O CenárioMT analisou com exclusividade os dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) e avaliados pelo Instituto de Pesquisa da Fecomércio de Mato Grosso (IPF-MT), que revelam uma virada importante no comportamento financeiro das famílias de Cuiabá.
Embora o nível de endividamento permaneça estável entre outubro e novembro — 84,8% — o número de famílias com contas em atraso voltou a crescer, passando de 16% para 17,1%.
Esse é o maior patamar desde julho, segundo séries históricas da CNC acessadas pela reportagem. A alta interrompe uma sequência de relativa estabilidade observada no segundo semestre de 2025.
Endividamento estabiliza, mas inadimplência sobe: o que isso significa?
Segundo o IPF-MT, a estabilidade no índice de famílias endividadas demonstra que as compras parceladas continuam presentes, mas sem expansão além do limite dos últimos meses. A inadimplência, por sua vez, permanece abaixo de 20% — considerado um limite de segurança pelas federações do setor — porém mostra sinal de alerta ao registrar nova alta.
O presidente da Fecomércio-MT, Wenceslau Júnior, ressalta que o movimento indica um comportamento mais defensivo da população:
“O aumento da inadimplência, combinado com a baixa confiança na quitação, mostra que as famílias estão mais cautelosas, priorizando gastos essenciais e adiando compras financiadas”, afirmou.
A pesquisa revela que:
- 38,2% acreditam conseguir pagar apenas parte das dívidas;
- 30,9% afirmam que não conseguirão quitar;
- 30,9% esperam pagar tudo.
Ou seja: mais da metade não prevê quitar integralmente seus débitos, o que reflete perda de capacidade de pagamento.
Cartão de crédito segue como maior vilão
O cartão de crédito continua sendo o principal responsável pelo endividamento em Cuiabá:
- 85,4% das famílias citam o cartão como dívida ativa
- 20,7% têm compromissos em carnês
- Financiamentos respondem por: 6,2% veículos, 4,9% imóveis e 4,7% crédito pessoal
A análise do CenárioMT indica que o peso do cartão aumentará nos próximos meses devido ao ciclo lento de queda da Selic, que mantém juros rotativos em patamares elevados — mesmo com inadimplência estável.
Comparação nacional: Cuiabá mantém vantagem, mas tendência preocupa
Enquanto Cuiabá registrou alta na inadimplência, o cenário nacional mostra leve melhora:
- Endividados no país caíram de 79,5% para 79,2%
- Inadimplentes recuaram de 5,23 milhões para 5,15 milhões
Esse contraste, segundo Wenceslau Júnior, reforça a particularidade regional:
“A relação entre população endividada e inadimplente se mostra mais positiva em Cuiabá do que na média nacional. Porém, o cenário exige atenção porque a inadimplência lá fora caiu — e aqui voltou a subir.”
Análise exclusiva CenárioMT: o que pode acontecer em 2026
Com base nos dados primários da CNC e nos históricos levantados pelo IPF-MT, o CenárioMT identifica três fatores que podem pressionar ainda mais o consumo no início de 2026:
1️⃣ Pressão do custo de vida
Cuiabá registra inflação de serviços acima da média nacional desde agosto, impactando alimentação fora do lar, transporte e energia — itens que reduzem a margem das famílias para pagar dívidas.
2️⃣ Estabilidade do crédito, mas com juros elevados
Mesmo com linhas de financiamento disponíveis, o custo efetivo total dos empréstimos continua alto, dificultando renegociações.
3️⃣ Renda estagnada e mercado informal forte
Segundo séries anteriores da CNC, famílias mato-grossenses dependem mais de rendas variáveis, o que aumenta a vulnerabilidade em momentos de oscilação econômica.
Caso esse conjunto persista, especialistas apontam risco de o índice de inadimplência ultrapassar 18% já no primeiro trimestre de 2026.
Sobre o Sistema S do Comércio
O Sistema S do Comércio em Mato Grosso — formado por Fecomércio, Sesc, Senac e IPF-MT — é presidido por Wenceslau Júnior e integra a Confederação Nacional do Comércio (CNC), comandada nacionalmente por José Roberto Tadros.





















