A enfermeira Jessica Baltas, que atua em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de um hospital particular de Cuiabá, afirma que ela e os colegas de trabalho vivem um momento de apreensão durante o combate à pandemia do novo coronavírus.
Jessica contou que, a cada notificação ou morte registrada pela Covid-19, o sentimento é de impotência.
“Você faz o juramento para salvar vidas e nem sempre isso é possível. Muitas vezes você quer agir pelo instinto, mas precisa ter a consciência de que você obrigatoriamente tem que agir pela razão e obedecer aos protocolos”, declarou.
Com 12 horas de trabalho a cada plantão, a enfermeira explicou que, nesse período, é possível entrar apenas duas vezes na sala de isolamento, como forma de proteger o paciente de outras infecções comuns do ambiente hospitalar e proteger a si mesma de ser contaminada pelo vírus.
No entanto, antes de atender a emergência, obrigatoriamente, a profissional precisa se paramentar, pois, segundo ela, qualquer erro pode contaminar outros profissionais que estão fora do isolamento. Essa preparação pode levar tempo.
“Chegar em um plantão com um paciente com Covid-19 confirmado é ter a certeza de que seu dia pode não sair bem. Você precisa chegar e planejar com a equipe como serão as 12 horas, quanto de material vai usar, se o paciente fará hemodiálise, quantas horas o técnico terá que ficar lá dentro, calcular a quantidade de medicação nas bombas de infusão e, principalmente, garantir que nenhuma delas pare no intervalo de tempo calculado”, explicou.
Jessica afirmou que todo esse planejamento é estressante e torna a rotina cansativa. “Se sair do planejado, o medo da contaminação nos consome”, disse.
Medos
Em meio à incerteza de quando esse período de pandemia chegará ao fim, Jessica disse que convive com o medo diário de ser infectada pelo novo coronavírus e transmitir a doença aos colegas de trabalho e, principalmente, aos pais, de 52 e 53 anos, ambos cardiopatas.
“Eles são grupo de risco, e esse é meu medo, porque não tenho onde ficar. Minha irmã é hemofílica, então também está no grupo de risco”, afirmou.
A enfermeira contou que fez o teste para Covid-19 recentemente e o resultado foi negativo.
“Fiquei feliz por mim e por saber que estou me cuidando e cuidando de quem eu amo, além de cuidar de pessoas que, com certeza, não queriam estar ali”, ressaltou.
A profissional ainda fez um alerta às pessoas que continuam promovendo festas e manifestações, as quais geram aglomeração e aumenta o risco de contaminação pelo novo coronavírus.
“Mesmo que você não tenha nenhum amigo próximo ou familiar contaminado ou que tenha falecido, leve a sério, tenha empatia pelo próximo que sofre a dor da perda. Às vezes o fato de não vermos algo de perto, não quer dizer que não exista”, disse.
Enfermeiros infectados
Mato Grosso tem 44 profissionais de enfermagem infectados pelo novo coronavírus, conforme dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Outros 119 casos suspeitos aguardam resultados de exames.
O estado também já registrou dois óbitos de enfermeiros em decorrência da doença.
No dia 2 de abril, Athaíde Celestino da Silva, de 63 anos, morreu devido ao novo coronavírus após 37 dias internado.
A segunda morte pela doença foi registrada no dia 18 de maio. A enfermeira Alessandra Bárbara Pereira Leite, de 49 anos, ficou hospitalizada por 46 dias.
Do total de casos confirmados e suspeitos, quatro estão internados e 158 estão em quarentena.
Atualmente, o estado tem mais de 9 mil enfermeiros cadastrados no Conselho Regional de Mato Grosso (Coren-MT) e, segundo a instituição, a maior parte está convocada para atuar na linha de frente do enfrentamento à Covid-19.