O veranico registrado em janeiro já havia colocado a pulguinha atrás da orelha dos agricultores sorrisenses. Junto com a perda de produtividade, o receio que a água que não caiu em janeiro viesse, acumulada, no período da safra. E isso aconteceu. Mais que perdas financeiras, a água que jorra há 45 dias também vem afetando outros setores, colocando em risco o acesso à educação e à saúde.
A chuva que se intensificou no período da colheita inundou lavouras, avariou estradas, levou galeria de drenagem embora, torna arriscado o transporte de alunos e pacientes e traz ainda mais incertezas em um período já marcado pela perda de vidas e pela insegurança sanitária e financeira trazida pela Covid-19.
“Tem sido um período muito difícil e estamos somando esforços para amenizar a situação, formalizando em um documento que o acúmulo de mais de 800 milímetros nos últimos 45 dias trouxe danos à infraestrutura das estradas vicinais, assim como perdas severas à agricultura de modo geral, dificuldades para o transporte escolar e, o que é ainda mais grave, o transporte de pacientes dos municípios vizinhos para o Hospital Regional de Sorriso”, contextualiza o prefeito de Sorriso, Ari Lafin.
Já está difícil, por exemplo, que as hortaliças oriundas da Agricultura Familiar cheguem à mesa das famílias em situação de vulnerabilidade social que fazem parte do programa “Mesa Saudável”, e também ao prato dos alunos na merenda escolar.
A formalização da “Situação de Emergência” se deu hoje (11), por meio do decreto 482/2021, com base no material elaborado de maneira integrada por secretarias municipais, representantes do Sindicato Rural de Sorriso, e compilado pela Coordenação de Proteção e Defesa Civil (Compdec), que integra a Secretaria Municipal de Segurança Pública, Trânsito e Defesa Civil (Semsep).
O documento estima os prejuízos em cerca de R$ 1,5 bilhão para o setor privado e em R$ 850 mil para o setor público. O decreto não só torna menos burocrático o processo para recuperação da infraestrutura logística, por dispensar a necessidade de licitação para recuperar pontes, estradas e promover outras obras para restaurar os cenários afetados pelo aguaceiro, como também garante aos produtores a oportunidade de renegociar contratos e dívidas.
O secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente (Sama), Marcelo Lincoln, aponta que o descompasso climático evidenciado no documento traz ainda outra consequência: a quebra na safra de milho, visto que plantar a semente com muita água no solo impede que o cereal finque raízes profundas no solo. “Se vier um veranico mais pra frente, a planta não sobrevive”.
Além do solo encharcado, a janela do ciclo produtivo da planta também torna arriscado o plantio da segunda safra. O boletim do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) emitido no dia 5 já apontava um atraso de 30% em todo o Estado.
Para o representante do Sindicato Rural de Sorriso e delegado da Aprosoja, Tiago Stefanello, o documento representa um alento e uma importante ferramenta de negociação para os produtores. “É o momento de negociar, de dialogar e buscar uma forma de reduzir este impacto”.