Famílias que vivem nas 14 aldeias da Terra Indígena de Maraiwatsédé, em Mato Grosso, têm garantido a alimentação de crianças e medicamentos, principalmente para idosos e diabéticos, através de parcerias para arrendamento de pasto. Os caciques e cacicas Xavante se reuniram e fizeram um novo apelo para que a situação seja regularizada e se evitem tragédias como a crise humanitária vivenciada pelos Yanomami, em Roraima.
Atualmente quase dois mil indígenas vivem nas aldeias espalhadas pelos 165 mil hectares de terra, localizada entre os municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, a 1.143 km de Cuiabá. Servidores que atuam no posto de saúde da Ti Maraiwatsédé confirmam que medicamentos e consultas médicas são custeados pelos próprios indígenas, através dos recursos da parceria.
“Os indígenas que compram a sua medicação, correm atrás de pagar um médico para consulta, os indígenas pagam exames laboratoriais. Deve ter mais de oito meses que não recebemos medicação de verminose para as aldeias, porque eles compram quando nós pedimos. Os caciques e as lideranças compram medicações e pagam médicos particulares. Tudo particular com o dinheiro que eles recebem do pasto”, explicou uma servidora que pediu para não se identificar, por medo de perseguição.
Dificuldades
A falta de medicamentos para atender as aldeias já se arrasta há mais de oito meses. Em casos mais graves, os próprios indígenas abastecem os veículos oficiais utilizados pelos servidores da saúde para visitar os pacientes em aldeias. Uma das preocupações de quem atende a região da TI Maraiwatsédé é de que se acabar a parceria dos indígenas para o uso do pasto a realidade será outra, um cenário de desnutrição e morte.
“O descaso é muito grande. Estamos trabalhando com uma viatura para 14 aldeias. E tem mais indígenas vindo morar nas aldeias de Maraiwatsédé, porque eles tem recursos pra comer, porque eles recebem da parceria”, contou a servidora.
A TI de Maraiwatsédé faz parte das aldeias que integram o Distrito Sanitário Especial Indígena Xavante – DSEI Xavante, localizado em Barra do Garças. “Sabemos que há quatro anos estamos em dificuldade. Esse dinheiro da parceria compramos medicação. Nós pagamos consulta com dinheiro dos parceiros. Sustentamos”, afirmou o cacique Damião Paridzané.
Desde 2018, caciques pedem que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF) viabilizem um termo de ajustamento de conduta que permita a atividade de parceria para o uso do pasto.
Em janeiro, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou dois inquéritos civis para investigar o alto índice de internações decorrentes do cenário de desnutrição infantil de indígenas nas regiões atendidas pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Xavante – DSEI Xavante e da Coordenação Regional Xavante – CR Xavante.