Em um balanço sobre o ano agrícola, o presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (AMPA), Orcival Guimarães, projetou uma redução de 10% a 15% na área plantada de algodão em Mato Grosso para a safra 2025/26. Em entrevista, o também produtor e empresário atribuiu o recuo à conjugação de fatores climáticos e de mercado: o atraso das chuvas, que encurtou a janela de plantio, e os preços “muito ruins” praticados atualmente.
“Cada produtor faz sua conta. Aquele que não tem o algodão já vendido para a safra, e que não tem uma estrutura muito grande, como algodoeira e máquinas próprias, é hora de talvez não implantar. O momento está muito ruim para o algodão”, avaliou Guimarães.
Lucas do Rio Verde: do zero ao maior polo
Apesar do cenário estadual de retração, o dirigente destacou o protagonismo da região da BR-163, com Lucas do Rio Verde à frente. “Lucas foi a região que mais cresceu. Hoje é a maior área de algodão do Mato Grosso”, afirmou, relembrando a trajetória desde os primeiros 3 mil hectares plantados em 1997. “De 97, sair do zero e chegar a ser a maior região em termos de plantio é um orgulho para a gente, que é daqui”.
Diferença crucial: o ciclo longo e a logística
Guimarães ressaltou a principal diferença do algodão em relação a soja e milho: o ciclo longo de capital. “Você inicia o plantio em janeiro e termina de vender seu algodão lá para o meio de junho de 2027. Estamos falando de um ano e seis meses”, explicou. Essa extensão torna a logística um ponto crítico. Ele citou a duplicação da BR-163, que deve ser concluída em 2026, e o futuro porto seco de Primavera do Leste como avanços fundamentais, mas ainda insuficientes para escoar toda a produção da região norte do estado de forma competitiva.
Industrialização: visão de futuro, mas com cautela

Foto: CenarioMT
Questionado sobre a industrialização do algodão no estado, o presidente da AMPA foi otimista, porém realista. “No futuro vai acontecer”, disse, citando o exemplo bem-sucedido de Campo Verde. No entanto, defendeu que o processo seja liderado pela iniciativa privada, sem a entrada do poder público ou de associações no empreendimento.
“Com o juro a 15% ao ano, ninguém aguenta. Você vai emprestar dinheiro para fazer uma indústria com esse juro? Não é viável”, criticou, apontando os altos juros como um dos maiores entraves para investimentos e para a saúde financeira do produtor. “Combater a inflação a qualquer custo não é o caminho”, completou.
Mensagem de resiliência
Apesar do momento desafiador, Orcival Guimarães deixou uma mensagem de otimismo e resiliência ao setor. “Nunca devemos desanimar. O mundo inteiro precisa de alimento, e o Brasil é o grande produtor. Se passar um ano empatando, isso passa. Daqui a pouco vêm dias melhores”.
Ele finalizou desejando um Feliz Natal e Ano Novo, enfatizando a importância da saúde e lembrando que as crises são cíclicas na agricultura. “A gente, produtor, sabe que as crises vêm, que as vacas magras vêm. O crescimento, para mim, é para dar oportunidade para as pessoas, para a nossa equipe”.




















