Seja no combate ao tráfico de drogas na fronteira de Mato Grosso com a Bolívia, nas ruas de Cuiabá e Várzea Grande no policiamento rotineiro, nas unidades penais do estado ou até mesmo em buscas como no desastre de Brumadinho (MG), os animais reforçam a atuação da Segurança Pública, além de gerar uma maior aproximação entre as instituições e a sociedade pela sua docilidade e pela segurança que eles passam à maioria das pessoas.
Exemplo disso, é o Regimento de Policiamento Montado da Polícia Militar de Mato Grosso (RPMon) ou simplesmente a Cavalaria da PMMT. Com um total de 60 animais, a unidade é utilizada principalmente no policiamento ostensivo, em locais com grande concentração de pessoas ou até mesmo em ocasiões especiais, como é o caso de operações, reintegrações de posse, grandes eventos ou manifestações.
Apesar de estar localizada em Cuiabá, mais precisamente no Parque de Exposições da Acrimat, a Cavalaria atende todo o estado de Mato Grosso. O município de Nova Mutum (242 km da Capital), também conta com um Esquadrão Independente de Policiamento Montado.
Mesmo com a pandemia e, consequentemente, a suspensão de grandes eventos, o trabalho da Cavalaria não ficou prejudicado, segundo o comandante do regimento, tenente-coronel PM Walmir Barros Rocha. No entanto, os projetos sociais disponibilizados pela unidade é que tiveram que se adequar às restrições necessárias.
E ainda de acordo com o militar, justamente estes projetos ofertados é que são a chave para uma maior aproximação entre a Polícia Militar e o cidadão.
Atualmente, a unidade conta com a Escola de Equitação, que além de promover a atividade esportiva, também aproxima os alunos – entre eles crianças especiais, idosos, população de baixa renda – tornando a polícia ainda mais comunitária.
“O cavalo proporciona a simpatia e a aproximação social de famílias e de crianças, fortalecendo os vínculos que são essenciais para a Polícia Militar e para essa filosofia de Polícia Comunitária”, destacou tenente-coronel Rocha.
Cães da fronteira
No combate aos crimes transfronteiriços, um total de 10 cães atualmente reforçam o trabalho do Grupo Especial de Segurança na Fronteira (Gefron), da Delegacia Especial de Fronteira (Defron) e de outras forças de segurança da região de fronteira do Brasil com a Bolívia.
O Canil Integrado de Fronteira (Canilfron), está localizado em Cáceres (216 km de Cuiabá) e destes 10 animais, três já estão quase “se aposentando”, com alguns anos de trabalho conjunto com os operadores de fronteira. Os outros sete se revezam na atuação de combate ao tráfico de drogas por meio da busca de entorpecentes, captura de criminosos e resgate de vítimas.
Para tais atividades, todos os cães são treinados e muito bem cuidados por uma equipe composta por médico veterinário e operadores cinotécnicos, entre eles policiais militares, policiais civis e bombeiros. Os cuidados com os cães vão desde a alimentação, bem-estar e controle sanitário necessários para qualquer canil.
Os cães do Canilfron são treinados para farejar grandes áreas como propriedades rurais, residenciais, presídios e até mesmo aeronaves e interior de veículos.
De acordo com a investigadora da Polícia Judiciária Civil (PJC) cinotécnica que compõe a equipe do Gefron, Vanessa Miranda de Paula, os labradores são ótimos cães para busca e resgate e busca de entorpecentes, mas não são tão flexíveis quanto o pastor-belga-malinois, que pode ser considerado como um “policial extra”.
Ainda de acordo com Vanessa, o trabalho com cães dá uma eficiência e agilidade maior nas operações policiais. Ela cita como exemplo uma busca residencial: sem o emprego dos cães, esse procedimento pode levar de duas a três horas, já com os animais, essa mesma busca pode levar em torno de 15 minutos.
“Um fator importante é que os cães aumentam a possibilidade de integração com a comunidade, já que eles dão a sensação de segurança e de lealdade, estreitando o diálogo com a sociedade. E o outro fator é que estes mesmos cães sabem ser dóceis, mas também geram um impacto psicológico preventivo na marginalidade, representando um maior empoderamento da polícia”, pontuou a policial civil.
Reconhecimento nacional
Foi da busca por corpos no rompimento de uma barragem de rejeitos ocorrida em Brumadinho (MG), em janeiro de 2019, que o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso (CBM) se tornou referência nacional, a partir da atuação não só de Bombeiros Militares, mas de 10 cães do canil da instituição utilizados no trabalho.
Na ocasião, Mato Grosso foi o estado que mais empregou a utilização de cães nas buscas, além de ser o estado que mais tempo ficou à disposição do município mineiro, totalizando quatro meses de serviço.
Hoje o CBM conta com um total de 20 cães em todo o estado, entre labradores, pastores-belgas e até border collies que são devidamente treinados como cães de resgate. A criação destes cães também é diferenciada, eles não vivem no mesmo canil e sim com seus condutores, todos bombeiros militares.
De acordo com o diretor operacional adjunto do CBM, major BM Rafael Ribeiro Marcondes, isso confere maior qualidade de vida aos animais, que convivem plenamente com seus donos, tanto diariamente quanto no serviço da corporação.
“A gente percebeu que a qualidade do serviço é melhor quando o cão convive na casa do condutor. Para o animal é muito mais saudável, já que ele tem uma vida normal como qualquer outro cão se relacionando com o condutor. E para este cão, o trabalho é diversão”, explicou major Marcondes.
Unidades penais
No Sistema Penitenciário, os cães também fazem a diferença no trabalho cotidiano da Polícia Penal. Atualmente, o sistema possui alguns canis nas unidades de Cáceres, Rondonópolis e Barra do Bugres.
Além disso, o Setor de Operações Especializadas (SOE) também tem um canil que hoje conta com quatro operadores cinotécnicos e dois cães pastores-belgas-malinois, conhecidos como Furya e Irys. O canil está localizado temporariamente no Complexo Penitenciário Ahmenon Lemos Dantas, em Várzea Grande.
Outro canil de destaque do sistema é o da Penitenciária da Mata Grande, localizada em Rondonópolis (222 km de Cuiabá). Glock, Margô, Athena, Drago e Stark são os cinco cães responsáveis pela guarda noturna da muralha e pela revista de todos os materiais que entram dentro da unidade, além das revistas gerais que ocorrem dentro das celas dos presos.
A novidade é a aquisição de um cão da raça beagle, de pequeno porte, que está sendo treinado para atuar em locais onde há pouco espaço, como é o caso do interior de veículos, embaixo das camas dos recuperandos, etc.
De acordo com o policial penal responsável pelo canil da Mata Grande, José Ricardo Segatto, além das atividades rotineiras da unidade penal, os cães também dão apoio em ações das demais forças de segurança, como já foi o caso da PMMT, da PJC e até mesmo do Exército.
“Várias ações foram feitas em conjunto porque nem todas as forças de segurança possuem essa estrutura. Inclusive a normativa do canil estabelece que devemos prestar apoio em qualquer uma das forças”, finalizou Ricardo.