Estudo desenvolvido em seis continentes revela que as emissões de gases de efeito estufa dos ambientes inundáveis foram significativamente subestimadas. Pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) integram o grupo que investiga as emissões de dióxido de carbono (CO2) em áreas alagáveis que secam periodicamente, como o Pantanal.
Os resultados foram publicados na Revista Nature Comunications, um dos veículos de comunicação com maior impacto para a ciência e pode ser acessado gratuitamente no link www.nature.com.
A pesquisa iniciou em 2013 na Catalunha (Espanha), coordenada pelo Dr. Matthias Koschorreck do Departamento de Pesquisas em Lagos, do Helmholt Centre for Environmental Research (Alemanha), e foi conduzida por Phillip Keller, doutorando do mesmo instituto.
A investigação reuniu vinte e quatro equipes de todos os continentes, exceto Antártica, em que os professores Ernandes Sobreira e Claumir Muniz da Unemat fizeram parte. Cada equipe investigou o fluxo de CO2 em regiões alagáveis por rios, lagos, reservatórios e/ou represas, fazendo um traçado desde a lâmina d’água até a área seca utilizando equipamentos sensíveis à leitura do CO2. O fluxo foi correlacionado com diversas variáveis, como umidade do solo, matéria orgânica, concentração de sal, temperatura e pH.
Dentre as variáveis analisadas, a temperatura do solo, sua umidade e concentração de matéria orgânica foram aquelas que melhor explicaram as emissões de CO2 para a atmosfera. “Isso acontece pela maior atividade do processo de respiração dos microorganismos ali presentes, favorecendo a liberação de CO2 para a atmosfera em locais mais úmidos e com grande concentração de matéria orgânica”, diz Phillip Keller.
“Os resultados demonstraram que as emissões nas áreas secas dos ambientes alagáveis representam, na verdade, uma proporção significativa das emissões totais de dióxido de carbono desses sistemas de água doce”, diz Koschorreck. “Se você levar isso em conta nos cálculos globais para águas interiores (rios, lagos, reservatórios e represas), as emissões de dióxido de carbono aumentam em 6%”, complementa.
Esses dados são extremamente importantes para a compreensão do fluxo biogeoquímico do Pantanal. “Este bioma possui uma dinâmica de inundação periódica e sua concentração de matéria orgânica é alta principalmente no período em que as águas começam a abaixar, o que provoca um grande aumento na liberação de CO2 para a atmosfera”, diz Ernandes Sobreira.
Ineditismo
Estudo como este, envolvendo o ambiente seco, além das águas, ainda não havia sido feito no Pantanal. “E agora percebemos a importância dessa investigação, principalmente no momento crucial que vivemos de mudanças climáticas e redução das massas d’água no Pantanal. É válido lembrar que o CO2 é um dos principais gases de efeito estufa e causadores do aquecimento global”, complementa Claumir Muniz. “A redução das massas d’água no Pantanal, caso se intensifique, acarretará no aumento das emissões de CO2 na atmosfera, e deve ser levado em consideração quando falamos de uso e manejo do Pantanal”, diz Ernandes Sobreira.
Os professores continuam as pesquisas em relação ao fluxo do dióxido de carbono em áreas alagáveis, e no momento desenvolvem pesquisa em conjunto com a Universidade de Radboud (Holanda) e Universidade de Québec (Canadá) que investiga as liberações de dióxido de carbono na região da bacia do Rio Branco. A intenção é ampliar a investigação para o Pantanal de Cáceres, envolvendo variáveis como a redução da massa d’água e o assoreamento.