Estudo revela crescimento acelerado da organização criminosa e reforça debate sobre políticas de segurança e vulnerabilidade social no estado.
Em pouco mais de uma década, facção criada em Mato Grosso se estendeu por todas as 142 cidades, ampliando disputas e pressionando autoridades a repensar estratégias de enfrentamento
Mato Grosso — Atualizado na manhã desta quinta-feira, 20 de novembro — Um levantamento apresentado durante o curso “Lei de Drogas: Aspectos Jurídicos, Político-Criminais e Práticos” reacendeu o debate sobre a presença e o fortalecimento de facções criminosas em território mato-grossense. O estudo aponta que o Comando Vermelho, principal organização criminosa em atuação no estado, alcançou todos os 142 municípios de Mato Grosso em 2023 — um salto expressivo para um grupo que surgiu localmente há apenas 13 anos.
A expansão, segundo especialistas, revela a complexidade do fenômeno e reflete desafios históricos relacionados ao sistema prisional, à vulnerabilidade social e à ausência de políticas públicas integradas. A disseminação da facção segue tendência observada em outras regiões do país, especialmente na Amazônia Legal, onde disputas territoriais têm intensificado índices de violência.
Expansão acelerada em poucos anos
A presença do Comando Vermelho em Mato Grosso teve início em 2012, quando Sandro da Silva Rabelo, conhecido como “Sandro Louco”, retornou de um presídio federal e articulou, ao lado de outros detentos, a criação do braço regional da facção. A partir da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, surgiram os primeiros estatutos e batismos que estruturaram a rede criminosa.
Os números mostram crescimento vertiginoso: em 2020, a facção ocupava 51% das cidades; em 2021, 73%; em 2022, 81%. No ano seguinte, chegou a todos os municípios. O salto no número de integrantes também impressiona: de 450 membros em 2014, passou para 2,5 mil em 2017, alcançou 7 mil em 2018 e hoje, segundo o desembargador Orlando Perri, possui pelo menos 33 mil filiados.
A expansão ocorre mesmo com as principais lideranças encarceradas, o que reforça o diagnóstico de que o sistema prisional se tornou um ambiente propício para articulação de grupos criminosos, conforme destacam autoridades do Judiciário e pesquisadores da área.
Desafios estruturais no enfrentamento ao crime
Durante a apresentação dos dados, o juiz Anderson Clayton Dias Batista destacou que o enfrentamento às organizações criminosas exige ações articuladas em três frentes: fortalecimento do sistema prisional, combate à lavagem de dinheiro e aprimoramento da segurança pública. Batista alerta ainda para a infiltração de grupos criminosos em áreas diversas da sociedade, o que amplia riscos e dificulta respostas estatais.
Pesquisadores que estudam a dinâmica criminal na Amazônia Legal reforçam que políticas de encarceramento em massa contribuíram para o fortalecimento das facções. Aiala Couto, especialista do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), afirma que a falta de políticas efetivas de prevenção e inclusão social empurra jovens vulneráveis para o crime. Segundo ele, a atual estrutura de combate às drogas “produz fissuras sociais profundas” e cria terreno fértil para recrutamento.
Violência avança em cidades estratégicas
O crescimento das facções também tem se refletido no aumento dos índices de violência. Estudos citados por Aiala Couto mostram que seis municípios de Mato Grosso figuram entre os mais violentos da Amazônia Legal: Vila Bela da Santíssima Trindade, Nobres, Alto Paraguai, Barra do Bugres, Aripuanã e Sorriso. Vila Bela registrou aumento de 250% nas mortes violentas nos últimos três anos.
Essas localidades, segundo o pesquisador, são palco de intensas disputas entre facções rivais, que buscam dominar rotas, territórios e atividades ilícitas. O fenômeno reforça a necessidade de ações integradas entre estados da região amazônica e autoridades federais.
Alerta reforça debates sobre políticas públicas
O avanço do Comando Vermelho desperta preocupação de autoridades, pesquisadores e especialistas em segurança pública. Para eles, o enfrentamento ao crime organizado passa por medidas que vão além da repressão policial, envolvendo políticas de prevenção, inclusão, educação e fortalecimento de instituições públicas — especialmente no interior do estado.
Em municípios estratégicos como Sorriso e Barra do Garças, por exemplo, o tema tem ganhado espaço em debates políticos e na formulação de iniciativas voltadas à segurança, ao desenvolvimento social e ao atendimento a populações vulneráveis.
Conclusão
A presença do Comando Vermelho em todos os municípios de Mato Grosso evidencia a necessidade de respostas mais amplas, articuladas e permanentes para conter o avanço das facções. A combinação entre fortalecimento institucional, políticas públicas estruturadas e vigilância integrada pode definir o futuro do enfrentamento à criminalidade organizada no estado.
Para acompanhar análises, reportagens e atualizações sobre segurança em Mato Grosso, visite também a editoria Cenário Político.
Leia mais sobre a realidade do estado em: cenariomt.com.br/mato-grosso/.






















