Símbolo do Pantanal, a onça-pintada é um dos principais atrativos da região mato-grossense e tem recebido atenção especial nos últimos meses por conta dos incêndios registrados ao “santuário” em Porto Jofre, ponto central para observação dos felinos. Porém, esse não é o único local que elas habitam. Se adequando às diferenças biológicas, as onças-pintadas sofrem mutações para sobreviver ao Cerrado.
O biólogo e coordenador científico do projeto OnçaFari, Eduardo Fragoso, atua na região do Cerrado desde o começo desse ano, acompanhando os animais que habitam o bioma. Após 8 anos no Pantanal, Eduardo conta que as queimadas na região, principalmente nessa época do ano, impactam na vida das onças-pintadas devido à morte de suas principais presas e o perigo de queimaduras.
“Os animais que mais morrem com essas queimadas são os jacarés, as capivaras, presas das onças. Elas conseguem perceber o perigo e fugir. O que mais acontece é que devido ao chão quente, a turfa criada embaixo do solo, pode fazer com que esses animais acabem queimando as patas”, explica o biólogo. Em 2020, dois animais foram resgatados com ferimentos nas patas e passaram dias em tratamento até se recuperarem totalmente.
Contrariando as declarações dos governantes, o biólogo relata que o Estado demorou para agir contra os incêndios e isso deixou o fogo incontrolável. “Eu conversei com o pessoal que fica no Pantanal norte e eles disseram que tiveram pouco apoio, os brigadistas demoraram muito tempo para chegar, e aí o fogo tomou uma proporção tão grande que ficou impossível de combater, e resultou nessa tragédia”.
No Cerrado desde o começo do ano, o profissional relatou que as onças-pintadas mais vistas na região são pretas ou marrons. Ele explica que elas são da mesma espécie, porém sofrem mutações devido ao bioma.
“Tem muita gente estudando onça-pintada no Pantanal e até hoje nunca foi encontrada uma onça-preta por lá. E na região do Cerrado, quase metade são pretas. Além disso, as onças encontradas no Pantanal são as maiores do mundo e podem pesar até 140 kg, já as do Cerrado vai pesar até 90 kg, um macho muito grande”, afirma.
Ele explica que a teoria estudada é que, por serem muito grandes e o Pantanal muito quente, uma onça-preta sofreria de hipertermia, porém são teorias que ainda não foram comprovadas e requerem aprofundamento.
“O Pantanal é muito rico de presas, já no Cerrado a diversidade é grande, mas a quantidade por espécie muito pequena. Vocês costumam ver uma margem de rio cheia de jacaré e isso não é comum no cerrado”, pontua.
O Grupo
Onçafari é uma Organização Não Governamental (Ong) que realiza o monitoramento de onças-pintadas no Pantanal, Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica. O grupo teve início em 2011, no Refúgio Ecológico Caiman com o objetivo de coletar dados e compilar informações para entender o comportamento e propor estratégias para a conservação do maior felino das Américas.
Atualmente, o grupo monitora cerca de 40 onças com colares e consegue definir desde a data estimada de seu nascimento, com quem a onça possui relação, as datas de suas capturas, peso e o território frequentado pelo animal acompanhado.
Entenda como preservamos as onças-pintadas e os lobos-guarás
A Associação Onçafari foi criada para promover a conservação do meio ambiente e contribuir com o desenvolvimento socioeconômico das regiões em que está inserida por meio do ecoturismo e de estudos científicos.
Trabalhamos pela preservação da biodiversidade em diversos biomas brasileiros, com ênfase em onças-pintadas e lobos-guarás.