No último domingo (22), a mato-grossense Adriele Coelho Rodrigues, 20, natural de Nova Mutum, estava trabalhando em seu novo emprego, quando se deparou com uma situação um tanto quanto incômoda. Faxineira de um hotel, ela limpava o corredor da piscina quando um pai passou com sua filha e disse em voz alta: “Está vendo essa moça? Você tem que estudar para não ter que limpar o chão igual a ela”. Estudante de letras da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ela respondeu: “Senhor, eu estou limpando o chão para pagar meus estudos”. A história foi compartilhada pela estudante no Twitter, e ganhou grande repercussão: em três dias, já são 91.876 curtidas, 17.884 retweets (compartilhamentos) e 770 respostas.
‘Adri Lebre’ ou ‘Moça da Limpeza’, como se auto-intitula na rede social, não imaginava que o post teria tanto alcance. Ela começou a trabalhar como faxineira do hotel há cerca de uma semana para conseguir se manter em Cuiabá, onde faz a faculdade. este foi o primeiro emprego fixo que conseguiu.
Antes disso, no entanto, já fez vários trabalhos informais, os famosos ‘freelas’. “Sempre tem gente para fazer comentários desagradáveis”, afirma. “Eu lembro uma vez, esse ano mesmo, em Cuiabá, que eu estava fazendo monitoria infantil em um evento em um shopping e uma criança estava falando pra mim: ‘você tem que fazer o que eu quiser, porque a minha mãe pagou para eu brincar aqui’. E eu acho que meio que se iguala a essa situação”.
Na ocasião do hotel, segundo Adriele, o homem somente ouviu a resposta que ela deu, e saiu andando. A garotinha também não disse mais nada. “Ele foi bem infeliz… mas talvez só tenha errado na maneira de se expressar, porque eu não costumo acreditar que as pessoas são realmente ruins de propósito. Soou de forma mal caráter, mas talvez ele só quisesse dar um incentivo, e fez isso de uma maneira muito errada”, lamenta.
Com sua resposta, a estudante conta que não acredita que mudou a opinião do hóspede. No entanto, no Twitter, ela já recebeu diversas mensagens de incentivo. “Eu acredito que as pessoas podem sim mudar a mentalidade, mas não pessoas adultas… não com muita facilidade, pelo menos. Nada que eu dissesse para ele, hoje, faria diferença. Mas talvez, no futuro, quem sabe. É um pouco utópico acreditar que as pessoas vão mudar de forma tão brusca, mas vez ou outra eu me vejo criando esperanças de que as pessoas evoluem”.
O sonho da estudante é se tornar professora, e alinhar isso a um trabalho social. Atualmente, ela está de férias, mas na próxima semana as atividades na faculdade voltam, e terá que conciliar as oito horas de trabalho com as aulas à noite e, ainda, tempo para estudar em casa.
Além de estudante de Letras, Adriele também escreve poemas desde os 14 anos. “Meus amigos sempre me dizem para publicar [um livro], porque minhas palavras passam boas sensações, e que as minhas poesias são legais… mas eu ainda não sei. Eu prefiro só gravar as palavras quando elas me vêem, e por enquanto é isso”, finaliza.