Pesquisa aponta viabilidade econômica para ônibus elétricos

Retorno do investimento e melhoria na qualidade de vida, mostra pesquisa

Fonte: CenárioMT com Assessoria

Mato Grosso está entre os estados com melhor qualidade de vida no Brasil, mostra pesquisa IPS
Mato Grosso está entre os estados com melhor qualidade de vida no Brasil, mostra pesquisa IPS Fotos aéreas de Cuiabá - Foto por: Mayke Toscano/Secom-MT

Se com uma única decisão, a sua cidade pudesse investir em sustentabilidade, saúde e conforto no curto prazo e economia de recursos no longo prazo, você aceitaria? Se sim, uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) pode ser o caminho, pois analisou a viabilidade técnica e econômica para a implantação de ônibus elétricos em Cuiabá e concluiu que não só é possível, como pode ter um retorno do investimento em menos de 8 anos.

Realizada pela estudante de Engenharia Elétrica (agora formada), Brenda Montes Cardoso Farah, como trabalho de conclusão de curso oriundo de um projeto de pesquisa da qual fez parte durante a graduação, a pesquisa contou com um levantamento de dados sobre a frota e linhas que serão utilizadas no BRT (Bus Rapid Transit) após sua conclusão; especificações e dimensionamento das capacidades dos modelos elétricos já utilizados em outras cidades; demandas de infraestrutura necessárias para a nova frota; e, principalmente, comparação de custos em relação ao uso dos atuais ônibus à Diesel.

De acordo com Brenda, o que motivou sua pesquisa foi a importância da mobilidade elétrica urbana atualmente, principalmente no contexto de mudanças climáticas e da urgência na redução de emissões de gases do efeito estufa.

“Falando também do ponto de vista de uma usuária de transporte público diariamente, ter a opção de usufruir de uma tecnologia superior durante o trajeto, com menos poluição, menos barulho e modelos mais modernos, é algo que afeta a nossa qualidade de vida”, completou.

O artigo deixa claro que o investimento em ônibus elétricos não é barato. Em seu levantamento, Brenda viu que a aquisição de um modelo articulado a diesel custaria aproximadamente R$1,8 milhões de reais (Volvo 21m), menos da metade se comparado com o custo de um modelo elétrico (BYD D11A 23m) e da infraestrutura de recarga necessária para o mesmo, R$3,42 milhões e R$250 mil, respectivamente.

Entretanto, a longo prazo, a história é outra. A redução de custos com combustível fóssil, comparado com os gastos em energia elétrica, é tamanha, que o retorno do investimento pôde ser estimado em 7 anos.

“Os resultados indicam que em 4 das 5 linhas do BRT, os ônibus poderiam atender o número de viagens diárias sem a necessidade de recarga durante o dia, permitindo aproveitar o custo da energia mais baixo e totalizando um gasto de R$350 mil por mês para uma frota de 50 ônibus. A mesma frota, de Diesel, por outro lado, teria um custo de quase R$1,5 milhões para realizar o mesmo trabalho”, apontou.

E a pesquisa ainda considerou o aumento do custo da energia elétrica ao longo do dia, demonstrando que mesmo nas piores condições de carregamento (duas cargas de 6h por dia, sendo metade com o valor mais alto da tarifa), ainda seria possível ver uma economia mensal superior à de R$500 mil com a mudança, conforme o gráfico abaixo.

grafico ufmt
Divulgação

Isso sem contar a possibilidade de ampliar a economia com a incorporação de placas fotovoltaicas no carregamento da frota, removendo mais de 60% dos custos com energia elétrica no processo.

Ainda assim, a pesquisadora alerta para a necessidade de outras adaptações cujos custos não foram contabilizados. “Esses ônibus precisam de uma garagem maior, devido à infraestrutura de recarga. Também de mão de obra especializada, tanto para a manutenção quanto para a operação, uma vez que não se dirige um ônibus elétrico da mesma maneira que um convencional. E, ainda, seria necessário um estudo da rede de distribuição de energia no local destinado à garagem, com a possibilidade de implantação de uma subestação ou da substituição do transformador, devido ao aumento de demanda de energia elétrica no local”, completou.

Mas a questão vai bem além do dinheiro.

“Existem tantos esforços sendo tomados por países afora para redução de emissão de CO2 e o Brasil segue atrasado, com recordes de temperatura sendo quebrados por cada onda de calor que passa”.

De acordo com Brenda, a substituição de cada ônibus do BRT a diesel pelo elétrico significa uma redução de quase 8 mil toneladas de CO2 por ano, totalizando em quase 400 mil toneladas do gás que deixariam de ser emitidas na atmosfera pela frota.

“Não é um ônibus que vai salvar o mundo, mas é um ônibus que pode ser o pontapé inicial, que pode inserir este tópico em discussão nos municípios, nas cidades, que pode incentivar a população na adoção deste tipo de tecnologia, e que possamos cada vez mais caminhar para opções que ajudem a mitigar a catástrofe climática”, concluiu.

Brenda Farah é formada pela UFMT em Engenharia Elétrica; a pesquisa foi financiada pela FAPEMAT no edital nº. 05/2022 Mulheres e meninas na computação, engenharias, ciências exatas e da terra(FAPEMAT.0000428/2022), a qual também foi premiada no Congresso Nacional sobre Mobilidade Elétrica (C-MOVE 2023) em Brasília, junto das colegas Amanda Perussi e Bianca Inocência, e desenvolveu o trabalho sob supervisão da professora Camila Fantin e do professor Jackson Bonaldo. Atualmente Brenda compõe a equipe de engenharia da empresa CCR Montagens Industriais em Cuiabá-MT.

Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso.