O autor do homicídio qualificado da jovem Adriele da Silva Munis, que morreu há quase sete anos, em Cuiabá, com apenas 25 anos, foi condenado em tribunal do júri realizado na Capital a 18 anos de prisão. A Justiça permitiu que ele recorra da decisão em liberdade.
O inquérito conduzido pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá concluiu que o policial militar atirou contra o veiculo em que estavam Adriele, seu namorado e mais duas pessoas voltando de uma festa na madrugada de 18 de dezembro de 2016. Além do homicídio qualificado da jovem, o policial foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado contra as outras três pessoas.
Adriele foi atingida por um tiro nas costas, que perfurou o pulmão e o coração, quando estava em um veículo Palio voltando de uma festa no bairro Duque de Caxias. O veículo em que ela estava, descia pela Avenida Isaac Póvoas e antes de chegar à Avenida Tenente-coronel Duarte, o condutor colidiu na lateral dianteira de um Honda Fit e seguiu à frente do carro, cujo motorista fez três disparos contra o Pálio, antes de chegar ao cruzamento entre as duas vias. Um dos disparos atingiu Adriele, que caiu no colo do namorado. O motorista do Pálio correu em busca de socorro na Santa Casa, que não estava aberta e em seguida buscou o Pronto-Socorro de Cuiabá, onde a vítima morreu minutos depois de dar entrada na unidade.
Investigação
Após quatro anos de diligências para confirmar a identidade do veículo que era conduzido pela pessoa que realizou os disparos, cruzamento de informações, análise de inúmeras câmeras de segurança, depoimentos e laudos, a equipe do delegado Caio Fernando Albuquerque conseguiu fechar a linha de investigação e coletar provas que levaram ao autor dos disparos.
“O caso, por longos quatro anos, padeceu de suporte informativo a ponto de se alcançar a autoria. As imagens coletadas, ainda que descrevessem boa parte da dinâmica, não identificavam o veículo de onde partiu os disparos. Morreu uma jovem, de apenas 25 anos, com um tiro nas costas, quando apenas retornava a sua residência, após confraternização na casa de amigos, e sem dar causa, de qualquer modo, ao ocorrido. A angústia dos familiares, principalmente da mãe dela, persiste por todos esses anos”, explicou o presidente do inquérito.
Voltando de uma festa
Adriele e o namorado foram a uma festa no bairro Duque de Caxias, na noite de 17 para 18 de dezembro. Após o fim da confraternização, o casal foi embora com dois amigos, um deles o aniversariante.
Indícios e análise de câmeras, além de depoimentos coletados, apontaram que o veículo em que estava Adriele trafegava na Avenida Isaac Póvoas e no cruzamento com a Avenida Presidente Marques, houve a colisão do Pálio na lateral direita do Honda e uma discussão entre os ocupantes dos dois veículos e a partir desse ponto inicia-se a perseguição do Palio pelo Honda.
Os dois veículos passaram pelo cruzamento com a Rua Barão de Melgaço, ao lado da Praça Rachid Jaudy, quando então ocorreram os três disparos vindos do Honda Fit, que atingem o Palio na parte traseira e alveja Adriele nas costas.
Com a morte de Adriele no Pronto-socorro de Cuiabá, a DHPP iniciou a investigação do homicídio e começou as diligências para reunir informações que pudessem chegar ao autor dos disparos. Diante das primeiras informações coletadas, além de depoimentos iniciais dos ocupantes do Pálio, a equipe de investigação traçou uma linha que chegou a um possível suspeito, que depois não se confirmou.
Negativa em depoimento
Em 2019, a DHPP voltou a realizar novas diligências cruzando informações de todos os veículos que passaram no horário próximo e pelo mesmo trecho onde os dois carros envolvidos transitaram. Além disso, a equipe de investigação coletou dados e imagens em uma boate na Avenida Isaac Póvoas de frequentadores que portavam armas de fogo na data do crime. E as informações da análise de balística para chegar ao tipo de arma compatível com a munição encontrada no corpo de Adriele (calibre .40), compatível com pistola da marca Imbel, levaram a Polícia Civil a uma pessoa que esteve na boate na madrugada em que ocorreu o crime, portando uma arma de fogo, que posteriormente, após outras diligências, foi constatado que o registro estava em nome da Polícia Militar do Estado.
Com a localização da pistola, a Polícia Civil requisitou exame de confronto balístico à Politec, que constatou que a munição que atingiu Adriele foi disparada da arma em questão. A partir dessa informação, chegou-se ao nome da pessoa que estava com a arma acautelada.
Em um primeiro depoimento na DHPP, o investigado negou qualquer das informações apuradas nas investigações que o colocavam na boate, portando uma arma de fogo compatível com a que fez o disparo que matou Adriele, assim como das provas periciais e no deslocamento do veículo no trajeto feito pelo Pálio em que estavam as vítimas.
Dias depois após o primeiro depoimento, o investigado, diante das informações que lhe foram apresentadas, solicitou um novo interrogatório, onde confessou a autoria dos disparos, mas alegou que agiu em legítima defesa. Ele declarou que atirou contra o carro onde estava Adriele porque sofreu uma tentativa de assalto. Contudo, as provas coletadas comprovam que em momento algum as vítimas esboçaram qualquer ato que pusesse em perigo de vida o casal que estava no Honda Fit (investigado e sua namorada), assim como os ocupantes do Pálio não desceram do veículo durante o trajeto apurado.
“O Fiat/Palio sempre esteve à frente do Honda/Fit, ou seja, não tinha condições, sequer, lógicas de estar na perseguição de alguém e nenhum ocupante do Palio efetuou qualquer disparo de arma de fogo, informações confirmadas pelas testemunhas que se encontravam com o investigado, e por ele próprio”, explicou o delegado.
Pessoas que estavam com o investigado na noite em que esteve na boate e depois saíram junto com ele, em veículo separado, mas acompanhando o mesmo trajeto, também foram ouvidas e as informações dementem a declaração do autor dos disparos.
As investigações apontaram ainda indícios de que após a colisão de trânsito e discussão, o indiciado seguiu no encalço do veículo em que as vítimas estavam, até que tivesse condições para fazer os disparos certeiros, o que indica a intenção de matar.