Faz vinte e três anos que o equatoriano Elmer Perez, hoje aos 43, saiu de sua cidade natal, no Equador, sem destino certo. A única certeza era de que queria matar sua curiosidade e conhecer o mundo. Há cerca de dez dias, ele chegou a Cuiabá, mais um de seus muitos destinos, e desde então se mantém com o dinheiro que ganha no semáforo da Praça Oito de Abril. Escultor, ele criou um cavalo somente com madeira e tinta em spray, e pretende deixar esse presente para a cidade quando for embora, na próxima segunda-feira (18).
“Me interessa olhar uma coisa diferente. Eu estudo o lado espiritual e psicológico da pessoa. Só olhando, observando e conversando com ela”. Esta é a explicação de Elemer para sua inquietude. Em seu ‘currículo’ de locais visitados, estão quase todos os estados do Brasil – país que ele cruzou por dez anos, de bicicleta – além de Paraguai, Uruguai, Venezuela, Colômbia, onde ficou em Cartagena por um ano, Santa Marta, e a fronteira com o Panamá, onde ficou por cinco meses. “Era uma investigação minha. Porque lá todos os caras são das FARC, mas ninguém diz. Mas eu ficava fazendo minhas observações”. Com as FARC, inclusive, ele teve contato quando adentrou a mata onde as forças revolucionárias se escondem.
“Fiquei 35 dias na mata onde ficam as FARC na Colômbia. Eu entrei nesse mato de curioso. Eu escutava eles caminhando em grupo em outra montanha. Se vinham na minha direção, eu escutava e saía andando para outro lado”, lembra. Foi esta uma das únicas vezes em que ele quase se perdeu. Apesar disso, não usa mapa ou bússola. “Uso só meu instinto. Já fui para o México, entrei sem passaporte nos Estados Unidos, voltei (…) Quando um mochileiro que tem mais de quinze anos, encontra outro mochileiro que tem mais de trinta anos, e ele te ensina o caminho. Foi assim”.
Em Mato Grosso, Elmer já chegou há algum tempo e, inclusive, veio andando de Cáceres até Cuiabá, por 140km. No Carnaval, comprou uma bicicleta por dez reais e subiu para Chapada dos Guimarães, mas no meio do caminho, ela quebrou e ele ficou a pé. Agora, tenta juntar dinheiro para ir para São Paulo, e precisa dormir na praça. “Aqui em Cuiabá não dá pra pagar hotel, estou dormindo na rua. No sinaleiro só dá pra ganhar 25 reais, e custa 30 reais a pensão. Como faz?”, questiona. Segundo o escultor, em cidades turísticas é muito mais fácil se manter com arte.
Depois de São Paulo, Elmer pretende criar raízes em alguma ilha. “Estou ficando velho”, lamenta. “Quero criar raízes em uma ilha. Ficar conhecido, trabalhar em madeira, pelo menos por dois anos. Juntar dinheiro, depois ir para Miami. Eu já tive oportunidade de ir para Miami, e não quis porque queria viajar mais. Agora quero criar raízes”. Qual ilha, no entanto, ele não sabe. E nem pretende saber por enquanto. “Vou pensar no caminho, eu nunca penso, nunca planejo. Só vou indo”.