A Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Cuiabá investiga um segundo caso envolvendo o estudante de medicina de 23 anos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), acusado de estuprar e dopar uma jovem de 18 em um motel. Neste segundo caso, ele foi denunciado por importunação sexual. O crime teria ocorrido no dia 19 de outubro do ano passado. A jovem se sentiu encorajada a denunciar após ouvir o relato da primeira vítima.
O episódio teria acontecido no dia 19 de outubro do ano passado. Ambos teriam se conhecido através do Instagram e conversado por aproximadamente um mês, até que resolveram se encontrar. O combinado seria que o estudante pegaria a jovem em uma residência para irem a uma sorveteria no bairro Jardim das Américas.
Por volta das 16 horas, o rapaz chegou no local e ao entrar no carro, a vítima notou que o universitário estaria com um comportamento estranho, agitado e ficava o tempo todo passando a mão em suas pernas. Na ocasião, o acusado chegou a tocar suas partes íntimas e teve a mão tirada e foi repreendido pela vítima.
O universitário então teria debochado da situação e dito que ela seria “bem chatinha”. Ambos chegaram a sorveteria, contudo, o rapaz continuava bastante agitado e ansioso. Os dois ficaram aproximadamente 30 minutos no local e a garota foi levada embora. No caminho, entretanto, ele avançou novamente sobre a vítima, mas desta vez com uso de força.
Novamente, a jovem disse para o rapaz parar e ele teria sugerido que eles fossem a “outro local”. A vítima então disse que queria apenas ir para casa, e foi levada. Logo depois, excluiu o rapaz de todas suas redes sociais. Na época, não registrou boletim de ocorrência contra ele por achar que seria um fato isolado e que ele seria uma pessoa “sem noção”. Porém, ao ver a denúncia de uma jovem de 18 anos, através do Twitter, se sentiu encorajada a relatar o que havia sofrido.
Primeira denúncia
Em entrevista, a jovem relatou que conversava com o universitário há algum tempo. Contudo, após uma briga com a mãe, ela saiu de casa por um período e o rapaz se mostrou preocupado. “Eu sai de casa em um surto e parei em um lugar para carregar meu celular, ele disse que iria me buscar. Me buscou, eu entrei no carro, ele me deu um remédio falando que era para eu me acalmar, eu estava chorando, ele falava que eu ia ficar mais calma com o remédio”, conta.
“Eu falei que ia tomar quando chegasse na casa da minha amiga, ele falou para eu tomar, que o efeito demorava para passar. Eu tomei e não demorou nada, eu comecei a ficar bem grogue, estava indo para a casa de uma amiga, que tinha dito pra eu ir dormir lá. No meio do caminho ele mudou a rota, me levou para um motel e aconteceu”, relata.
Com o celular descarregado, a jovem pegou o aparelho do rapaz para tentar falar com a amiga, que iria dormir em sua residência, através do Instagram. Entretanto, o suspeito teria pego o aparelho e silenciado a conversa para ela não ver as notificações. “Só ele mandava as mensagens. Ele mandou ‘nudes’ e minha amiga me bloqueou”.
Como a amiga havia bloqueado a jovem, o estudante de medicina levou ela para casa de um amigo, onde ela dormiu. “No outro dia eu acordei e achei uma camisinha e maconha dentro de mim, fui para o hospital, fiz exames, mas nem fui buscar, porque eu demorei muito para entender o que tinha acontecido comigo. Eu só fui ter coragem de expor agora, mas eu venho sofrendo com isso desde que aconteceu”, disse a jovem emocionada.
Depois do ocorrido, ela teria contado ao rapaz o que teria acontecido e eles cortaram o contato. “Depois disso, ele continuou me mandando mensagens, contei o que tinha acontecido. A gente cortou o contato. Teve gente que falou que já viu ele fazendo isso em festa, que ele é meio estranho. Já teve caso de uma pessoa, que não quer ser identificada, que ele já bateu nela”, acrescenta.
“É difícil falar sobre o que aconteceu, mas falando a gente deixa se sentir tão impotente, foi importante falar para me livrar disso e para ajudar outras pessoas. Eu tenho certeza que não fui a primeira e provavelmente não serei a última. Expondo isso eu tenho chance de mostrar para outras mulheres”, assevera.
A jovem registrou um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher de Cuiabá.
Acusado nega
Na tarde desta quarta-feira (5), após repercussão a denúncia do estupro, o estudante registrou um boletim de ocorrências por calúnia e ameaça. Ele nega o crime e afirma que diversas pessoas começaram a ameaçar ele e seus familiares. O universitário relatou que começou a receber mensagens de uma amiga da faculdade, perguntando se ele tinha ciência da denúncia que estava sendo feita contra ele no Twitter. O rapaz disse que não, pois não tem conta nesta rede social.
Logo depois, o estudante relata ter recebido ataques no seu Instagram, que acabou desativado por segurança, além de ter dados pessoais expostos no Twitter. Em seguida, ele também recebeu ameaças por WhatsApp e também ligação. O acusado ainda relata que ficou sabendo através de amigos que os contatos de sua mãe e do consultório do pai foram expostos, na tentativa de que se fizessem ataques contra sua família.
Sobre as acusações, o universitário conta que conheceu a garota através do Tinder, próximo ao fim de 2018 e que ambos só se encontraram pessoalmente em dezembro do ano passado. Os dois, na versão do rapaz, então teriam combinado de se encontrar e ele foi buscá-la no bairro Jardim Universitário.
O homem narra ainda que os dois seguiram para um motel, onde tudo teria ocorrido normalmente. Na sequência, ele teria levado-a até a casa de um amigo, no bairro Jardim das Américas. Após vê-la entrar no edifício, o estudante afirma que deixou o local.
O universitário acrescenta também que esta foi a última fez que os dois se encontraram e que apenas trocaram algumas mensagens pelo celular. No fim de 2019, ambos pararam de se seguir no Instagram e cessaram os contatos. O estudante de medicina ainda frisou que as acusações feitas pela jovem nas redes sociais são mentira e não condizem com a realidade.
Pode ser excluído da UFMT
Em nota, a UFMT e a Faculdade de Medicina (FM) afirmam que estão acompanhando o caso e aguardam as investigações. “De acordo com o regimento de disciplina do corpo discente da UFMT, a prática de atos incompatíveis com a vida universitária e a condenação criminal definitiva por crime incompatível com a vida universitária são hipóteses passíveis de exclusão da Instituição”.
Ainda na quarta-feira, a União Estadual dos Estudantes de Mato Grosso (UEE-MT) também se manifestou, repudiou o estupro e reforçou que a culpa nunca é da vítima. A UEE afirma que comunicou a universidade sobre o caso e que repudia “qualquer ato que reverbere o machismo estrutural na sociedade em que vivemos”.