Lucas do Rio Verde: Contos e encantos de uma terra promissora e abençoada

Fonte: Andrea

semfoto

Dessa vez nós vamos acompanhar a história de Salete Bertoti Tegnher, que chegou a Lucas do Rio Verde com filhos pequenos, passou por várias situações e hoje tem boas lembranças de uma época de dor e sofrimento.

Acompanhemos a trajetória de Salete Bertoti Tegnher, seu marido Célio Tegnher e seus 3 filhos, que chegaram a Lucas em 03 de maio de 1989, vindos de Curitiba – PR, cidade em que moravam há mais de 10 anos e onde o esposo cursava a faculdade de Administração.

Salete não conhecia Lucas, mas seu esposo Célio, sim. Ela tinha dois irmãos que já moravam aqui, e seu esposo teve a oportunidade de vir conhecer Lucas antes dela, ocasião em que se apaixonou pela cidade. De volta a Curitiba, ele simplesmente falou: “Estamos indo embora para lá”. Venderam as coisas que tinham em Curitiba, e vieram. Seus filhos, todos meninos, tinham na época 9, 3, e o caçulinha ia fazer 1 aninho.

Na época em que chegaram (em maio), chovia bastante. Estrava fresquinho, e Salete, que pensava haver “cobras, lagartos e leões” por aqui, pois não conhecia a Amazônia, pensou: Meu Deus, ‘pra’ onde estamos indo? Era mata fechada, muita estrada de chão para chegar até aqui. Apesar de eu ter família em Sinop e aqui, vim com medo, apavorada, pensando que não haveria médico, alimentos. Então eu fui até o pediatra das crianças para ver o que eu poderia usar aqui com eles, comprei e trouxe no caminhão, junto com os alimentos, mas quando eu cheguei aqui tinha o CESP no Bairro Pioneiro, que nos atendia muito bem”.

Aquela época o clima era completamente diferente, eram 6 meses de chuva e seis meses de seca. Na época da seca, aquele poeirão. “O Célio falava: Não, nós vamos fazer nosso pé de meia e voltar. Mas até hoje estamos procurando o furo da meia para costurar” (risos).

Salete contou que foram grandes as dificuldades passadas aqui, pois apesar de ter feito vários cursos e alguma experiência em escritório e também como telefonista, a então recém-chegada a Lucas do Rio Verde não conseguia trabalhar, não conseguia uma colocação, e para agravar a situação, tinha três filhos para cuidar. Somente seu esposo trabalhava, e ela lidava 24 horas com a casa e com as crianças. Ela contou que aqui seus filhos se sentiram livres, pois a cidade era muito tranquila. Podia-se atravessar a cidade sem medo de assalto, sem perigo de violência, inclusive várias vezes dormia-se com a porta aberta.  Não havia comparação com Curitiba, na época já uma metrópole, e por ser muito grande e movimentada, as crianças estavam sempre dentro de casa. No início, Salete os mantinha dentro de casa na maior parte do tempo, com medo de animais peçonhentos, jacarés e onças, mas com o tempo percebeu que não havia esse perigo. Ela contou que certa vez, viu a sombra de um bicho correndo no jardim, e imaginando ser um jacaré, alarmou seu irmão, que veio correndo ver o que se passava, mesmo sabendo que a possibilidade seria remotíssima. Quando ele constatou o engano da irmã, pois era apenas um calango que correu no jardim, a chacota correu solta.

Sua experiência de trabalho em Lucas começou com a venda de enxovais para quarto de casal, trazidos por uma amiga de Sorriso, que praticamente a intimou a vender. Apesar de tímida no início, Salete começou a bater de porta em porta mostrando oferecendo os enxovais, porém quando uma das clientes criticou o produto pelo preço elevado, ela desanimou. Chegou em casa e chorou bastante, mas depois resolveu vender ainda com mais afinco. Foi a todos os lugares, começou a fazer consórcio de enxovais, com grupos de 10 pessoas –  modelo que deu certo na ocasião, e até hoje é praticado.  Na época, Salete conseguiu montar 10 grupos de consórcio simultâneos. Ela também fez “Chás de Enxovais”, com o apoio de várias empresas luverdenses. Salete contou que não sabia andar de bicicleta, mas ganhou uma do marido, aprendeu a andar, amarrou a sacola de enxovais na garupa e saiu a vender. Depois, começou a trabalhar com venda de cosméticos, produtos para o lar e também metais (joias e semijoias), ajudando dessa forma na compra do material para a construção da casa em que mora até hoje com seu esposo. Todo esse sofrimento durou alguns anos, pois só juntando dinheiro para comprar o material e deixar estocado na loja foram dois anos, pois seu esposo era balconista e não sobrava muito dinheiro, principalmente com três meninos para criar. Quando Célio viu que estava difícil ‘fazer o pé de meia’, resolveu que tentariam mais um pouco, e se não conseguissem voltariam para a casa dos pais dele, em Capinzal – SC. Mas Salete bateu o pé, dizendo que dessa vez não o acompanharia, que juntos poderiam sim mudar a situação em que se encontravam, e dessa forma aconteceu.

Salete diz ser muito feliz aqui. “Esse é o lugar que Deus prometeu para nós. Não tenho intenção de sair daqui mais. Aqui nós nos estabelecemos, nossos filhos cresceram formaram família também, eu trabalho na mesma escola há 17 anos, fiz faculdade, especialização, e hoje eu digo que estou em uma terra prometida e abençoada, que valeu a pena todo o sofrimento, toda aquela dificuldade que a gente passou. Tem uma passagem da Bíblia que eu gosto muito, que é ‘…comerás até o fim de seus dias com o suor do teu rosto’. E foi justamente com o suor do nosso rosto que a gente sobreviveu aqui”. Ela contou que foi sorteada várias vezes, ganhando moto e carro, além de outros prêmios de menor valor. Fazia pão caseiro para a família, pizzas, sanduíches, tudo o que os filhos tinham vontade de comer, pois não tinham condições de levá-los para comer fora. Se associaram ao Clube Siriema, e as crianças passavam o domingo inteiro dentro da piscina, levados de bicicleta pela mãe. Ela ainda falou sobre a gestão do município: “Cada gestor que passou pela administração de Lucas deixou sua contribuição para o crescimento da nossa cidade. E a gente foi acompanhando essa evolução. Sou grata a todos pelo desenvolvimento trazido”.

Salete expressou novamente sua felicidade: “Sou muito feliz porque o que eu imaginava ter, eu tenho. Tenho o suficiente para viver, porque a gente deita e dorme com a cabeça tranquila. Dentro do nosso padrão de vivência nós vivemos muito bem, pois não gastamos com doenças, nossos filhos nunca deram problemas, sempre foram muito responsáveis, agradeço muito a Deus, porque é Ele que nos abençoa com o que a gente tem e da forma que nós somos. Então, eu tenho o suficiente para viver, não preciso mais que isso. Tenho uma família linda, maravilhosa, tenho um esposo maravilhoso, muito companheiro, temos muitos amigos, e somos felizes aqui”.

Andréa Campanelli é uma dedicada redatora do CenárioMT, onde traz notícias sobre a cidade e o cotidiano diário. Com um olhar atento aos eventos locais, ela se empenha em informar a comunidade sobre o que realmente importa, destacando histórias que refletem a vida dos moradores e as dinâmicas da região.