Oito aldeias indígenas de Mato Grosso entram no circuito nacional de turismo

Fonte: da Redação

Indio de mato Grosso
- Foto por: Junior Silgueiro/Gcom-MT

Oito aldeias de Mato Grosso, localizadas no município de Campo Novo do Parecis (a 401 km de Cuiabá) passam a ofertar ao mercado regional, nacional e internacional produtos de eco e etnoturismo devidamente formatados para valorizar a cultura indígena, seguindo todos as normas de segurança da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

As aldeias Haliti-Paresi são Wazare, Salto da Mulher, Salto Belo, Utiariti, Quatro Cachoeiras, Ponte da Pedra, Rio Sacre e Cachoeira Azul, todas numa região cortada por inúmeros leitos d’água e cachoeiras de tirar o fôlego.

Elas participam do projeto Desenvolvimento do Eco e Etnoturismo em MT, desenvolvido pelo Serviço de Apoio às Micro e pequenas empresas em Mato Grosso (Sebrae MT) desde agosto de 2021 e cujos resultados já estão se consolidando. O projeto é uma das ações do programa Cidade Empreendedora e Sustentável.

Foram formatados novos produtos, incluindo 13 vivências diferentes nas aldeias, como recepção com dança e cântico, passeio pela aldeia, visita à casa tradicional, roda de conversa, trilhas temáticas, contemplação ancorada, banho de rio. Seis aldeias oferecem alimentação e uma delas possibilita ao turista vivenciar um casamento típico.

Para alcançar tais resultados foi necessário fazer melhorias nas operações turísticas, classificação das trilhas de acordo com as normas da ABNT, implantação de equipamentos de segurança, desenvolver plano operacional padrão e plano de atendimento emergencial, trabalhar o reposicionamento da circulação de pessoas, desenvolver políticas de negócio, treinamento dos condutores, técnica para salvamento aquático, boas práticas de manipulação de alimentos, desenvolvimento de políticas de negócio e incorporação de uma linguagem comercial visando formatação de preços e melhoria das vantagens competitivas e regras de negociação dos serviços oferecidos ao turista. Foram feitos planos personalizado para cada aldeia, de acordo com as características e necessidades específicas.

A analista técnica do Sebrae Regional Tangará da Serra, Silvia Fraga, que acompanha o projeto, destaca que o objetivo é a profissionalização do turismo nas aldeias para incluir o município e região no mapa do turismo nacional e internacional.

O trabalho contempla ainda a elaboração do plano de comunicação e a marca do destino está sendo desenvolvida.

Tatiana Fernandez, consultora contratada para o projeto, ressalta que o tíquete médio passou de R$ 35,00 para R$ 250,00 na medida em que deixaram de ser simples locais de balneário para proporcionar uma real experiência étnica com resgate de aspectos importantes da cultura, como trajes típicos, pintura corporal, oferta de alimentação, e comercialização de artesanato, tradição que estava sendo relegada.

“O Brasil tem que ver que é possível fazer, que o indígena quer melhorar e que tem condições de atuar como protagonista e de vender seus produtos turísticos”, relata Tatiana.

O cacique Ivo Zokenazonkemae, da aldeia Rio Sacre, destaca que o projeto trabalha os aspectos social, ambiental, cultural, econômico e político.

“É um meio de romper paradigmas, temos que acabar com aquela imagem do índio pobre coitado, o indígena tem capacidade de fazer a diferença”.

O Cleiton Terena reforça que existe uma consciência de que precisam melhorar a atividade de turismo nas aldeias.

“Se a gente parar no tempo, não vamos conseguir nos posicionar e a concorrência nos passa. É preciso estar sempre em processo de crescimento, evoluindo”.

O cacique Rony Wazare, primeira aldeia e única a ter plano de autorização da Funai para visitação, lembra que esse é um processo de longo prazo que se estende até 2029 e reforça ainda que já avançaram muito.

Rodada de negócios

A 1ª Rodada Nacional de Negócios de Etnoturismo reuniu as oito aldeias Haliti Paresi como ofertantes de seus produtos e 10 operadoras de turismo estaduais. Participaram ainda representantes de meios de hospedagem e de serviços de alimentação da cidade de Campo Novo do Parecis, que funciona como ponto de apoio aos turistas.

Os roteiros nas aldeias são, na maior parte dos casos, de um dia, de 08h às 18h, com exceção da aldeia Wazari que oferece uma opção de 2 dias com pernoite e a experiência de um casamento tradicional.

Duas operadoras de turismo, Interativa Pantanal e Vila Guimarães, já fecharam reservas para o destino.

A rodada de negócios e o famtur para os operadores foram organizados com apoio da prefeitura de Campo Novo do Parecis, da cooperativa indígena e Associação Comercial e Câmara de Dirigentes Lojista da cidade.

O propósito da rodada foi apresentar às operadoras, ambientes turísticos das oito aldeias com conteúdo étnico indígena organizado em vivências para turistas e belezas naturais preservadas para atividades de ecoturismo. As aldeias puderam apresentar os produtos turísticos criados, os ajustes para uma operação segura de atividades na natureza e política de negócios, preços e regras competitivas capazes de contribuir no seu catálogo de destinos e roteiros exclusivos.

Estrutura do município

Campo Novo do Parecis possui uma rede de hospedagem composta por 10 hotéis que somam 1.397 apartamentos, que atendem as demandas do etnoturismo e de eventos de pequeno e médio porte voltados para o agronegócio.

O município conta ainda com um aeroporto regional.

Gustavo Praiado é jornalista com foco em notícias de agricultura. Com uma sólida formação acadêmica e vasta experiência no setor, Gustavo se destaca na cobertura de temas relacionados ao agronegócio, desde insumos até tendências e desafios do setor. Atualmente, ele contribui com análises e reportagens detalhadas sobre o mercado agrícola, oferecendo informações relevantes para produtores, investidores e demais profissionais da área.