O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) divulgou recentemente o Mapeamento Socioeconômico da Capoeira em Mato Grosso, estudo realizado entre 2022 e 2023. A pesquisa, que contou com a parceria da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT) e de entidades representativas da categoria, foi publicada na primeira edição da revista Observatório da Cultura. O trabalho reúne análises de diversos especialistas e gestores, consolidando-se como uma ferramenta estratégica para o acompanhamento da economia criativa e das políticas culturais no estado.
O objetivo central do levantamento foi identificar os detentores dos bens culturais “Ofício de Mestre e Mestra de Capoeira” e “Roda de Capoeira”, que são reconhecidos como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2008. Por meio de formulários eletrônicos divulgados em redes sociais, os pesquisadores buscaram construir um retrato fiel do cenário atual, abrangendo tanto o perfil dos praticantes quanto os contextos sociais em que a manifestação está inserida nos municípios mato-grossenses.
Os resultados revelam uma forte identidade étnica na prática, com aproximadamente 55,59% dos participantes autodeclarados pardos e 24,13% pretos, confirmando que a população negra é a principal protagonista da capoeira em Mato Grosso. Quanto aos mestres, a pesquisa destacou uma faixa etária predominante entre 40 e 59 anos, composta por indivíduos com mais de três décadas de dedicação à atividade, o que demonstra a importância da tradição e da experiência para a preservação desse saber.
No âmbito socioeconômico, o estudo apontou que a capoeira ainda convive com um índice significativo de informalidade. Embora cerca de 26% dos profissionais atuem como Microempreendedores Individuais (MEI), a maioria não possui as aulas de capoeira como sua fonte de renda exclusiva, sendo a atuação como educador físico a ocupação profissional primária para muitos dos envolvidos. Essa realidade reflete a necessidade de uma maior estruturação econômica para os detentores desse patrimônio.
Além dos aspectos financeiros, o mapeamento identificou barreiras sociais críticas, como o baixo reconhecimento por parte da sociedade e a carência de espaços públicos adequados para la realização das rodas. A comunidade capoeirista também relatou enfrentar desafios persistentes relacionados ao preconceito racial, de gênero e à intolerância religiosa, fatores que impactam diretamente a livre expressão dessa manifestação cultural.
Para o Iphan, os dados levantados são essenciais para o fortalecimento das ações de salvaguarda e promoção da capoeira. Ao detalhar as dimensões sociais e econômicas dessa expressão, o poder público ganha subsídios para criar políticas mais inclusivas e eficazes que garantam a continuidade dessa tradição e o respeito aos seus mestres e praticantes em todo o território estadual.























