Cuiabá encerrou o mês de julho com 2ºC acima da média Normal Climatólogica, conforme levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Resultado do aquecimento global, a mudança brusca das condições climáticas pode afetar a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico em Mato Grosso.
De acordo com o pesquisador e integrante do Fórum Mato-grossense de Mudanças Climáticas da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Maurício Philipp, essa mudança de temperatura é resultado direto de uma série de fatores, como mudanças no solo e construções nos centros urbanos.
Nas cidades, o pesquisador alerta que o aumento de temperatura e o crescimento dos casos de enchentes podem estar intimamente relacionados com o mal planejamento dos centros urbanos. Segundo Phillip, a falta de estrutura para escoamento de água, somanda à ampliação de áreas concretadas contribui para o aumento da sensação térmica em Cuiabá.
“De acordo com relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), existe uma mudança do clima inequívoca, mas nem tudo pode ser atribuído somente a mudanças [climáticas]. Às vezes, os aumentos de temperatura são potencializados por ações locais em cidades com muito concreto, asfaltos e calçadas. Isso contribui para o processo de formação de ilhas de calor nos centros urbanos”, alerta o pesquisador.
Com grande potencial para impactar também a vida no campo, o pesquisador afirma que as mudanças causadas pela emissão de gases, como o gás carbônico, podem trazer consequências para a produção agrícola no Estado.
Dados obtidos por meio de um levantamento realizado em 2022, com o objetivo de calcular a vulnerabilidade climática em Mato Grosso, mostram que as transformações das condições climáticas podem afetar a produção agrícola e, consequentemente, a economia estadual.
“Neste trabalho, foi construído um cenário de vulnerabilidade climática. Nele para cada município foram verificados e projetados dados sobre temperatura, precipitação e umidade para calcular o índice de penalização das culturas. O que se observa é que, nesse cenário, até a década de 2030, 2040, a gente tem uma redução da precipitação em várias regiões do Estado”, afirma.
Além da diminuição no volume das chuvas, o pesquisador chama a atenção para um aumento de temperatura de até 2ºC, que pode agravar o déficit hídrico em culturas agrícolas.
“A gente tem que ter uma responsabilidade grande para reduzir as nossas emissões [de carbono], visto que o clima para nós é muito importante para a agricultura e para a economia do Estado”, declara.
Diferente de estados brasileiros no qual os maiores gases poluentes são oriundos da queima de combustíveis fósseis, em Mato Grosso, as maiores emissões de gases são realizadas no campo, por meio do desmatamento e da emissão de metano, formado pelo processo digestivo do rebanho bovino.
Todavia, segundo Maurício Phillip, é no campo que práticas agroecológicas podem reverter esse cenário.
“Propriedades rurais têm potencial para fixar muito carbono e reduzir carbono de uma forma barata, inclusive […] Tudo o que a gente fizer relacionado à redução do desmatamento, proteção de floresta, boas práticas na agricultura para fixar carbono no solo, plantio de floresta, é fundamental”, afirma o pesquisador.
Efeito Estufa
Composto por uma camada de gases presente na atmosfera, o efeito estufa é um processo natural que possibilita o aquecimento da Terra.
Todavia, com o aumento do desmatamento e da emissão de gás carbônico ocorre a intensificação do efeito estufa, e, consequentemente, o aumento da temperatura na terra.
“Se não fosse o efeito estufa a gente não teria nenhuma temperatura habitável aqui na Terra. O problema está na intensificação do efeito estufa provocado pela emissão de gases”, afirma Maurício.
Como estratégia para diminuir a emissão dos gases poluentes em Mato Grosso, algumas medidas vêm sendo implementadas na região. Como o programa Carbono Neutro MT, que visa neutralizar em 100% as emissões de carbono nas propriedades rurais de Mato Grosso até 2035.
“O programa carbono neutro foi pensado a partir dos resultados de um projeto chamado ‘Trajetórias de descarbonizarão’ e que foi discutido com a sociedade e com todos os atores envolvidos por meio do Fórum de Mudanças Climáticas […] É uma ação voluntária, complexa, mas é um começo para trazer esse engajamento [por parte das empresas]”, afirma.