Na sexta-feira (6), uma mãe de 10 anos e um pastor de 55 anos foram detidos sob acusações de estupro de vulnerável em Cáceres-Mato Grosso. A mãe é suspeita de entregar sua filha ao líder religioso em troca de pequenas quantias em dinheiro.
De acordo com as investigações conduzidas pela Polícia Civil, o crime alegadamente ocorria na residência do suspeito, onde a criança era deixada com o consentimento de sua mãe.
A detenção dos acusados aconteceu após uma vizinha do pastor, que já tinha suspeitas sobre a atividade de crianças na casa dele, observar a bicicleta da menina caída no quintal da propriedade do suspeito. Diante disso, ela imediatamente acionou as autoridades policiais.
A polícia obteve um áudio que ilustra uma conversa entre a mãe e o pastor, no qual o suspeito faz perguntas sobre a criança e confirma que fará um pagamento relacionado a ela. Esse áudio foi entregue às autoridades como parte das evidências no caso.
A cada hora, três crianças são vítimas de violência sexual no Brasil
A cada hora, três crianças são vítimas de violência sexual no Brasil. O desafio é estabelecer uma cultura de proteção integral para combater casos de exploração e abuso sexual infantil além do papel.
“Olhem para as nossas crianças e priorizem elas. Hoje eu sinto uma dor indescritível”. O desabafo ao Lunetas é de Jean OCampo, um pai que há quatro meses perdeu o que tinha de mais valioso: a filha Sophia, de apenas dois anos. O crime que interrompeu a vida da menina foi cometido dentro da própria casa. Segundo as investigações, ela era constantemente espancada pela mãe e pelo padrasto, e também apresentava sinais de abuso sexual.
O caso se arrastou por um ano entre denúncias e pedidos de ajuda sempre que o pai notava machucados e hematomas na filha. Ele fez várias denúncias ao Conselho Tutelar, dois boletins de ocorrência por maus-tratos e um pedido de guarda da menina, que não teve resposta. Nesse tempo, ela chegou a dar entrada 30 vezes no mesmo posto de saúde de Campo Grande (MS). Ainda assim, nunca foi afastada do lugar em que era agredida, já que a mãe tinha a guarda unilateral. “É nítida a falta de preparo, de capacitação e de comunicação entre os órgãos responsáveis por defender nossas crianças. Minha filha foi vítima desse descaso e negligência”, pontua.
Dentre a sucessão de erros e omissões até acontecer o pior, OCampo destaca mais um fator: o preconceito por ele ter um relacionamento com outro homem. “Fizeram juízo de valor e tiraram as próprias conclusões sem investigar o que acontecia com minha filha. A homofobia velada foi o fator principal do argumento para não tirar a guarda da mãe e dar para dois homens”.
Infelizmente, Sophia foi vítima de uma violência que acomete três crianças a cada hora no país. “Sinto um vazio enorme e revolta porque lutei e fiz de tudo para estar com ela e tiraram isso de mim”, lamenta o pai. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, só nos primeiros meses de 2023, mais de 9 mil casos foram registrados, sendo que o Disque 100 recebeu 17,5 mil denúncias de violações como exploração e abuso sexual infantil. A estimativa é que, todos os anos, 500 mil crianças e adolescentes são vítimas desses tipos de crimes e 51% têm entre um e cinco anos, como revela a campanha Maio Laranja, de combate à exploração e abuso sexual infantil no Brasil.
“É preciso ter um olhar sensível para a criança e abrir um diálogo sem julgamento”
As crianças dão sinais quando sofrem algum tipo de violência sexual. A introspecção, o medo, dores no corpo e até febres sem motivos aparentes são alguns deles, explica Rosane Brasil, coordenadora do Serviço de Assistência Social do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), referência em atendimento pediátrico de vítimas de violência na região.
“Se uma criança que era calma e interagia normalmente com os amigos de repente se torna assustada, não quer mais brincar ou ir para a escola e só fica no canto, ou então tem pesadelos, faz xixi nas calças, é preciso saber o que está acontecendo. Em alguns casos, essas crianças sofrem ameaças do abusador”.
Quando o abuso acontece repetidas vezes pelo mesmo agressor, a criança tende a naturalizar a violência, sem manifestar sentimentos de medo, vergonha ou tristeza na fala. “É o que a psicologia chama de ‘desafeto’”, explica a assistente social.