O campo em Mato Grosso vive um cenário de escalada alarmante de violência, que coloca o estado no topo do ranking do Centro-Oeste e entre os mais perigosos do país em conflitos rurais.
É o que aponta o recém-divulgado Caderno de Conflitos no Campo Brasil 2024, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em evento realizado na UFMT nesta quinta-feira (23.10).
Os números de 2024 mostram um salto impressionante na crise:
- Aumento de Ocorrências: Houve um crescimento de 137% nas ocorrências totais em comparação com 2023.
- Pessoas Envolvidas: O número de pessoas afetadas nos conflitos rurais explodiu em 518%.
Apesar de ocupar a sexta posição nacional em número de casos, Mato Grosso lidera nos tipos de agressão mais destrutivos, destacando-se como o estado mais atingido do Brasil por incêndios criminosos.
Incêndios e destruição: Mato Grosso na liderança negativa
A violência física e patrimonial registrou picos chocantes:
| Tipo de Violência | Aumento Percentual | Destaque Nacional |
| Incêndios em Áreas de Conflito | +3.004% | O estado concentrou 25% de todos os incêndios do país. |
| Destruição de Pertences | +661% | – |
| Desmatamento Ilegal | +229% | – |
| Ameaças de Despejo | +223% | – |
| Invasões | +200% | – |
As regiões Nordeste (40%) e Norte (34,5%) foram as mais afetadas, mas o Sudeste e Sudoeste registraram um aumento de 150% nas ocorrências.
Vítimas e agressores
As principais vítimas da violência são historicamente vulneráveis, com aumentos dramáticos na violência contra comunidades tradicionais: quilombolas (+1.717%), posseiros (+854%) e indígenas (+357%). Posseiros, indígenas, quilombolas e sem-terra continuam sendo o alvo primário das agressões.
Os principais agressores identificados no relatório da CPT são:
- Fazendeiros (44% dos casos).
- Empresários (15% dos casos).
- O Governo Federal (8% dos casos).
O relatório também denuncia a criminalização de defensores de direitos humanos, citando o caso de Novo Mundo, onde trabalhadores rurais, um padre e uma defensora pública foram presos de forma arbitrária em maio de 2024, episódio que gerou repúdio de entidades internacionais.
A crise se estende aos recursos hídricos, com aumento de 87,5% nos conflitos pela água. Além disso, o estado registrou 250 famílias intoxicadas por agrotóxicos em áreas de disputa, o sexto maior número do país.
O Caderno de Conflitos no Campo, produzido pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (CEDOC/CPT), é uma referência nacional e internacional para pesquisadores e movimentos de direitos humanos.

















