a Rede Sismográfica do Nordeste (RSISNE) e a Rede Sismográfica Integrada do Brasil (BRASIS).
Esses locais trabalham em conjunto no monitoramento de fenômenos sismológicos que ocorrem em todo o mundo.
“Quando acontece um terremoto de grande magnitude no mundo, o tremor é detectado pela rede, apesar da distância. Essa rede tem suporte mundial. Por isso temos dados que subsidiam estudos em todas as partes do mundo,” afirma o professor.