Há cerca de um ano, a jornalista Juliana Arini tenta denunciar o bullying e as agressões físicas sofridas pelo filho de 16 anos, estudante do 2º ano de Agrimensura do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), Campus Cuiabá. O garoto é portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, de acordo com a mãe, vem sofrendo agressões dentro da instituição. Na última semana o menino teria sido empurrado de uma escada por outros alunos. A escola afirma que irá averiguar as denúncias e, se comprovado algum abuso cometido dentro da unidade, irá punir os responsáveis.
Juliana afirma que vem denunciando a situação na instituição desde setembro de 2018 e que nenhuma providência foi tomada por parte da escola. De acordo com ela, o filho já foi jogado do telhado do primeiro andar da instituição e só não se feriu gravemente porque caiu em cima de um tapume do telhado do anfiteatro, que está em obras. “Nada foi feito contra os agressores do curso de agrimensura e a instituição continua se omitindo”, afirma.
Na segunda-feira (2), ela formalizou a denúncia na Delegacia Especializada no Adolescente (DEA) e levou o garoto para fazer exame de corpo delito na Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec).
De acordo com Juliana, o filho também sofre ameaças de morte e a Reitoria do IFMT negou a transferência dele para outro campus. “O reitor alegou que ‘não é bem assim’, disse que não tem vagas e que meu filho que permaneça sob constante bullyng, humilhação e agressões físicas”, afirma ela em publicação.
“Desisti por completo do direito do meu filho de cursar um ensino técnico profissionalizante gratuito e pedi a transferência dele pra uma escola particular, que vou ter que encontrar forças não sei de onde pra pagar”, conclui Juliana.
A Associação de Amigos dos Autistas de Mato Grosso repudiou através de nota a postura da instituição mediante as denúncias de Juliana e afirmou que está acompanhando de perto toda a situação para que todas as providências sejam tomadas para a transferência do menor.
Veja abaixo a nota na íntegra;
NOTA DE REPÚDIO
Associação de Amigos dos Autistas do Estado de Mato Grosso repudia veementemente a inércia da IFMT diante de todas as acusações já registradas do aluno com transtorno Espectro Autista, onde o mesmo sofre agressões e Bullying, salientando que estamos acompanhando o sofrimento da mãe e do adolescente desde o princípio. Foram oferecidas todas as orientações e feitas inúmeras solicitações a instituição que se manteve inerte diante da situação exposta pela Mãe. A advogada da AMA acompanha a mãe e o adolescente desde o princípio, e já tomou todas as providências para a transferência do menor. O vergonhoso é que foi necessária a intervenção da nossa advogada para a instituição aceitar a transferência. Porém, uma ação não anula a outra, a inércia e a impunidade dos infratores não ficaram sem as devidas punições, as quais já estão sendo acionadas pela nossa advogada. Um recado a todos os infratores: iremos cobrar providências cabíveis para esse caso é para todos os demais que são omitidos pela IFMT. Nossos anjos têm direitos, e iremos lutar sempre.
Kelly Cristina do Nascimento Viegas.
Presidente da AMA Mato Grosso.
Outro lado
A assessoria do IFMT alega que está tomando todas as medidas para apurar as responsabilidades no caso e que montou uma comissão para apurar as denúncias feitas pela mãe do aluno. Ainda de acordo com a instituição, no ano passado dois alunos da instituição foram advertidos após a constatação de bullying cometido por parte dos mesmos.
Sobre a denúncia de segunda-feira (2), onde a mãe relata que o aluno foi empurrado da escada, a instituição afirma que a mãe não procurou a direção da escola para relatar o ocorrido, mas que já está levantando as informações necessárias com testemunhas e câmeras de segurança para verificar o que teria de fato acontecido.
Sobre a acusação da mãe de que a escola se negou a dar a transferência para o aluno, a instituição afirma que o Campus Bela Vista, para onde a mãe solicita a transferência do aluno, não possui a mesma grade curricular do curso e que por isso a instituição está estudando uma alternativa para que o aluno não seja prejudicado com a mudança de local e que o Campus Várzea Grande possui a mesma grade curricular, mas esta opção foi negada pela mãe por questões de logística.
A instituição afirma também que existem outros 53 alunos com algum tipo de deficiência e que o IFMT vem trabalhando com professores e alunos para que haja cada vez mais a inclusão deles em todas as atividades pedagógicas.
“Entendemos a posição da mãe e ela está certa em defender e buscar o melhor para o seu filho, nós também queremos saber o que de fato aconteceu porque é inadmissível que isso ocorra dentro da instituição. Estamos apurando todas as informações para que, caso haja comprovação, nós possamos tomar as medidas necessárias para punir os agressores”, afirma a assessoria do IFMT.