Um estudo inédito revela que Mato Grosso, um dos maiores produtores agrícolas do Brasil, depende crucialmente das chuvas originadas nas terras indígenas da Amazônia. A pesquisa, realizada por um grupo de cientistas brasileiros, demonstra que a preservação desses territórios é fundamental para garantir a segurança hídrica e alimentar do estado e de grande parte do país.
De acordo com os dados, 9,1% da chuva média anual em Mato Grosso tem origem na reciclagem de umidade proveniente das florestas das terras indígenas amazônicas. Esse fenômeno, conhecido como “rios voadores”, ocorre quando a água evaporada da floresta é transportada pela atmosfera e se condensa em forma de chuva em outras regiões.
“As terras indígenas da Amazônia são como torres de água para o Brasil”, afirma Paulo Artaxo, coordenador de Pesquisa do Centro de Estudos da Amazônia Sustentável da USP. “Sem a preservação dessas áreas, a produtividade agrícola em Mato Grosso e em outros estados do Centro-Oeste seria drasticamente reduzida.”
A pesquisa, que cruzou dados de diversas fontes, como o MapBiomas e o IBGE, demonstra que a relação entre as terras indígenas e as chuvas é ainda mais profunda do que se imaginava. A renda econômica do setor agrícola nas áreas mais beneficiadas por essa dinâmica chegou a R$ 338 bilhões em 2021, o que representa 57% do total nacional.
O desafio do desmatamento em Mato Grosso
Apesar da importância das terras indígenas para a agricultura, o estudo também revela uma contradição alarmante: estados como Mato Grosso e Rondônia, que mais dependem das chuvas provenientes da Amazônia, estão entre os que mais desmataram suas florestas nas últimas décadas.
A pesquisa destaca ainda que a agricultura familiar, que representa mais de 50% da produção agrícola em muitos estados, é altamente dependente das chuvas provenientes das terras indígenas. A perda dessas áreas pode comprometer a segurança alimentar nacional e aumentar a vulnerabilidade dos pequenos produtores.
Os resultados do estudo reforçam a necessidade urgente de políticas públicas que visem a proteção das terras indígenas e a promoção de um desenvolvimento sustentável na Amazônia. A preservação desses territórios é fundamental não apenas para garantir a segurança hídrica e alimentar do país, mas também para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e preservar a biodiversidade.