Criado há 33 anos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Dia Mundial Sem Tabaco é uma data que alerta para a importância de se evitar o fumo e, consequentemente, doenças e mortes relacionadas ao tabagismo, que é considerado uma doença crônica devido a dependência da nicotina. Por ano, o cigarro mata cerca de 8 milhões de pessoas no mundo.
O médico auditor do Mato Grosso Saúde, Dr. Alberto Bicudo Salomão, alerta para doenças coexistentes em decorrência do uso do cigarro como os cânceres nas vias respiratórias, em especial o pulmonar, doenças cardiorrespiratórias e o acidente vascular cerebral (AVC).
No entanto, o tabagismo também tem relação direta com mais de 50 tipos de enfermidades, como doenças do coração, artérias do coração e do corpo, úlcera gástrica, osteoporose, catarata, a disfunção erétil no homem, infertilidade na mulher, complicação à gravidez e outros.
“A combustão do produto origina cerca de 300 a 400 outras substâncias tóxicas ao organismo, desencadeando efeitos nocivos em vários órgãos. Por isso existem diversas doenças relacionadas ao tabagismo, pois as lesões causadas por essas substâncias, não só no trato respiratórios, mas em outros órgãos também, é muito grande”, explica o médico que é cirurgião gastrointestinal e especialista psicoterapeuta.
Segundo o médico, no fumo do tabaco são encontrados mais de 7.000 produtos químicos, sendo que pelo menos 250 são reconhecidos por serem prejudiciais à saúde e 70 por causar câncer. Cerca de 65% dos óbitos por câncer de pulmão são atribuídos ao consumo de cigarro.
Ele ainda explica que a fumaça tóxica, ao ser inalada, lesa e adoece a mucosa dos brônquios pulmonares, comprometendo os mecanismos de defesa e a própria estrutura do aparelho respiratório. Isso leva a doenças como a bronquite crônica e enfisema pulmonar.
“Esses quadros mais avançados aumentam o risco de câncer no pulmão, que em fumantes é 40% maior em comparação aos não fumantes. E 90% desse tipo de câncer estão relacionados ao uso de tabaco”, informa.
O fumo e o coronavírus
A Covid-19 em sua forma mais acentuada provoca a síndrome respiratória aguda grave, principal motivo de entubação de pacientes. O tabagismo tem forte relação com o agravamento da doença, podendo levar os fumantes a terem complicações de forma mais rápida.
“O tabagismo está relacionado com doenças crônicas do sistema respiratório, que são um dos grandes fatores de desenvolvimento das formas graves da Covid-19”.
Como parar de fumar?
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente, desde 2004, tratamento para ajudar os tabagistas a pararem de fumar. Os métodos vão desde aconselhamento psicoterápico a uso farmacológico.
Em alguns casos, o médico salienta que é preciso acompanhamento multiprofissional para amparar melhor o tabagista, principalmente no início do processo de dessensibilização do organismo à nicotina
Para dar início ao tratamento basta que o indivíduo queira abandonar este hábito e buscar um médico para receber as orientações iniciais sobre o tratamento.
“Nas primeiras 48 horas após o início do tratamento, o indivíduo apresenta um alto nível de ansiedade em decorrência da necessidade do uso da substância psicoativa (nicotina), e neste momento, o acompanhamento profissional é importante, pois muitas das vezes se faz necessário o uso de algum elemento farmacológico (medicamentos), para controlar esses picos de ansiedade”.
Já o acompanhamento psicológico também auxilia a abandonar hábitos que os fumantes têm, muitas vezes de maneira inconsciente. Por exemplo: o fumo matinal, acender um cigarro ao entrar no carro ou após o cafezinho.
O Dr. Alberto explica que trabalha c om a hipnose clínica, como mais uma forma de ajudar o paciente a deixar os gatilhos que levam ao fumo para trás. “Muitas das vezes, o fumante acende um cigarro tendo outro já aceso no cinzeiro e não se dá conta disso por conta das ações automáticas, e o tratamento psicoterápico pode ajudar a deixar essas ações”.
Os que desejam parar de fumar podem procurar atendimento médico ou também obter mais informações através do Disque Saúde, do Ministério da Saúde, pelo número 136.
Mito ou verdade: os cigarros eletrônicos e narguilés são realmente prejudiciais?
O cigarro eletrônico é um dispositivo em que o conteúdo é vaporizado em um líquido, ao invés de ser queimado. Este produto nasceu como uma possível forma de fazer as pessoas pararem de fumar, porém não há nenhum estudo comprobatório que indique que o uso dos cigarros eletrônicos ajudem a parar de fumar ou sejam menos prejudiciais, afirma Alberto Bicudo.
“Ainda não existe nenhum tipo de protocolo documentado reconhecido que use o cigarro eletrônico com essa finalidade. Muito embora eles aparentem ser menos tóxicos, não quer dizer que sejam menos inofensivos, como também não há nenhuma evidência que indicam que eles ajudam a parar de fumar. Não tem como ser recomendado de maneira alguma”.
Já o narguilé é derivado do tabaco e causa dependência da mesma forma. O médico alerta ainda que sua forma de uso, compartilhando a ponteira do fumo propicia a transmissão de outras doenças, como herpes, hepatite C e até mesmo a tuberculose.
Número de Fumantes
Apesar dos números estarem em queda, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) estima que existam cerca de 1,1 bilhão de fumantes ao redor do mundo.
Para o médico, o Brasil é referência mundial no combate ao tabagismo, e cita que há 30 anos atrás o percentual de fumantes era da ordem dos 30% e que hoje este número está em 9% devido às ações de combate ao consumo do cigarro.
Mortalidade pelo tabagismo
O Instituto Nacional de Câncer (Inca), órgão responsável pela divulgação e elaboração de material técnico sobre o assunto no Brasil, informa que os produtos de tabaco matam dois em cada três dos seus usuários e que mais de 150 mil vidas poderiam ser salvas se as pessoas deixassem de fumar. Outro ponto vai além e afeta diretamente a saúde das pessoas que fumam passivamente, quando inalam a fumaça nociva.
Sobre essas pessoas que não fumam, mas convivem com pessoas fumantes, a estimativa do Instituto é que 1,2 milhão de mortes anuais são resultantes da exposição a este fumo passivo que também pode afetar as crianças, com o número de óbitos podendo chegar a 65 mil a cada ano.