Lucas do Rio Verde, terra acolhedora, que ora abriga moradores vindos de todas as regiões do Brasil, inicialmente recebeu desbravadores oriundos inicialmente do Sul do país. Definida como “aconchegante” por nossa entrevistada Eliza Techio, que chegou à cidade apenas cinco meses após sua emancipação, em janeiro de 1989. Vinda do Distrito de Pinhalzinho, em Liberato Salzano – RS apenas cinco dias após seu casamento com o vereador Jiloir Pelicioli (Mano) – hoje seu ex esposo, Eliza contou que morou alguns meses com o irmão Eledir na fazenda, e logo veio para a cidade. Seus pais vieram quatro anos depois.
Ela disse que naquela época havia cerca de mil habitantes no município. As fazendas eram distantes umas das outras, na cidade não havia asfalto, a energia elétrica era “tocada” a motor, e não estava disponível as 24 horas do dia. Existia apenas três avenidas: Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná.
Eliza morava no bairro Menino Deus e trabalhou por seis anos em um laboratório próximo ao Hospital que ficava onde hoje é uma galeria, em frente à Praça dos Migrantes, no centro de Lucas, porém havia outro hospital onde hoje funciona o PSF Central. Naquela época, ela colhia material para análise nos dois hospitais existentes. Esse trajeto era feito de bicicleta, e como não existia asfalto, na seca a poeira era tanta que chegava a ter um palmo (cerca de 20 centímetros) de terra fofa, solta no chão. Na época das águas, quando chovia torrencialmente todos os dias por seis meses seguidos, o barro virava um atoleiro. Dando várias risadas, Eliza lembrou de um episódio inusitado: um tombo cinematográfico de bicicleta, no meio do poeirão, na baixada da Avenida Mato Grosso, quando a roda da frente da bicicleta afundou na poeira e travou, fazendo com que ela caísse e rolasse na terra.
Saudosa, nossa entrevistada recordou como a cidade era tranquila. Segundo ela, naquela época “podia deixar as coisas para fora de casa, até dormir com a porta aberta, que não acontecia nada”. Praticamente todos se conheciam, conversava-se bastante, as rodas de chimarrão eram frequentes, e também havia diversão garantida nos encontros de fim de semana, onde amigos, vizinhos e familiares se reuniam para participar de torneios de futebol, inclusive no interior. O meio de transporte mais comum era o caminhão: todos subiam na caçamba e iam para o jogo, carregando os apetrechos para um bom churrasco, claro. Na volta, as pessoas dividiam o espaço nas carrocerias com os prêmios do torneio, normalmente cabras, novilhas e porcos.
Em Lucas existia o PS (Posto de Serviços) da Telemat, empresa de telefonia do Estado, onde as pessoas passavam até metade do dia na fila para conseguir falar por alguns minutos com os parentes na região Sul do país. Tudo era muito difícil, inclusive em se tratando de saúde, pois o único médico que trabalhava aqui não conseguia atender a população a contento, pois não havia estrutura para trabalhar. As condições eram precárias. Parto Cesariana só em Sorriso, cujas condições eram melhores do que em Lucas, apesar de ambas cidades terem quase a mesma idade. As estradas eram verdadeiros atoleiros nas chuvas, e na seca era buraco que não acabava mais.
Em se tratando de política, Eliza conta que “época de campanha era muito divertido, pois não havia a maldade que existe de alguns anos para cá. Havia muita discussão, muitas brigas, porém nada muito sério”. Tanto que, terminado o pleito eleitoral, todos voltavam às boas novamente. Àquela época, por volta de 1990, até prisão houve! Nossa entrevistada explanou sobre o boom de Lucas do Rio Verde, que aconteceu já na primeira gestão do então prefeito Otaviano Pivetta, quando a cidade cresceu “a passos largos”.
Um dos símbolos de união dos luverdenses, o Hospital São Lucas foi fruto de muito trabalho e doações da sociedade civil organizada e dos produtores rurais, como da mesma forma aconteceu o asfaltamento da MT 449, trazendo inúmeros benefícios a toda a população.
Eliza lembra com saudades da segurança que havia na cidade, onde as pessoas andavam nas ruas despreocupadamente, e podiam sentar nas calçadas para conversar com os vizinhos e amigos, sem o risco de assalto. Questionada acerca de uma lembrança alegre, ela relatou com brilho nos olhos e sorriso radiante que participou de absolutamente todas as edições da Expolucas, desde a primeira, quando vieram Leandro e Leonardo e abriram a festa cantando “Entre Tapas e Beijos”, hit da época. As primeiras edições foram marcantes para Eliza Techio, que relata que infelizmente não sente mais a mesma emoção atualmente. Segundo ela, apesar da simplicidade, antigamente o brilho era maior.
Finalizando a entrevista, Eliza diz se sentir grata à cidade que a acolheu desde os dezoito anos de idade, onde teve e criou as duas preciosidades de sua vida: seus filhos Luíza e Luizinho. Luverdense de alma e coração, ela espera que o município continue a crescer e a acolher as pessoas da mesma forma que ela foi acolhida, bem como sua família, há quase 30 anos atrás, e que os moradores de Lucas do Rio Verde possam escrever uma nova história de vida, repleta de lutas, vitórias e de inúmeros momentos de felicidade.