O senador Jayme Campos (DEM) afirmou que a possibilidade de intervenção na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), após o corte de energia ocorrido na unidade na terça-feira (16), é uma “babaquice”. Segundo ele, esta questão não pode ser politizada. Isso porque quem acabará perdendo com isto serão apenas os estudantes. Vale lembrar que o ministro da Educação, Abraham Weintraub acusou a reitora Myrian Serra de ter feito uma má administração da instituição.
“O que consta, é que a União, não tem repassado os recursos para nossa universidade. Haja vista que agora liberou R$ 4,5 milhões, após o corte de energia. Isso seria para que? Custeio, obras, folha de pagamento? Dizer que vai mandar apurar? Imagina. Acha que se a nossa reitora, o corpo administrativo, tivesse recurso no caixa não pagaria?”, disse o senador.
Jayme ainda acrescentou que a questão não pode ser politizada. “Dizer que isto é coisa política, só porque [a reitora] foi nomeada no governo da Dilma [Roussef]? Não é verdade. Ela é professora. Isso não leva a lugar nenhum, não é louvável, nem saudável”.
“Só quem perde é o estudante, que com a falta de luz não pode frequentar a sala de aula. É algo que não podemos levar para o campo político. Nossa reitora tem responsabilidade. Isso não tem fundamento. Essa questão de intervenção é uma babaquice”, finalizou.
O corte no fornecimento da energia elétrica nos cinco campi que compõem a Universidade (Cuiabá, Várzea Grande, Araguaia, Rondonópolis e Sinop), além da Base de Pesquisa do Pantanal e Casa do Estudante, ocorreu por volta das 10 horas da manhã de terça-feira (16). Os alunos se desesperaram e correram contra o tempo para salvar os animais e pesquisas nos laboratórios. No entanto, no Laboratório de Biociências, por exemplo, várias espécies de peixes usadas em pesquisa morreram. Por volta das 17 horas, o fornecimento foi restabelecido.
O MEC, em nota, pontuou que Weintraub tomará as medidas cabíveis tanto administrativas como judiciais para a responsabilização dos envolvidos pela má gestão na UFMT. “O ministro tomou conhecimento da situação na última quinta-feira (11) quando chamou a reitora ao Ministério e autorizou o repasse de R$ 4,5 milhões para que a reitoria da UFMT, nomeada há três anos, quitasse a dívida das contas de luz com a concessionária de Mato Grosso”, diz trecho da nota.
No entanto, o posicionamento da UFMT diz que a liberação só ocorreu após o corte, quando imediatamente um responsável se dirigiu até à Energisa para demonstrar o pagamento da fatura pendente. Com isso, a Energisa comprometeu-se a efetuar a religação da energia elétrica, o que ocorreu no final da tarde.
Por meio de um vídeo publicado no Twitter do deputado federal, José Medeiros (Podemos), Abraham Weintraub disse que a reitora Myrian Serra havia sido indicada pela ex-presidente petista Dilma Rousseff. A professora assumiu a gestão em 2016 e deve permanecer até 2020.
Entretanto, ela teve a preferência da comunidade universitária, em consulta informal realizada, em abril do mesmo ano, pelas entidades representativas de professores, técnicos administrativos e estudantes, para assumir a Reitoria. Em junho, o Colégio Eleitoral Especial indicou a professora como primeira da lista tríplice encaminhada ao MEC.
O ministro disse ainda que ficou sabendo da dívida na semana passada, quando, segundo ele, houve a liberação de R$ 4,5 milhões. Conforme noticiado pelo Olhar Direto, no dia cinco, ou seja, há duas semanas, Myrian teria se encontrado com Weintraub. O encontro, além de discutir as contas da instituição, teria como objetivo pedir dinheiro para o pagamento da energia elétrica que poderia ser cortada no mesmo dia, conforme prazo dado pela Concessionária Energisa.
Pedido de Medeiros
O deputado federal José Medeiros (Pode) enviou um ofício ao Ministério da Educação (MEC) para que seja realizada uma auditoria na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), tendo em vista as recentes acusações do titular da Pasta, Abraham Weintraub, de ingerência por parte da reitora Myrian Serra. O parlamentar solicitou também o afastamento da reitora até que as investigações estejam concluídas.
“A solicitação tem como base as recentes notícias veiculadas na mídia acerca do corte de luz nos cinco campis da Universidade, nas quais a reitora, a senhora Myrian Thereza Serra, culpa o contingenciamento do Governo pela falta de recursos para o pagamento da conta de luz. Contudo, V. Exª esclareceu que o MEC liberou R$ 4,5 milhões, na última sexta-feira (12/07/19) para o pagamento do débito da Universidade que somava R$ 1,8 milhão e que eram débitos anteriores ao anúncio do contingenciamento. Tais informações indicam que a gestão da atual reitora apresenta problemas, pois não se pode admitir que uma Universidade fique sem luz por culpa da reitoria. Por esta razão, mostra-se necessária a realização de uma auditoria na UFMT”, escreveu Medeiros, no documento endereçado ao ministro Weintraub.
Nesta quarta-feira (17), um dia após o “apagão” na Universidade, a reitora concedeu coletiva de imprensa e esclareceu que a dívida com a Energisa não havia sido paga em função da “burocracia bancária”, que impede transações acima de R$ 1 milhão/dia. Além disso, garantiu que o Ministério da Educação já estava ciente da situação.
Entenda
A unidade sofre com o corte de orçamento desde 2014, quando houve a redução da verba de custeio, relacionada às obras e equipamentos do câmpus. No entanto, em março deste ano, o Governo Federal anunciou o bloqueio de 30% na educação superior, que representa R$ 34 milhões para a Universidade.
Medeiros disse que defende a intervenção, mas não tem interesse nenhum de indicar uma pessoa ou atuar nos trabalhos. “Este era o meu trabalho como deputado, fazer este pedido ao ministro, que concordou”.
Em entrevista, Myrian Serra adiantou que a UFMT poderia ficar sem os serviços básicos como água e luz, caso o bloqueio não fosse revisto em até 60 dias, situação que não aconteceu.
Em maio, Myrian chegou a participar de uma audiência em Brasília, com o ministro da Educação, para debater os impactos do corte no orçamento universitário e outras questões referentes à pasta. Na ocasião, estiveram presente a bancada de deputados federais e senadores de Mato Grosso, além de outros representantes de instituições públicas de ensino superior do estado.
No dia 28 de junho, a UFMT informou que foi notificada pela empresa Energisa quanto à possibilidade de interrupção na prestação de serviços por falta de pagamento, mas que, em negociações, conseguiu o adiamento do prazo para a sexta-feira daquela semana.
A UFMT oferece 113 cursos de graduação, sendo 108 presenciais e cinco na modalidade a distância (EaD), em 33 cidades mato-grossenses. São cinco Campus e 28 pólos de EaD. Na pós-graduação, são 66 programas de mestrado e doutorado. A instituição atende 25.435 mil estudantes, distribuídos em todas as regiões de Mato Grosso.