Um grupo de empresários, entre eles Márcia Peliciolli, questionaram nesta segunda-feira (22), sobre as diferenças entre aglomerações em comércios noturnos, comércio em geral e ambientes públicos. Ela compartilhou em suas redes sociais fotos que recebeu em grupos de comunicação onde há encontros de pessoas em espaços diversos de Lucas do Rio Verde.
Márcia e os também empresários Tiago Neves, Flávio Amaral e Rafael Babinski conversaram com a reportagem de CenárioMT a respeito do momento difícil vivido pelo segmento. Os empreendimentos que funcionam no período noturno foram os mais afetados desde o início da pandemia. No final de fevereiro a atividade de alguns segmentos foi reduzida e outras totalmente paradas, como é o caso de pubs e lanchonetes. O nível de ocupação de leitos covid-19, que é levado em consideração no momento de definir a política de restrição, aumentou, mesmo sem atividade noturna evidente.
“No dia 28 estávamos com 88,96% de taxa de ocupação das UTIS. Hoje, estamos com 98,83%. Então faz 22 dias que os comércios noturnos não funcionam e não diminuiu, só aumentou. Então, essas medidas que vem sendo adotadas pelo governo não estão funcionando”, reclamou a empresária, assinalando que se o número de casos e de ocupação de covid-19 tivessem reduzido, o segmento iria reconhecer que o problema maior da contaminação é o comércio noturno.
Por outro lado, Márcia disse que compartilhou as fotos por um sentimento de indignação, já que as pessoas não têm tido a consciência de evitar a aglomeração nos locais que freqüenta. Ela assinala que os comércios adotam as medidas sanitárias determinadas, o que não acontece em espaços públicos. Além disso, ela chama a atenção que a restrição de horário no comércio ao longo do dia acaba provocando algum tipo de aglomeração nos estabelecimentos. “É fila em todo lugar, aglomeração de pessoas nos mercados”, pontua.
Tiago Neves lamenta que os comércios deste segmento são penalizados. Vários estabelecimentos fecharam as portas porque não tem expectativa de retornar à normalidade. Com isso, dezenas de empregos acabaram sendo prejudicados. “Tivemos que dispensar algumas pessoas. E os impostos continuam chegando”, reclamou. Ele acrescenta que os projetos que foram criados para atender o segmento são difíceis de serem acessados por pequenos empresários. “Pros ‘grandes’ os bancos ligam oferecendo, dizendo que está disponível”, reclama, assinalando que o empréstimo que conseguiu foi junto a uma instituição de crédito do qual é cliente.
“Conheço gente do agro que pegou R$ 700 mil a R$ 800 mil, são clientes meus e disseram que pegaram e compraram mais uma maquina pra propriedade rural. E nós, que somos da noite e que precisávamos pegar, eles puseram em cima do faturamento. E como estávamos a 8 ou 9 meses sem trabalhar, nosso faturamento foi pequenininho, né”, reclama Flávio Amaral, reforçando que a maioria dos decretos baixados desde o início da pandemia tiveram reflexos negativos para essas atividades noturnas. “Hoje temos músicos pedindo casa pra morar porque não conseguem pagar aluguel. Tá difícil”, acrescentou.
Os quatro empresários fizeram as contas e afirmaram ser responsáveis pela geração de mais de 110 empregos com registro em carteira ou diárias, além de assegurar ganhos para outros setores que dependem da atividade noturna, como o transporte de passageiros, e ainda geram impostos para o município.
Rafael reclama que a fiscalização tem sido rígida com os comércios noturnos, mas falha em acompanhar outros meios de aglomeração. Ele observa que nos finais de tarde e principalmente nos fins de semana, há grande número de pessoas em avenidas na área central. Em geral compartilham cuias de tererê e narguilé. Além disso, ele observa que a realidade de Lucas é diferente de cidades maiores quanto ao toque de recolher. “Em momento algum a gente é a favor do vírus. A gente quer e tem que cuidar da vida. Só que as medidas de fechar, falta bom senso. O governo não está preocupado com o comércio da noite”, assinala, citando que durante o dia não hão distinção entre comércio essencial ou não essencial.
“A gente pede bom senso. Postar foto não é contra prefeito ou governador. E não estamos aqui pra defender partido, mas sim defendemos a nossa realidade”, destaca Rafael, afirmando que o segmento noturno não foi procurado para encontrar mecanismos para garantir a atividade que é essencial para centenas de famílias.
Ajuste
Quando um estabelecimento recebe a fiscalização e falha em algum quesito, tem o alvará cassado e só reabre quando se ajustar. Esse processo, além de moroso, pode custar um valor considerável. Entre documentos e taxas, um dos comércios desembolsou cerca de R$ 6 mil. E o valor aumentou com os ajustes para atender a legislação, custo que impacta no orçamento do estabelecimento. “Tendo dinheiro ou não, a gente é obrigado a se adequar”, observa Márcia.
“Quando postei, não foi crítica, mas pra chamar a atenção: qual a diferença entre estar sentado tomando uma cerveja no estabelecimento e na praça? Não muda nada. A diferença está na fiscalização, porque podem vir multar nós e na praça não”, reclama um dos empresários. “A gente deixa de faturar, gerar emprego e renda pro município, né, e a pessoa vai, senta na frente do comércio, fez aglomeração e ta correto. Você no seu comércio não pode porque gera aglomeração”, acrescenta outro empresário, reclamando que o comércio não pode funcionar porque gera aglomeração.