Após seis meses de investigações que incluíram diversas diligências, análise de informações, depoimentos, buscas e escavações para apurar o desaparecimento de Lucimar Fernandes Aragão, 40 anos, a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil em Cuiabá concluiu que a estudante de direito foi morta pelo ex-companheiro, de 39 anos, que ocultou seu corpo após o crime.
Lucimar desapareceu no mês de maio do ano passado. A mãe dela procurou a Polícia Civil em agosto para informar que não tinha mais notícias da filha, que não ficava um tempo tão longo sem contato, e o celular estava desligado. A mãe informou ainda na época do registro do desaparecimento que foi até a residência de Lucimar e encontrou a casa e o carro com aspectos de abandono.
A partir da ocorrência registrada no Núcleo de Pessoas Desaparecidas da DHPP, a Polícia Civil iniciou as buscas pelo paradeiro da vítima, sendo instaurado inquérito cuja principal linha de investigação levou ao namorado com quem ela manteve um relacionamento conturbado. Pouco menos de um mês antes de Lucimar desaparecer, o investigado foi preso por violência doméstica praticada contra ela e passou a ser monitorado por tornozeleira eletrônica.
Quando Lucimar desapareceu?
No inquérito policial conduzido inicialmente pelo delegado Anderson Veiga, que depois teve continuidade com o delegado Fausto Freitas – titular da DHPP e atual responsável pelo NPD – foram anexadas evidências de que o último sinal real de vida da vítima foi registrado entre a madrugada de 17 para 18 de maio do ano passado.
Conforme registros telefônicos analisados, entre quatro e cinco horas da manhã ela fez contato com um amigo dizendo que brigou com o namorado e estava com medo de ser agredida. Mais outras três tentativas de ligações foram feitas do celular de Lucimar, uma delas para o número 190, ligação que foi interrompida. A partir de então, não se teve mais contato dela.
O suspeito informou aos policiais civis que a vítima teria ido até a casa dele e ao acordar se deparou com ela na porta da residência. Ainda segundo declaração dele, ambos conversaram, se despediram e ele saiu para o trabalho informando que após esse momento, Lucimar não fez mais contato.
As investigações levantaram várias contradições e mentiras nas declarações do suspeito, que alegou não ter procurado a polícia após constatado o alegado desaparecimento da vítima porque ela já teria sumido outras vezes. Ele ainda alegou que tentou falar com Lucimar por telefone e aplicativo de mensagens, o que foi constatado na apuração da DHPP que era mentira, pois não foram encontradas evidências dessas tentativas de ligação ou envio de mensagens.
O investigado ainda alegou que a vítima teria dito que ia viajar para o interior do estado. “Tal informação foi checada pela Polícia, que constatou que a Lucimar não esteve na cidade mencionada. Todos os vestígios encontrados reforçam a convicção de que foi vítima de um crime contra a vida, seguido de ocultação de cadáver”, explicou Fausto Freitas.
Outras informações foram checadas pela equipe do Núcleo de Pessoas Desaparecidas para averiguar a perda de contato familiar da vítima e foi constatado que ela não deixava de manter contato com o filho.
Buscas na casa
A casa da vítima, no bairro Parque Geórgia, pode ter motivado a desavença entre ela e o suspeito do crime. A apuração sobre o desaparecimento constatou que Lucimar tinha informado a um amigo que pediu ao suspeito para sair do imóvel que ela havia comprado, mas que ele havia se negado a deixar a casa.
No imóvel, a equipe do NPD realizou buscas, com mandado judicial, inclusive com escavações para procurar vestígios do corpo da vítima, mas nada foi localizado. No carro dela que estava na casa, uma camionete modelo S10, foram encontrados vestígios de sangue humano, que foi coletado para exame pericial e confronto genético para confirmar se é da vítima ou não. Exame está andamento na Politec. A casa estava em construção e o rebocamento e pintura de paredes, assentamento de pisos pode ter ocultado vestígios do crime.
O delegado Fausto Freitas ressaltou que a investigação foi concluída em razão do prazo processual, uma vez que o principal suspeito do crime está preso, contudo, novas diligências serão realizadas para localização do corpo da vítima. “Com todo o material coletado é possível concluir a investigação de um crime contra a vida, ainda que não se tenha o corpo ou restos mortais da vítima. É investigação complexa, mas o aparato tecnológico à disposição da Polícia e as evidências encontradas não impedem a responsabilização do investigado”.
Prisão do suspeito
O homem investigado foi preso no final de janeiro, após diligências da DHPP para localizá-lo e cumprir o mandado expedido pela 1a Vara Especializada da Violência Doméstica de Cuiabá com base em pedido do Ministério Público, que viu indícios de autoria e materialidade delitiva.
Ele ficou escondido inicialmente em uma fazenda no município de Cáceres, onde a equipe policial realizou um cerco para prendê-lo, mas ele conseguiu escapar. Posteriormente, ele veio para Várzea Grande, onde se escondeu no apartamento de um familiar, contudo, foi localizado pela equipe do NPD. Em interrogatório, o homem de 39 anos negou o crime.
O investigado foi indiciado pelos crimes de homicídio com qualificadora em feminicídio e ocultação de cadáver. Ele tem antecedentes criminais por homicídio, roubo, sequestro e cárcere privado, furto, violência doméstica, e uma condenação por homicídio.