Em outubro de 2017, Mato Grosso perdeu uma de suas mulheres mais notáveis. Mas a cada 8 de março, dia dedicado internacionalmente a exaltar a presença feminina e a importância de todos os direitos conquistados, também é dia de relembrar aquelas que seguem como exemplo da sociedade em qualquer tempo ou data.
É o caso de Sarita Baracat, uma mulher que abriu caminho para muitas outras que a sucederam na política estadual. Seu protagonismo deixou um legado às gerações futuras. A mulher, que fazia se ouvir em meio a reuniões em que os homens predominavam, foi a segunda prefeita do Estado e a primeira de Várzea Grande, eleita em 1966. Em 1978, tornou-se a primeira mulher deputada estadual eleita por Mato Grosso.
Sua história é contada em um dos episódios da série documental intitulado Tipos Mato-Grossenses. É ela quem protagoniza o filme, relembrando fatos que vivenciou e ainda compartilhando suas impressões. “É muito importante a emancipação feminina. Eu entendo que o mundo seria muito melhor se tivessem mais mulheres na política”, disse ela.
Quando as mulheres não tinham quase nenhuma autonomia de suas próprias vidas, Sarita ousou contrariar as estatísticas e foi além, ao ignorar os limites impostos socialmente, sem se submeter ao implacável julgamento machista.
Em meio às reuniões políticas, tomava a palavra ao microfone, usava calça comprida, fumava cigarros. Pouco se importava com olhares atravessados. Sarita era também torcedora fanática do Clube Esportivo Operário Várzea-Grandense e, quando prefeita, época do centenário de Várzea Grande, com incentivo ao esporte, impulsionou o time a ser tricampeão mato-grossense.
No campo dos negócios, foi também graças à sua personalidade visionária que promoveu o incentivo para que indústrias se instalassem em Várzea Grande. “Eu doava o terreno, dava cinco anos de isenção de impostos e ajudava com uma infraestrutura mínima”, relatou no documentário.
Atenta aos caminhos do desenvolvimento, Sarita, que cursou o magistério, sempre se preocupou com a educação. Segundo a jornalista Neila Barreto, ela costumava dizer: “onde havia dez crianças, eu construía uma escola”. A jornalista explica que ela sabia que só pela educação poderia melhorar a qualidade de vida da população.
Sarita também é fundadora e a primeira diretora da Escola Agrícola de Mato Grosso. Esse insight de professora vem também da árdua batalha que travou para frequentar as aulas da Escola Estadual Liceu Cuiabano, na década de 1940. Ela saía a pé de Várzea Grande em direção a Cuiabá e atravessava o Rio Cuiabá de barco para estudar. “Naquela época, íamos a pé, pois não tinha linha de ônibus”, diz no documentário.
“Naquele tempo havia muito machismo. Os homens entendiam que eram superiores às mulheres, mas elas não davam o braço a torcer e procuravam ser mais estudiosas que os homens”. E foi com muito esforço e ternura que ela alçou seu nome entre as personalidades mais importantes de Mato Grosso.
Biografia
Sua família é de origem Síria. Entretanto, foi em Buenos Aires, capital argentina, que seus pais, Miguel Baracat e Warda Zain, se conheceram e casaram. Só depois se mudaram para Várzea Grande, onde criaram os oito filhos, dentre eles, Sarita.
Seu primeiro emprego, aos 20 anos, foi como tesoureira da prefeitura. Aos 22, iniciou no magistério, ministrando aulas de sociologia, história e geografia. Só então, em 1957, ingressou de vez na política. Concorreu ao cargo de vereadora e foi a mais votada naquela eleição.
Em 1966, após desistência do candidato oficial do Arena na campanha para prefeitura, teve, por ser a presidente do partido, de assumir a empreitada, que, por sinal, foi muito bem-sucedida, tornando-se assim a segunda mulher eleita prefeita no Estado. Alguns anos depois, em 1978, foi eleita deputada estadual pelo MDB, consolidando sua trajetória política em Mato Grosso.
Neste meio tempo, em 1960, se casou com Emanuel Benedito de Arruda. Eles tiveram dois filhos; o jornalista Fernando Baracat e o ex-deputado Nico Baracat, falecido, em 2012, após um trágico acidente de carro. Até os 86 anos, viveu no casarão onde foi criada pelos pais, um espaço arborizado e sempre frequentado por parentes e amigos.
Sarita morreu no dia 10 de outubro de 2017, aos 87 anos, deixando para trás um legado como vereadora, prefeita, deputada estadual e secretária de Estado, em um tempo em que poucas mulheres ocupavam esses espaços e é sem dúvida uma pioneira.