A recuperação do solo em áreas naturais como a amazônia pode levar décadas por conta das queimadas, aponta Emílio Carlos de Azevedo, doutor em Ciência dos Solos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O especialista ainda aponta que o fogo pode destruir não somente a composição física, como também química e biológica. Em Mato Grosso, 60% dos focos de calor registrados em 2019, entre janeiro e agosto, estão em áreas privadas, aponta o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“Demora algum tempo, dependendo da gravidade que o fogo entrou. Se fosse uma floresta e você dizimasse ela totalmente, imagina que tirou tudo, isso demora algumas décadas. Agora, se o fogo chegou e queimou só a parte da superfície, em alguns anos já recompôs isso. Mas é sempre prejudicial [o fogo]”, pontua.
“Na área agrícola, você já pegou esse solo formado e você mudou o seu equilíbrio. Existia um equilíbrio e agora é outro. Logicamente que os materiais que são colocados nas lavouras se decompõem muito mais rápido do que o material de mata”, esclarece.
A destruição do fogo pode se dar em três níveis: biológico, físico e químico. Quanto ao aspecto biológico, a devastação pode se dar pela extinção de microrganismos que vivem nos solos. Já a nível físico a destruição atinge a interação entre os materiais orgânicos que foram mineralizados, podendo causar até a retenção e escorrimento de água, aumentando o processo erosivo. Por fim, quimicamente, podem se perder elementos como potássio, fósforo e nitrogênio.
“As altas temperaturas, em geral, chegam entre 450ºC até 620ºC. A temperatura atinge, geralmente, os primeiros dez centímetros. Independente do material que tem, pode variar mais ou menos. (…). O solo tem vida e precisa ter material orgânico. É primordial esse material orgânico para formar uma capa de solo”, esclarece.
Queimadas em Mato Grosso
A doutora em ecologia, Christine Strussmann, também da UFMT, aponta que os incêndios no cerrado, em sua maioria, são causados pelo homem, seja de forma acidental ou proposital. Ela esclarece que os incêndios naturais acontecem no início da seca e em seu fim, devido aos raios de chuva em ambos os períodos que atingem árvores. O fogo, inclusive, tem pouca precipitação, sendo localizado em pequenas regiões e tem um dano pequeno em termos de morte de indivíduos. “Ele tende a ser muito menos danoso porque a vegetação [seca] não está em seu auge”, explica.
Nos últimos dois meses, o estado de Mato Grosso tem sido marcado por inúmeros focos de queimadas e incêndios. Cidades como Sapezal, Cáceres, Campo Novo do Parecis e Chapada dos Guimarães tiveram incêndios de grandes proporções.
Devido a quantidade de incêndios na região, a Prefeitura de Chapada decretou situação de emergência no dia 12 de setembro. O prejuízo com as despesas não previstas chega a mais de R$ 23 milhões e é estimado que 10 mil pessoas tenham sido afetadas.
Ainda no dia 10 de setembro, o governador Mauro Mendes (DEM) decretou situação de emergência para todo o estado de Mato Grosso. Não somente pelas queimadas, mas o decreto se deu também pela situação climática no estado que facilita com que o fogo se propague.
30 incêndios por dia
Segundo o último levantamento da Defesa Civil de Cuiabá, foram registrados em média 30 ocorrências de incêndios no município, totalizando 460, entre os dias 1º a 14 de agosto. Neste período, o bairro com o maior número de registros é o Parque Cuiabá, com 35, seguido por Jardim Vitória e Despraiado, ambos com 30.
Já entre janeiro e julho, o número atingiu 1065 ocorrências. O bairro que lidera o ranking, todavia, é o Jardim Vitória. O Parque Cuiabá e o Despraiado também lideram, com 56 e 45 casos, respectivamente.