O trabalho preventivo das equipes multidisciplinares do Programa Saúde na Escola (PSE) tem procurado conscientizar os alunos da rede municipal de ensino sobre as dificuldades decorrentes de uma gravidez indesejada, principalmente na adolescência. Esta semana, estudantes de 8º e 9º anos da Escola Olavo Bilac ficaram frente a frente com um médico, uma assistente social e dois agentes comunitários integrantes do PSE e, após a palestra, puderam fazer perguntas e debater outros aspectos relacionados à questão.
Nas salas de aula, a sexualidade, tão natural e ainda pouco discutida abertamente em grande parte das famílias, torna-se um tema polêmico de grande interesse entre crianças e jovens e o tratamento do assunto sem preconceitos acaba sendo uma oportunidade para tirar a limpo muitas dúvidas.
O médico Fernando Quintana destacou que a passagem da infância para a adolescência provoca uma série de transformações corporais e o despertar da sexualidade, com o surgimento de impulsos e desejos provocados pela intensificação da atividade hormonal. “A equipe busca passar o maior conhecimento possível sobre o assunto exatamente para que eles tenham informações corretas e se previnam em relação a doenças sexualmente transmissíveis, as DSTs, gravidez indesejada e também para que tenham amor próprio e respeito por si mesmo e pelo outro”, diz.
Segundo Quintana, como o tempo para que se dê a iniciação sexual varia bastante e a questão costuma ser tratada de maneira desigual pelas próprias famílias, o grau de curiosidade também se manifesta de diferentes maneiras. “As dúvidas são muitas e apesar do uso da internet e do amplo acesso a informações que não se tinha anteriormente, é muito preocupante o grande número de adolescentes que aparecem nos PSFs e que se viram privados de dar continuidade aos estudos por causa de uma gravidez precoce porque achavam que esse tipo de coisa só acontece com seus colegas”, relata.
Aluna do 8º ano, Emily Vitória de França da Silva, de 13 anos, disse que não se sente à vontade para tratar de questões sexuais em casa e que falar sobre isso no ambiente escolar e com os amigos muda tudo. “A gente tem vergonha de compartilhar esse assunto com os pais e muito medo do que eles possam dizer ou ficar pensando a nosso respeito. Aqui é bem mais fácil porque a gente conhece os colegas, faz amizades e pode conversar sem receio de ser mal interpretado”, conta.
Integrante do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (Nasf), a assistente social Eliane Paranhos leva uma série de materiais informativos para exibir aos alunos durante as palestras. Para ela, a falta de diálogo familiar continua sendo o ponto falho na educação sexual. “Sempre procuro abordar a transição da infância para a fase da puberdade, o que acontece com o nosso corpo, os cuidados necessários, o período menstrual, os métodos de prevenção da gravidez e de DSTs, tudo aquilo que a maioria não tem coragem de perguntar aos pais.”
Segundo relatórios de 2018 da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil apresenta a média de 68,4 bebês nascidos de mães adolescentes a cada mil meninas de 15 a 19 anos, número acima da média latino-americana, que é de 65,5/mil, e da média mundial, de 46 bebês para cada mil meninas na mesma faixa etária.
Além de dificultar o desenvolvimento psicossocial das jovens mães e de aumentar o risco de geração de filhos frágeis e mais propensos à pobreza, os números indicam que a mortalidade materna tem sido uma das principais causas de morte de adolescentes e jovens entre os países da América Latina.