Mato Grosso possui 161.238 empreendedoras, segundo o estudo do Sebrae, “Empreendedorismo Feminino no Brasil”, que traz o perfil das empresárias brasileiras até o terceiro bimestre de 2020, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). No Estado elas estão no comando de 31% das empresas e 58% delas tem menos de 44 anos de idade.
O principal setor escolhido pelas empreendedoras em Mato Grosso é o de serviço com 46%. Dentro deste setor 29% escolheram o comércio, 27% o alojamento e alimentação, 13% a agropecuária, 12% a indústria e 0,5% a construção.
“Os números mostram que o empreendedorismo feminino é significativo. As mulheres estão avançando cada vez mais no mundo empresarial, ocupando cargos de liderança nos negócios. Nós vemos pela grande participação delas nos eventos e cursos. Sempre com uma característica de garra, de superação e inovação. E nós, enquanto Sebrae, continuaremos firmes na missão de disseminar o empreendedorismo como alternativa de renda e realização pessoal e profissional, incentivando que mais mulheres invistam em pequenos negócios”, afirma a diretora técnica do Sebrae, Eliane Chaves.
Além de gerenciar o próprio negócio, 52 % das empresárias mato-grossenses também são chefes de domicílio. Mesmo com o desafio de lidar com várias tarefas no dia a dia, 51% delas dedicam mais de 40 horas por semana ao negócio. No Estado, 14% delas são empregadoras e 54% possuem entre 1 a 5 funcionários.
Um dos maiores desafios das mulheres empreendedoras é gerenciar os negócios com as tarefas diárias de casa. “Culturalmente ainda persistem a responsabilidade das mulheres pela maior parte das tarefas domésticas. Com a pandemia, essa situação foi agravada. As crianças permaneceram mais tempo em casa ao longo de 2020 e os idosos exigiram mais cuidados por parte da família. Essas tarefas, além daquelas que já eram depositadas nos ombros das mulheres, comprometeram a dedicação das empresárias ou potenciais empreendedoras”, comenta Eliane.
Para a proprietária da empresa Zapgáz, que possui sede em Lucas do Rio Verde, Elisa Maria Ehrig, a pandemia testou as mulheres como empreendedoras, mães, chefes de família, seres humanos.
“Na minha visão nosso maior desafio foi manter o foco e o equilíbrio. Possuímos uma dupla jornada. No meu caso, por exemplo, que trabalho com um serviço de primeira necessidade que demanda 12 a 14 horas diárias foi preciso focar ainda mais nesses dois pontos. Porque não é fácil trabalhar horas como essas que temos e ainda cuidar da família, da casa. É preciso planejar muito, seja o trabalho, seja em casa para que não falte nada. E acima de tudo muita coragem e força de vontade para continuar. O que a gente sabe que as mulheres têm”, destaca.
Essa resiliência das mulheres tem sido importante na gestão da empresa na pandemia afirma Elisa.
“No começo os funcionários sentiram bastante o lado emocional por ser um trabalho que demanda o contato diário com cliente, muitas vezes precisamos entrar na casa deles. Mas fizemos um trabalho para que todos se sentissem com segurança ao reforçarmos os cuidados com a parte sanitária com uso de máscaras e álcool 70% para proteger funcionários e clientes. Todos foram se adaptando e agora com o lockdown no Estado é preciso mais uma vez buscar esse equilíbrio, já que estamos trabalhando com horas reduzidas. É preciso planejar, remanejar a equipe e se preparar para atender os clientes da melhor maneira possível. Sempre com foco e equilíbrio”, ressalta.
Apesar da crise no país a empreendedora afirma que financeiramente a empresa não foi afetada.
“Por ser um produto de primeira necessidade e até por ter muita gente em casa, de home office,sentimos um leve aumento nas vendas”, destaca.
Contudo essa não foi a realidade de todas as mulheres empreendedoras no Brasil. O levantamento do Sebrae revela uma redução na proporção de mulheres entre os donos de negócios em comparação com o mesmo período de 2019, quando o percentual de mulheres à frente de negócios era de 34,5%. No terceiro trimestre de 2020 havia cerca de 25,6 milhões de donos de negócios no Brasil, e as mulheres eram 33,6% desse total, o que representa uma redução de quase um ponto percentual.
“De acordo com um estudo feito pelo IBGE, em 2019 as mulheres dedicaram 10,4 horas por semana a mais que os homens aos afazeres da casa. E o dia só tem 24 horas para todo mundo, homens e mulheres. Como elas vão se dedicar aos negócios se estão sobrecarregadas com as tarefas domésticas? Todo mundo na família se beneficia de uma comida bem feita e da casa limpa. Por motivos culturais isso recai desproporcionalmente sobre a mulher. Mas cultura a gente muda com diálogo e exemplo”, afirma a coordenadora do Projeto Sebrae Delas, Renata Malheiros.
O levantamento feito pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, Sebrae Nacional, tem como base dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD, que mostra o perfil das empreendedoras até o terceiro bimestre de 2020.
Mais prejudicadas, porém, mais inovadoras
O presidente do Sebrae, Carlos Melles, comenta que esses dados levantados pelo Sebrae coincidem com os resultados apresentados em outra pesquisa feita pela instituição, em parceria com a FGV, em novembro do ano passado.
“A 9ª Pesquisa de Impacto do coronavírus nos pequenos negócios já indicava que as mulheres empreendedoras foram mais prejudicadas do que os homens no que diz respeito ao faturamento mensal (75% delas acusaram diminuição contra 71% dos homens)”, ressalta Melles. Isso aconteceu, segundo o presidente do Sebrae, apesar das empreendedoras terem sido mais proativas do que os homens no lançamento de novos produtos (46% delas passaram a comercializar novos produtos/serviços, contra 41% dos empresários). “As mulheres também se mostraram mais tecnológicas do que os homens (76% delas fazem uso das redes sociais, aplicativos ou internet na venda de seus produtos/serviços, enquanto 67% dos homens utilizam esses canais)”, acrescenta.