A atleta Jenifer Amanda Deloss de Souza, de 11 anos, conquistou medalha de ouro em kumite (luta) e medalha de bronze em kata (luta imaginária de apresentação) durante o Brasileirão de Karatê Esportivo realizado entre os dias 11 e 14 de julho, em Trindade, Goiás. Estudante da Escola Municipal Olavo Bilac, Jenifer tem autismo diagnosticado há pouco tempo e quase desistiu dos ensinamentos da arte marcial.
Para a jovem campeã, as aulas de karatê trouxeram muitas mudanças e descobertas e ela concorda com sua mãe, Vanessa, para quem os nove meses de prática equivalem ao tempo de concepção de uma nova Jenifer. “Ganhei mais autoconfiança e mudou minha autoestima. Agora eu não tenho mais medo, vergonha de falar com as pessoas, porque antes eu tinha muita vergonha”, conta.
Na verdade, as primeiras mudanças foram constatadas ainda no ano passado, quando ela trocou de unidade de ensino dentro da própria rede municipal e ingressou na Érico Veríssimo, uma escola de tempo integral onde começou a participar das oficinas de dança e de artesanato. Lá também funcionam outras 14 oficinas e, dentre elas, a de karatê. “Antes de começar a oficina de dança, no recreio, eu ia lá falar com o sensei (professor, mestre) de karatê e daí despertou a vontade de querer treinar aqui.”
Também o fato do irmãozinho Davi Lucas, de 9 anos, já praticar karatê influenciou bastante para que tomasse a decisão. A rigidez disciplinar e a repetição constante dos golpes e fundamentos básicos a levou a pensar em largar tudo logo após uma luta na academia. “Eu fiquei nervosa e comecei a chorar por causa da pressão e falei para o sensei que não queria mais. Mas logo isso passou e eu resolvi continuar do mesmo jeito. Meu sonho agora é ir da faixa amarela até a preta”, afirma.
O nervosismo também esteve presente ao participar do Campeonato Goiano de Karatê, em março, sua primeira competição, mas isso não a impediu de ter um bom desempenho e trazer duas medalhas de bronze. A conquista já mostrava seu enorme potencial e os treinamentos foram intensificados, com aulas mais frequentes para melhorar sua técnica e aumentar a confiança.
No Brasileirão, o choro veio outra vez e novamente ela conseguiu controlar os nervos para vencer todas as lutas até chegar à final, na qual, para sua surpresa teve que enfrentar uma menina da mesma idade, com o mesmo peso e da mesma faixa com quem tinha feito amizade durante a competição. “Eu lembro que uma menina teve um WO antes de mim e eu fiz algumas lutas até chegar a final. Eu até vi que eu podia fazer o ippon nela mas fiquei com dó e mesmo assim eu ganhei”, relata.
“O karatê entrou na vida da Jeniffer como sugestão da neurologista para complementar o tratamento dela e deu super certo. Teve muito choro no tatame, ela foi pra casa muito brava mas em nenhum momento falou em desistir. Era um momento de raiva dela, ela chorava, a gente compreendia, perguntava se queria parar e deixava ela sossegada. Logo tudo passava e no outro dia ela estava de volta. Eu digo que nesses nove meses nasceu outra Jenifer”, destaca Vanessa ao falar sobre o desenvolvimento da filha.
O professor João Evangelista de Lima, que além do projeto desenvolvido dentro da Escola Érico Veríssimo dirige a Luverdense Karatê Educacional, compara a atleta a um diamante que está sendo lapidado pouco a pouco. “A condição de autista da Jenifer exigiu muita paciência para conquistar a sua confiança e o trabalho com ela não foi fácil. Ela é uma menina de 11 anos que tem muita responsabilidade, muito foco, disciplina e bate muito forte. Esta medalha de ouro conquistada pela Jenifer não foi surpreendente. Eu só diria que não era esperada”, ressalta.