“Fazemos o papel de acolher e amar os pacientes, mostrar que não estão sozinhos”, relata profissional da saúde na linha de frente da Covid-19

Em Mato Grosso, dos oito Hospitais Regionais geridos diretamente pelo Estado, seis são administrados por mulheres

Fonte: CenárioMT

“Fazemos o papel de acolher e amar os pacientes mostrar que não estão sozinhos relata profissional da saúde na linha de frente da Covid 192021 03 09 19:21:16
O Hospital Metropolitano é totalmente destinado ao tratamento de pacientes com coronavírus. - Foto por: Michel Alvim | Secom-MT

Diante da pandemia que devastou o mundo por meio da propagação do coronavírus, a força, o profissionalismo e a dedicação das mulheres que atuam como trabalhadoras da saúde continuam sendo determinantes no combate à doença. Em Mato Grosso, dos oito Hospitais Regionais geridos diretamente pelo Estado, seis são administrados por mulheres.

Considerando todas as unidades ligadas à Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT), há um total de 341 cargos de liderança, sendo que 217 são ocupados por mulheres. Dos 16 Escritórios Regionais de Saúde mantidos pelo Estado, 13 são dirigidos por servidoras mulheres.

Nos hospitais de referência para o tratamento da Covid-19, transitam não somente as trabalhadoras do Sistema Único de Saúde (SUS), mas sim algumas histórias únicas de vida, com adornos que não são tão palpáveis quanto a face shield, a máscara N9 e os demais itens de proteção individual.

A técnica de enfermagem Luiza Batista de Almeida foi a primeira trabalhadora da saúde a receber a vacina contra a Covid-19 em Mato Grosso. A profissional atua na ala intensiva do Hospital Metropolitano, em Várzea Grande, que é totalmente destinado ao tratamento de pacientes com coronavírus.

Luiza expressou o alívio por ter sido imunizada e destacou o empenho e o esforço dedicados ao combate à Covid-19. “No começo foi desesperador. Como não conhecíamos muito sobre a doença, eu precisei me afastar dos meus filhos e tive que morar sozinha. Eu não podia abandonar [o hospital], seria menos um soldado. Se eu escolhi essa profissão, eu tinha que ir até o fim. Essa foi a maneira de estar mais próxima da vontade de Deus, cuidando e amando aquela pessoa que você nem conhece. Nós fazemos o papel de acolher e amar os pacientes, mostrar para eles que não estão sozinhos.”

A técnica de enfermagem ainda pontuou a difícil missão de ser profissional da saúde em momentos de colapso da rede assistencial. “É muito doído alguém segurar na sua mão e falar: ‘não me deixe morrer, eu tenho dois filhos’”.

A médica intensivista Karla Lorena dos Santos também atua no Hospital Metropolitano. Com 76 pacientes internados, a unidade hospitalar registra 95% de ocupação dos leitos de UTI; o hospital mantém 80 leitos de Terapia Intesiva e 178 leitos de enfermaria.

“Eu costumo dizer que, quando a gente faz medicina, a gente faz para salvar vidas e para cuidar do próximo, mas eu nunca imaginei que a minha profissão faria tanta diferença em um momento tão ímpar. Me sinto privilegiada por poder cuidar de pessoas neste momento tão delicado.”

Karla ainda pondera a importância da empatia na rotina hospitalar e médica. “Eu sou muito visceral, me apego aos pacientes e acho que isso é empatia. Empatia não é você sentir a dor do outro, empatia é você ver a necessidade do outro e poder proporcionar um bom dia, um sorriso, uma palavra de consolo, um apoio aos familiares ou uma chamada de vídeo. É explicar, no momento de uma intubação, o porquê do paciente passar por isso. É entender que o paciente não é mais um leito, ele é o amor da vida de alguém.”

Servidora do Hospital Metropolitano desde 2014, a fisioterapeuta Viviane Basso também atua na linha de frente do combate à Covid-19 em Mato Grosso e destaca os grandes aprendizados da pandemia.

“No grupo da fisioterapia do hospital, somos 80% mulheres. No começo, nós ficamos em pânico, mas conforme foram passando os meses e nós fomos capacitados – o Governo capacitou muita gente –, nós fomos tendo mais confiança. A pandemia foi um incentivo para os profissionais da saúde se capacitarem mais, a conhecerem mais a parte da fisioterapia respiratória em ambulatórios e enfermarias.”

Viviane reforçou os sacrifícios pessoais, que ainda são necessários. “Na minha vida pessoal, o que afetou foi a questão de não podermos estar junto dos nossos familiares desde fevereiro do ano passado. A gente tem saudade, temos vontade de abraçar e, durante todo esse tempo, estamos restritos. Não tem sido fácil, mas estamos na luta contra a Covid-19 com muito amor e carinho.”

A enfermeira Gabriela Santos Benigno trabalha no Hospital Estadual Santa Casa e narra o peso da responsabilidade de atuar na linha de frente do combate ao vírus. “Não é fácil, mas o amor que eu tenho pela minha profissão e por ajudar o próximo é maior; é isso que me dá gás. O desgaste físico e mental é muito grande, mas em momento algum perdemos a esperança. Continuamos trabalhando e lutando para fazer o diferencial em cada vida que passa por nós. Trato com amor e cuido com amor, para que aquela pessoa consiga vencer.”

Já a fisioterapeuta e diretora do Hospital Estadual Santa Casa, Patrícia Neves, ressalta os grandes desafios profissionais e as renúncias feitas até mesmo por amor.

“Estar na linha de frente é gratificante, sobretudo por saber que a minha profissão está em ascensão e é totalmente valorizada. Já enquanto mulher, esposa e mãe, eu acho que me superei. Você ficar longe do seu filho e praticar esse amor, sabendo que você precisa poupá-lo. Estou há um ano na linha de frente, não tínhamos vacina, então tivemos que fazer a opção por estar longe dele. Hoje ele fica com meus pais e eu tenho certeza que é o melhor lugar do mundo para ele estar neste momento. Me sinto mais tranquila para desenvolver as minhas atividades no hospital”, concluiu.