A região norte dos Estados Unidos enfrenta uma nova ameaça de saúde pública: a ameba “comedora de cérebros”, nome comum dado à Naegleria fowleri, um parasita de água doce que provoca uma doença chamada meningoencefalite amebiana primária (PAM, na sigla em inglês). Em agosto de 2022, uma criança morreu por causa da doença depois de nadar em um rio no estado de Nebrasca.
A preocupação das autoridades com a ameba, normalmente achada no sul dos Estados Unidos e na América Central, consta de um estudo científico publicado no Jornal de Saúde Pública de Ohio (Ohio Journal of Public Health), em maio. A pesquisa é da Universidade de Mount Union, em Ohio, da Escola de Enfermagem da Universidade do Kansas, e da iniciativa Jonas Scholar.
A publicação adverte que a principal razão do aumento da incidência dessa doença, que é rara, mortal e muitas vezes mal diagnosticada, nos estados do norte é a mudança climática, provocada ao longo dos anos pela destruição do meio ambiente e dos recursos naturais.
“Historicamente, os casos de infecção pela Naegleria fowleri nos Estados Unidos são conhecidos nos estados do sul, mas dados recentes indicam maior incidência, desde 2010, em estados do norte, como Minnesota, Indiana e Missouri. A incidência da infeção é historicamente rara, já que, de 1962 a 2015, 138 casos foram reportados no país, com uma variação de zero a oito registros por ano. Os pacientes são predominantemente homens (76%) e com idade igual ou menor de 18 anos (83%)”, avisam os pesquisadores.
A região norte do país possui, normalmente, temperaturas mais baixas. Mas, com o aquecimento global e outras consequências da despreocupação com a alteração do clima do planeta, essas áreas ficaram mais quentes, o que torna o ambiente propício para o desenvolvimento do parasita. Até então, não havia registro da ameba nessa região dos EUA.
“Dados da mudança climática indicam aumento consistente da temperatura da superfície das águas, o que amplia a probabilidade de o parasita representar uma ameaça maior à saúde humana em regiões com histórico de ocorrência e em novas regiões, onde a PAM ainda não foi documentada”, advertem os pesquisadores.
A pesquisa atenta para o aumento da temperatura no estado de Ohio, localizado no norte. “No século passado, as temperaturas de Ohio aumentaram entre 1°F e 2,35°F na parte nordeste do estado. A popularidade dos parques estaduais de Ohio, dos quais 71% oferecem acesso à natação em água doce e 97% permitem a pesca, aumentou devido à pandemia de Covid-19”, avisa.
Apesar de se tratar de uma doença rara, o estudo frisa que sua gravidade e “a recuperação difícil dos pacientes tornam o aumento da incidência da PAM em climas do norte uma preocupação de saúde emergente”.
“Combinado com o aumento da incidência em climas do norte, profissionais de saúde pública e prestadores de cuidados de saúde não treinados e que desconhecem a doença podem exacerbar períodos prolongados para o diagnóstico e atrasar o tratamento, sensível ao tempo, o que é, em última análise, um rápido declínio para pacientes com PAM”, diz o estudo.
Para os moradores, a indicação é não espirrar água em outras pessoas e também não submergir a cabeça quando nadar em lagos e represas. Se ocorrerem sintomas neurológicos, procurar atendimento médico rapidamente e relatar as exposições a ambiente a que foi submetido (como nadar em lagos ou represas).
Os pesquisadores advertem os profissionais de saúde pública do norte dos EUA que monitorem locais de recreação de água doce e quente, onde a ameba costuma habitar. Os repetidos casos, ao longo dos anos, foram documentados no mesmo lago de água doce, então é importante orientar a população sobre os riscos de entrar em represas ou locais de água parada.
As autoridades locais também podem colaborar ao manter altas concentrações de cloro no sistema de distribuição de água, especialmente aqueles localizados em altas temperaturas.