O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso, Maurício Munhoz, é um defensor dos investimentos em cursos profissionalizantes priorizando os jovens de comunidades periféricas.
Segundo ele, o ‘cérebro’ (termo utilizado para descrever pessoas de QI elevado) não escolhe o lugar para nascer, logo é preciso disponibilizar ferramentas para que esses jovens possam se desenvolver.
“Pode ser que em uma comunidade periférica tenha um menino, ou uma menina que seja um gênio, e talvez nunca seja descoberto. Por isso a gente tem que ampliar essas oportunidades para que novos talentos apareçam”, disse em entrevista ao MidiaNews.
A secretaria vem implantando projetos de incentivo aos estudos tecnológicos, como é o caso do edital assinado pelo secretário, e pelo governador Mauro Mendes, na última quarta-feira (26), que disponibiliza R$ 4,9 milhões para formação de profissionais de alta performance.
Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – Como foi para o senhor receber o desafio de assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação?
Maurício Munhoz – Eu entendi como uma grande oportunidade para mim, em primeiro lugar, poder contribuir com a sociedade de uma maneira mais efetiva, porque quando você tem uma secretaria como essa, você pode aumentar a oferta de curso de qualificação, porque essa oferta melhora a vida das pessoas.
E pelo lado da inovação nós temos aqui a tramitação de um Parque Tecnológico, e através disso também podemos mudar a vida da sociedade, porque nós estamos contribuindo para mudar a matriz econômica de Mato Grosso.
O Parque Tecnológico significa trazer mais tecnologia no trabalho, nas empresas, no processo de produção, então, eu vejo como uma grande oportunidade que o governador meu deu para poder contribuir ainda mais com o estado.
MidiaNews – O relatório de Indicadores Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação aponta que o país investe pouco (1%) quando comparado a outros países e ao seu potencial. Por que tão pouco investimento?
Maurício Munhoz – Eu acho que é cultural, e o Estado Brasileiro precisa estar recebendo mais projetos. Eu posso falar pelo governo de Mato Grosso, porque o governador Mauro Mendes foi muito sensível a tudo que solicitamos. Pedimos, por exemplo, junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), um recurso para novos laboratórios, e ele forneceu. Foram R$ 20 milhões, e já está em execução.
Eu acredito que faltam projetos que demonstrem para o Estado Brasileiro benefícios para a sociedade como um todo. Temos que buscar projetos que tenham utilidade na vida das pessoas, e em relação a demonstrar isso, às vezes as pessoas não sabem se comunicar.
A ciência e tecnologia precisa se comunicar melhor, porque quando a sociedade e o poder público entendem que investir em ciência e tecnologia é investir no cidadão, e na melhoria da qualidade de vida das pessoas, a gente consegue melhorar isso. Então acredito que seja falta de comunicação.
MidiaNews – Nota-se que muitos cientistas brasileiros preferem trabalhar no exterior devido à má remuneração e falta de oportunidades. Como mudar esse cenário?
Maurício Munhoz – Essa “fuga de cérebro” é um problema mundial. Os países subdesenvolvidos pagam menos, e os países desenvolvidos pagam mais, então é muito comum aqui no Brasil, na Argentina, na Turquia, que tem uma faixa salarial inferior aos países desenvolvidos, terem essa migração.
Esse é um processo que tem que ser conquistado aos poucos. O exemplo do curso de programação de novo vem à tona, porque, quando o governador decide investir nesse curso, e decide empregar 50 desses alunos, e trazê-los para o Estado com uma remuneração justa, é um esforço que está sendo feito nesse sentido, de você ‘segurar os nossos cérebros’.
Mas é muito mais do que isso, tem gente que prefere deixar o país pela insegurança que é viver no Brasil, portanto, tem coisas que acho que a gente pode melhorar, mas tem outras coisas que são questões macro. Então, sem dúvidas, essa fuga de cérebros é um grande desafio para nós.
MidiaNews – Como o senhor avalia a contribuição da Secretaria hoje no desenvolvimento tecnológico de Mato Grosso?
Maurício Munhoz – Ela tem estudado como a tecnologia está presente no estado de Mato Grosso, e não temos uma resposta única para isso. Por exemplo, o agronegócio, que é a nossa principal matriz econômica, tem uma tecnologia de ponta; inclusive, a tecnologia que é produzida aqui serve de exemplo para o resto do mundo, porém essa tecnologia não está presente em outras fases da produção. Diante disso, acredito que temos que buscar atender cada vez mais o cidadão comum, para que ele também tenha acesso à tecnologia.
MidiaNews – O senhor citou o Parque Tecnológico. Qual a importância dele para o Estado?
Maurício Munhoz – Nós temos que agregar valor à produção de Mato Grosso, não podemos ser apenas um Estado primário exportador, nós temos que mudar essa matriz, melhorar.
Em algumas regiões do Estado isso já está acontecendo. O Parque Tecnológico deve servir como um grande desafio para todo mundo entender que o estado precisa buscar se adequar à tecnologia que está no mundo.
Nos últimos três anos os dados do IBGE mostraram que há regiões que já estão sendo mais industriais, voltadas para o comércio, mais “de serviço”. Então o Parque Tecnológico tem especialmente esse papel, de ajudar a transição da economia do Estado, para que Mato Grosso possa desfrutar cada vez mais de sua tecnologia em processos produtivos.
Quando você utiliza mais tecnologia, você emprega pessoas com mais especializações, porém, o Estado carece de profissionais de alta performance tecnológica. Você pode trazer essa pessoa de fora, mas também podemos qualificar alguém daqui, porque a secretaria e o parque estão ligados às nossas escolas, e cada uma delas está produzindo pesquisas científicas.
MidiaNews – A carreta do Projeto ‘MT Ciências’ completa 5 anos agora em 2022. De que forma ela contribui para o desenvolvimento da ciência e tecnologia do Estado?
Maurício Munhoz – Nós temos aqui uma política muito interessante de popularização da ciência também, inclusive uma carreta, a maior do Brasil no segmento. A carreta nos leva a lugares remotos, onde muitas crianças, ao entrarem, ficam fascinadas com as diversas experiências científicas que ela possui.
A ideia de estimular a ciência é válida, nós queremos fazer isso com a sociedade, mas especialmente com as nossas escolas. Por isso a gente precisa que os professores se empenhem nisso.
Por que não teríamos um futuro Einstein em Cuiabá? O ‘cérebro’ não escolhe um lugar para nascer, sendo assim, pode ser que em uma comunidade periférica tenha um menino, ou menina que seja um gênio, e talvez nunca venha a ser descoberto. Por isso, temos que ampliar essas oportunidades para que novos talentos apareçam.
MidiaNews – De que outras formas a Seciteci pretende estimular ainda mais as inovações mato-grossenses?
Maurício Munhoz – A gente está desenvolvendo um projeto bem legal, com a Puc do Rio de Janeiro, chamado “Campo Conectado”. Estamos levando para a pequena agricultura a ideia de conectar o campo via internet, para que possa através de drones fazer varreduras e análises, a fim de melhorar as produções em seus campos.
O agronegócio já faz isso, mas nós queremos levar para a pequena agricultura. A ideia é que a gente consiga ofertar para a pequena agricultura essa tecnologia, mas que ela utilize isso para melhorar, por exemplo, para identificar a qualidade do solo.
Estamos também realizando um seminário chamado “Parque Tecnológico – Pensando Mato Grosso”. Esse seminário vai falar sobre as mudanças climáticas, e a energia. Pensando no futuro do Estado, o seminário vai trazer especialistas com informações sobre o tema.
Estamos com muita coisa acontecendo aqui, assim como o projeto ‘Inova Mato Grosso’, por exemplo, que é uma premiação em reconhecimento às empresas de micro, pequeno e médio portes multisetoriais que, ao longo do ano, empregaram esforços na aplicação e gestão da inovação. Esse projeto também é para estimular que as nossas empresas melhorem a capacidade de inovação delas.
MidiaNews – Neste ano acontecerá a 27ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-27) no Egito, que conta também com a sua presença. Quais as expectativas para este próximo encontro?
Maurício Munhoz – Nós vamos lá para lançar, em parceria com o governo do Estado, a Secom, uma plataforma chamada MTVerso, que é um escritório de negócios do governo de Mato Grosso no Metaverso.
Comigo está indo o professor Robinho, da Unemat, e o Matheus Partali, aqui de Cuiabá, que nos ajudou muito no desenvolvimento disso tudo. Esse escritório vai também oportunizar para que quem estiver passando pelo nosso stand lá, veja um pouco sobre Mato Grosso através do metaverso.
Inclusive o Metaverso a gente também está lançando nas escolas. Mas também a gente vai lá pra tentar nos inteirar, nos relacionar mais com o mundo, para descobrirmos o que o mundo está desenvolvendo em tecnologia para o meio ambiente.
Agora nós podemos ajudar no desenvolvimento de tecnologias para plataformas, e compreensão de mudanças climáticas, esse é o nosso papel, e a gente vai buscar, nessa COP, manter relação com o que o mundo está fazendo nesse sentido, para ajudar justamente a secretaria de meio ambiente, ajudar o setor produtivo a entender um pouco mais quais são os efeitos dessas mudanças climáticas, e se teremos ameaças pela frente.
Então a gente quer ajudar, quer que a ciência e tecnologia ajude a secretaria de meio ambiente a interpretar melhor essas mudanças climáticas.