Vinte e sete brigadas rurais vão receber treinamento e equipamentos para o combate aos incêndios florestais no Pantanal. Duas expedições, entre os dias 31 de maio a 28 de junho, irão percorrer o bioma em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para formação dos combatentes. As regiões de treinamento serão pontos fixos de equipes que irão atuar em 2021 para evitar que os incêndios tomem proporções incontroláveis, como os que atingiram o bioma na última temporada de seca.
A criação dessas brigadas locais é uma iniciativa do Instituto SOS Pantanal, que acompanhou os esforços nacionais de 2020 contra o maior incêndio da história do Pantanal, quando o fogo atingiu 26% do bioma. A iniciativa deste ano é uma tentativa de mitigação dos danos desencadeados pelo fogo fora de controle na paisagem e vida dos pantaneiros.
As brigadas serão treinadas com apoio do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos naturais renováveis (Ibama), em convênio com o SOS Pantanal. Também estão apoiando neste treinamento o Corpo de Bombeiros e o Serviço Florestal dos Estados Unidos.
A localização das brigadas partiu de uma avaliação estratégica. Foram analisados os pontos dos últimos incêndios e onde o fogo geralmente é um problema na estiagem.
A expedição começou no dia 31 de maio na região do Pantanal de Mato Grosso do Sul e se estenderá até 28 de junho em Mato Grosso.
O primeiro curso ocorre na Fazenda Novo Horizonte. Serão mais cinco curso nessa primeira etapa que deve formar até 18 turmas de brigadistas.
Os cursos terminam com uma queima controlada mediante o uso do fogo frio – técnica licenciada pelos órgãos ambientais para redução da possível material de combustão (biomassa) em regiões estratégicas. Essa técnica funciona como uma forma de combate às queimadas em períodos críticos.
Em julho haverá um novo treinamento e a finalização da entrega dos equipamentos.
Lições e novos alertas
O último ano foi marcado pela maior seca em cinco décadas no Pantanal. A falta de chuvas somada às queimadas ilegais desencadearam incêndios florestais e uma paisagem de desastre no bioma em 2020. Muitas porções de vegetação antes protegidas foram completamente dizimadas. Unidades de conservação como o Parque Estadual do Encontro das Águas, o Parque Nacional do Pantanal e a Reserva Particular do Patrimônio Natural do Sesc Pantanal, em Mato Grosso, tiveram mais de 85% de suas áreas consumidas pelas chamas. Os danos reais desses incêndios na paisagem e biodiversidade do bioma ainda não foram estimados.
Desde maio a Agência Nacional de Águas (ANA) aponta que o Pantanal será atingido por uma seca pior do que a do ano passado. “A proposta de formação de brigadas partiu desse aprendizado do 2020. Foi quando lançamos campanhas de arrecadação com pessoas físicas e empresas para que tivéssemos fundos de enfrentamento às queimadas esse ano. O valor arrecadado é a base de financiamento desse treinamento e da compra de equipamentos”, explica Leonardo do SOS Pantanal.
Engajamento
Formadores de opinião engajados nas campanhas de arrecadação de fundos pelo Pantanal irão acompanhar os treinamentos. A apresentadora Rafa Kalimann, que fez lives e apoiou a divulgação da grave situação do fogo na região há um ano, irá visitar a região no dia 5 de junho.
Rafa vai acompanhar os treinamentos nas fazendas Caiman e Santa Sofia, em Mato Grosso do Sul. A proposta é que ela apresente aos doadores e a seu público como serão as estratégias de enfrentamento do fogo neste ano.
Os treinamentos das brigadas de Mato Grosso, na região de Porto Jofre, em Poconé, serão acompanhados pelo ator Mannuel Costa. O local foi um dos mais afetados pelos incêndios florestais de 2020, com graves consequências para a fauna. Foi nesta que três onças-pintadas foram resgatadas com seus corpos gravemente queimados. Apenas um destes animais conseguiu ser reintroduzida de volta à natureza.
Outra ação de Rafa Kaliman e do ator Manoel Costa será apresentar o Pantanal para os brasileiros. O bioma é um dos pontos de megadiversidade do mundo e uma das regiões mais preservados do Brasil, com 84% de suas vegetações conservadas. Mas poucos conhecem essa morada de mais de 450 espécies de aves, 263 de peixes, 122 de mamíferos e refúgio estratégico para animais ameaçados de extinção em outras regiões do Brasil, como o tuiuiú, a onça-pintada e o tatu-canastra.