MPE entra com ação contra municipalização de escolas em Mato Grosso

Adin foi impetrada na quarta-feira (27). Prefeitura de Lucas discute municipalização da Escola Luiz Carlos Ceconello

Fonte: CenárioMT

escola ceconello
Estado e município discutem a municipalização da Escola Luiz Carlos Ceconello

O Ministro Público Estadual de Mato Grosso ingressou com Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) pedindo a suspensão parcial do Decreto Estadual nº 723/2020. A medida transfere a responsabilidade de atendimento integral à demanda dos anos iniciais do Ensino Fundamental aos municípios. A ação foi proposta nesta quarta-feira (27).

No pedido, em caráter liminar, o MPE argumenta que o artigo terceiro viola competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Além disso, também incorre em grave ofensa ao regime da colaboração dos entes federativos na oferta da educação, ao princípio constitucional do pacto federativo e harmonia entre os entes federativos.

“Muito embora exista a ressalva de que o Estado, por meio da rede pública estadual de ensino, permanecerá responsável pelo atendimento dos anos iniciais do Ensino Fundamental nos casos em que os Municípios comprovarem a impossibilidade do atendimento, esta exceção prevalecerá apenas até o ano de 2023, como se vê da leitura do inciso I, do §2º, do ato normativo hostilizado”, destacou o procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges Pereira, que ingressou com a Adin.

Borges deixa claro que a ADIN não questiona o dever dos entes municipais oferecerem e atenderem a demanda do Ensino Fundamental. Por força do regime de colaboração e de comandos da própria Constituição Federal, os municípios devem atuar prioritariamente no Ensino Fundamental e na Educação Infantil. O procurador geral esclarece, no entanto, que a atuação prioritária no Ensino Fundamental também é dever dos Estados e Distrito Federal.

“A transferência integral desse ônus aos Municípios do Estado de Mato Grosso malfere o pacto federativo, o regime de colaboração que rege o sistema nacional de Ensino, sobrecarrega os Municípios mato-grossenses e, ao fim e ao cabo, precariza a qualidade e o alcance do Ensino Fundamental às crianças”, enfatizou.

Consulta pública

Na quarta-feira (27) ocorreu uma consulta pública acerca da municipalização da Escola Luiz Carlos Ceconello, em Lucas do Rio Verde. O evento, ocorrido na escola, contou com representantes do município, Estado e da comunidade escolar.

Presente ao encontro, o promotor público Daniel Mariano observou que a lei demanda que a divisão das responsabilidades deve ser feita em regime de colaboração, nunca de forma imposta e com prazos impraticáveis. “O Estado está errado no que ele pensa? Não, ele tem que priorizar o Ensino Médio, está na lei, mas a forma com que ele fez está equivocada? Na visão do Ministério Público, está”, pontuou.

O vereador Marcos Paulista declarou que a prioridade é proteger os professores e alunos da escola. “Nós não admitimos acontecer aqui com os professores o que aconteceu lá em Várzea Grande, em que foi chamado polícia até para levar professor preso”, destacou.

Durante a consulta, profissionais que atuam na Escola deram depoimentos e mostraram temor com o processo de municipalização já em curso. “Eu não tenho vergonha de chorar na frente de nenhum de vocês. Eu percorreria quilômetros para continuar na instituição e sinto-me injustiçada com o descaso que estão tratando os funcionários desta escola, estou sendo despejada desta instituição”, lamentou Regiane Antunes Girardi, coordenadora da escola.

Mãe de aluno, Marilene Martins Ramos defende que a escola precisa estar perto de casa, como orientação das próprias instituições de ensino. “Está pensando que é fácil sair de casa? Nós temos os nossos afazeres e sair aí, caçando escola, daí não tem vaga ali, tem vaga não sei aonde, cata bicicleta pra levar o filho. E é feio ficar criticando, é muito fácil criticar, mas tem que ser avaliado tudo isso, é distância para levar o filho, tanto no calor quanto na chuva,  em dia de chuva, os alunos acabam se molhando. Ficam igual a uns pinguins! Quero que meu filho termine os estudos aqui, ele está fazendo o 6° e eu quero que ele continue aqui!”, reiterou.

Ao final da Consulta Pública foi realizada votação acerca da municipalização. De 88 votantes, 87 se mostraram contrários ao decreto.

Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso.