No século XIX Cuiabá enfrentou duas epidemias que contribuíram para as medidas que o governo está tomando com a pandemia de Covid-19. Em 1867, houve uma epidemia de varíola que matou mais de 4 mil pessoas. Na época, a população era em torno de 20 mil habitantes. Em 1887, chegou a epidemia de cólera que alertou os cuiabanos sobre os cuidados básicos de higiene.
A varíola foi trazida por soldados que lutaram na Guerra do Paraguai. Eles saíram de Cuiabá para libertar a cidade de Corumbá – hoje cidade que fica em Mato Grosso do Sul – e à época dominada pelos inimigos.
A maioria dos paraguaios foram abatidos pelos brasileiros e os poucos que sobraram foram feitos prisioneiros de guerra, mas já estavam contaminados com a doença.
Depois de muitos dias de viagem voltando pelos rios Paraguai e Cuiabá, os combatentes trouxeram um inimigo invisível. Os soldados foram internados na Santa Casa de Misericórdia. O médico que estava de plantão não conseguiu diagnosticar os pacientes e por não saber que se tratava de varíola, não os isolou. Quando descobriu, a doença já havia se espalhado por Cuiabá e outras localidades de Mato Grosso.
Else Cavalcanti é historiadora e escreveu o livro Imagens de uma epidemia que retrata esses fatos. Ela conta as medidas que o governo tomou na época, como a criação de valas comuns, que estão sendo feitas em Manaus para sepultar os mortos de Covid-19, além da criação de um novo cemitério para a capital.
“Diante dessa situação, o poder público proibiu enterros no cemitério da Piedade e construiu o cemitério Nossa Senhora do Carmo, que o cuiabano, na época, apelidou de cemitério do Cai Cai. No Cai Cai, as vítimas não eram enterradas em covas, mas sim, em valas comuns. Para a população cuiabana, a doença era uma punição de Deus”, afirma.
Em 1887 surgiu a epidemia de cólera. Numa situação diferente, depois da experiência com a varíola, a população foi orientada a tomar mais cuidados com a higiene, além do isolamento das vítimas da doença e a quarentena para a população.
“O governo determinou também que os navios que chegavam no porto de Corumbá e no porto de Cuiabá, que era um dos maiores portos do século XIX, que ficassem em quarentena se houvesse um doente a bordo. Se tivesse alguma vítima, a população não podia descer e a mercadoria não podia ser descarregada. Com relação a cólera, o estado criou o Código de Postura, promulgado em 1881”, afirma a historiadora.
O secretário de Saúde de Mato Grosso, Gilberto Figueiredo, conta que esse período de pandemia do novo coronavírus é o momento em que o governo deve investir em infraestrutura na área da saúde.
“Essa é a oportunidade que nós temos para melhorar a infraestrutura física das nossas instalações hospitalares. Fazer a aquisição de equipamentos que são sonhados por todos os profissionais que trabalham no sistema púbico de saúde e que sabem da necessidade disso”, afirma.