A comunidade indígena Umutina, localizada em Mato Grosso, vive um drama que se arrasta há 17 anos. Um derramamento de vinhaça, resíduo da produção de álcool, no Rio Bugres contaminou a principal fonte de água e alimento da comunidade, causando um impacto devastador em sua cultura e modo de vida.
A pesca, atividade central na cultura e subsistência dos Umutina, foi completamente comprometida. “Não podemos mais pescar como antes. Perdemos nossa fonte de alimentação e renda, mas também perdemos parte de nossa cultura”, lamenta Filadelfo de Oliveira Neto, presidente da Associação Indígena Balatiponé.
A contaminação do rio resultou em deformações nos peixes, o que, além de afetar a segurança alimentar, também interrompeu a tradicional Festa do Timbó, uma celebração cultural fundamental para a comunidade.
Danos irreparáveis e busca por justiça em Mato Grosso
Uma perícia realizada pelo Ministério Público Federal em 2022 confirmou os danos antropológicos sofridos pelos indígenas de Mato Grosso. Muitas famílias foram forçadas a abandonar suas casas e até mesmo o cemitério ancestral em busca de água limpa e um lugar seguro para viver.
“A água ficou contaminada, e tivemos que criar outra aldeia, longe do nosso lugar original. As perças foram muitas, tanto materiais quanto culturais”, desabafa o cacique Cacildo Amajunepá.
Diante da gravidade da situação, os indígenas buscam uma indenização que contemple os danos ambientais, morais e materiais sofridos. A advogada Cássia Souza Lourenço, que representa a comunidade, explica que a proposta da empresa responsável pelo derramamento é insuficiente. “Os impactos devastadores incluem a perda de peixes, a deterioração da água, o surgimento de doenças e a desintegração cultural. A reparação ambiental foi avaliada em R$ 2 milhões, mas defendemos R$ 10 mil por danos morais para cada família e R$ 22,3 milhões por danos materiais”, afirma a advogada.