Entre 2002 e 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso aumentou, em média, 5,42% ao ano, crescimento que se torna ainda mais surpreendente considerando que a média brasileira foi de 1,96% ao ano no mesmo período.
Este crescimento se traduz no fortalecimento e na expansão de empresas do estado, que passam a ter mais presença no mercado nacional e internacional e, desta forma, passam a ser influenciadas por agendas mais amplas, como a de ESG, sigla em inglês que denota um esforço em prol de pautas ambientais (environment), sociais e de governança por parte das instituições públicas e privadas.
Entretanto, a aplicação efetiva da agenda ESG, visando os benefícios sociais e econômicos que são preconizados para os envolvidos, não é simples. Depende de planejamento, adequações e, principalmente, de um entendimento claro do que são ações de ESG em cada contexto.
Por isso, pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) estão conduzindo um projeto de pesquisa, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa em Mato Grosso (Fapemat), que busca compreender as noções de diversidade e equidade em empresas de Mato Grosso comprometidas com a pauta ESG e favorecer o desenvolvimento de tecnologias sociais para disseminação destes conceitos.
“Mato Grosso é um estado com uma grande diversidade etnico racial, com pessoas com deficiência, pessoas diversas do ponto de vista de identidades de gênero e orientação sexual, então é fundamental que aqui também sejam feitas as discussões sobre ESG, como nos grandes centros, de maneira que elas tenham impacto em um ambiente laboral mais justo”, afirmou a coordenadora da pesquisa, professora Bruna Andrade Irineu.
Mas antes, o que é ESG?
O termo ESG surge para o mundo em 2004, a partir da publicação do relatório “Who cares wins” (quem se importa, ganha) da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com 20 instituições financeiras de alcance global.
A ideia expressa no documento é que “em um mundo mais globalizado, interconectado e competitivo” a gestão adequada dos temas de meio-ambiente, sociais e de governança corporativa são importantes para o sucesso de uma organização, pois contribuem para um mercado de investimentos mais resiliente e para o desenvolvimento sustentável das sociedades.
Desde então, de acordo com a pesquisadora Elizabeth Pollman, da Universidade da Pennsylvania, a ESG se tornou “uma das mais notáveis tendências na governança, gestão e investimento de corporações das últimas duas décadas”.
Entretanto, para a professora Bruna, existe um desequilíbrio entre as três frentes de ESG, sendo a questão ambiental muito mais difundida e consolidada, inclusive em Mato Grosso.
“As partes do Social e de Governança têm um certo delay em relação às ações do campo ambiental, pois estas estão mais consolidadas com os organismos internacionais, com acordos contra as mudanças climáticas, os créditos de carbono e outras políticas do tipo”, explica.
“Enquanto isso, a discussão do Social está muito pautada na questão de Diversidade e Inclusão nas empresas – foco da nossa pesquisa. Entretanto, acreditamos que isso ainda seja feito pela metade: Sem atingir os altos escalões, com contratos de trabalho mais frágeis e menos estabilidade para o trabalhador. Essas características denotam uma estratégia social ruim”.
Diversidade e Inclusão
Publicado no início de maio, a edição de 2023 do Gender Social Norms Index do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP) traz dados alarmantes sobre a discriminação contra mulher no mundo e no Brasil. De acordo com o documento, quase 40% dos brasileiros têm um viés negativo em relação às mulheres no aspecto político e no aspecto econômico.
Esse viés no “aspecto político” engloba tanto mulheres não precisarem dos mesmos direitos que homens, quanto a ideia de que homens seriam melhores líderes políticos que mulheres. Já o “aspecto econômico” está ligado à ideia de homens trabalharem melhor ou serem melhores executivos.
“Em uma pesquisa recente também foi observado que mais de 60% dos empregadores não contrataria uma pessoa LGBTQIA+. Somado a isso, ainda há questões de igualdade racial, de corpo normatividade, de preconceito com pessoas com deficiência e ainda outros temas”.
Esses dados, de acordo com a professora Bruna, têm motivado discussões mais amplas sobre diversidade de inclusão, tanto em empresas, quanto em organismos internacionais como a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Na medida em que estratégias neoliberais vão impactando o mundo de trabalho, vemos uma redução dos espaços de trabalho ‘decente’. Essas estratégias de ESG, dependendo de como são implementadas, podem ser uma tentativa de mitigar o atual cenário de precarização”, afirma a pesquisadora.
“Mato Grosso precisa se incorporar a essa agenda para além da questão ambiental, com discussões sobre a empregabilidade LGBTQIAP+, sobre racismo no ambiente de trabalho e outras, que precisam ter aqui a mesma força que têm em outras regiões”, reforça.
A pesquisa ainda está em suas fases iniciais. A princípio, para alcançar o objetivo proposto de compreender as noções de diversidade e equidade em empresas de Mato Grosso, os pesquisadores vão analisar as redes sociais e canais de comunicação de empresas comprometidas com a agenda ESG.
Além disso, como a pesquisa também possui uma dimensão nacional, serão analisados os relatórios anuais de ESG e serão feitas entrevistas em profundidade com os trabalhadores e gestores que atuam com diversidade e inclusão em grandes corporações internacionais.
As pesquisadoras consideram ainda que o projeto atuará na consolidação de redes de pesquisa, no fomento a espaços de formação em ESG para empresas mato-grossenses e na divulgação científica implicada com a popularização da ciência.