Cada tijolo produzido com a ajuda de Clemilson Jarcem na fábrica de blocos, anexa ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Lucas do Rio Verde, o deixam um tanto mais próximo da realização de alguns sonhos: sair da prisão, ajudar a família, ter uma profissão e seu próprio sustento, longe do crime.
De ritmo bastante frenético, porém organizado, o trabalho na fábrica de blocos e artefatos de concreto, que conta também com serviços de serralheria, é executado somente pelos reeducandos. E se engana quem pensa que essa tarefa é fácil: para ser selecionado para as vagas é preciso ter, no mínimo, comportamento excelente.
Jarcem, reeducando de 37 anos, trabalha na fábrica há cerca de dois. De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), a cada três dias trabalhados um dia da pena é reduzido. Além da remição da pena, em troca do mês trabalhado, eles recebem um salário-mínimo, que é dividido em três partes.
“É um projeto abençoado por Deus, que abre a mente de muitas pessoas para sair daqui melhor, ter uma família, conseguir um bom emprego”, comentou o detento sobre a oportunidade de aprender um ofício.
Parte do dinheiro fica com a família do reeducando, enquanto a outra parte custeia pequenas despesas dentro da unidade, como comprando produtos na cantina. A terceira parte desse valor vai para uma conta poupança, que será resgatado quando ele conseguir o alvará de soltura.
Para trabalhar na fábrica é preciso que o preso já tenha sido condenado e, conforme a Sesp, o que se analisa é o perfil e não o crime cometido.
“É uma fábrica muito versátil para o município de produtos feitos com concreto. Podemos produzir qualquer coisa que seja possível fazer a forma e de transportar o artefato depois de pronto”, explicou Alexandre Orbolato, secretário de Infraestrutura e Obras.
Nomeado Espaço de Trabalho Vida Nova, o projeto é realidade graças à parceria entre a Prefeitura de Lucas do Rio Verde, a Fundação Nova Chance (Funac) e Conselho da Comunidade de Lucas, Poder Judiciário e a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. Atualmente, 36 homens trabalham na fábrica.
“A fábrica aqui em Lucas foi montada em meados de 2013 e desse período para cá só tivemos bons resultados”, disse o diretor da unidade prisional, Ronaldo Frutuoso.
Ajuda mutua
Enquanto os internos do CDP recebem uma nova chance (inclusive, nome dado à fundação que os coordena), as ruas, parques e prédios públicos da cidade são beneficiadas com a produção. Pontos de ônibus, blocos e tijolos, floreiras e vasos, guias de calçadas e até tubulações: tudo feito na cidade para a cidade.
Para o secretário de Segurança e Trânsito do município, Paulo Nunes, o trabalho de ressocialização é exemplo por oferecer a oportunidade de que os internos tenham uma profissão.
“O programa que temos aqui, entre Prefeitura e Estado, atende pessoas que estão no CDP e podem ter uma renda. É uma ótimo iniciativa para auxiliar a inserir essas pessoas no mercado de trabalho”, destacou Paulo.