O debate sobre igualdade racial ganhou protagonismo na noite desta segunda-feira (24), durante a realização da reunião Vozes Negras, promovida na Câmara de Vereadores de Lucas do Rio Verde. O encontro reuniu lideranças municipais, estaduais e representantes da sociedade civil, marcando um novo passo para o fortalecimento das pautas raciais no município e para a criação do movimento negro local.
O presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Mato Grosso, Manuel Silva, destacou que novembro é um período de reflexão e afirmação das lutas da população negra. Segundo ele, a realização do evento em Lucas do Rio Verde reafirma avanços e evidencia os desafios que persistem. “A população negra teve seus direitos historicamente negados. Vivemos em um país que ainda é racista e precisamos manter esse debate para diminuir os índices de discriminação. Houve conquistas importantes, como o Estatuto da Igualdade Racial e o ensino da história afro-brasileira nas escolas, mas ainda há muita invisibilidade. Somos a maioria da população e ainda ocupamos poucos espaços de poder”, afirmou.
Para o representante estadual, conhecer a própria história é indispensável para compreender o presente. “A mão de obra negra construiu a economia, a cultura e a religiosidade do Brasil. Não existe história do país sem a história da população negra”, completou.
Vozes Negras e Movimento Negro
A primeira-dama e secretária de Assistência Social e Habitação, Janice Ribeiro, reforçou que o encontro simboliza um momento de conscientização coletiva. “Hoje vai ser criado o movimento negro, e isso é muito importante para dialogarmos e compreendermos nossa história. Em 2025, não se admite mais tratar pessoas de forma diferente pela cor da pele. Devemos reconhecer as pessoas pela sua capacidade e contribuição à sociedade. Ainda há muito racismo, e precisamos enfrentar isso com diálogo e protagonismo”, destacou.
Idealizadora do evento, a vereadora Débora Carneiro — primeira mulher negra eleita no Legislativo luverdense — enfatizou que a reunião busca ampliar a participação da população negra no debate público. “Queremos que os negros desta cidade falem, expressem o que sentem falta e como gostariam de ser representados. Existe preconceito, sim, e eu mesma já senti. O racismo é estrutural e muitas vezes as pessoas reproduzem atitudes sem perceber”, afirmou.

Débora explicou que o objetivo é formar um comitê representativo ao final do encontro. “É importante que outras pessoas venham depois de mim. Se não construirmos esse caminho agora, não teremos continuidade. Nossa missão é abrir espaço para que as vozes negras sejam ouvidas e influenciem políticas públicas”, completou.
Articulação e aprendizado
O vereador Jackson Lopes ressaltou o papel da colega na articulação das pautas sociais no município. “Trabalhar com a Débora sempre foi um aprendizado. Ela carrega um brilho e uma representatividade que inspiram muita gente. Por onde passa, ela deixa sua marca. Parabenizo pela iniciativa e pela força que traz a esse debate”, disse.
A secretária de Cultura e Turismo, Luciana Bauer, afirmou que o setor cultural está atento às manifestações da comunidade e que políticas públicas precisam nascer da escuta ativa. “Vim hoje para aprender. A cultura deve reconhecer e entender sua comunidade para construir políticas mais assertivas. Convido as vozes negras do município a conhecer os editais, acessar os recursos e desenvolver projetos culturais voltados às suas vivências. A cultura transforma, amplia horizontes e precisa incluir todas as expressões”, observou.

Fortalecimento de ações locais
A presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Marislana Taques Quirino, também destacou a importância do momento para o fortalecimento das ações locais. “É uma alegria estar aqui e ver que o município está de braços abertos para apoiar projetos e iniciativas que promovem a igualdade racial. Cada pessoa presente é fundamental para fortalecer essa luta”, declarou.
Com ampla participação da comunidade e presença de representantes estaduais, o encontro sinaliza um novo capítulo na construção de políticas e ações voltadas à população negra em Lucas do Rio Verde. A expectativa é que o movimento negro, a ser estruturado após a reunião, contribua para ampliar a representatividade, fortalecer o debate e estimular iniciativas de combate ao racismo no município.






















