Evitar aglomerações e manter as medidas de biossegurança são fundamentais para reduzir o contágio da Covid-19, afirma diretora da Santa Casa

evitar aglomeracoes e manter as medidas de biosseguranca sao fundamentais para reduzir o contagio da covid 19 afirma diretora da santa casa
Patricia Neves - Diretora do Hospital Santa Casa - Foto por: Tchélo Figueiredo - SECOM/MT

A diretora do Hospital Estadual Santa Casa, Patrícia Neves Dourado, alerta para o uso das máscaras, lavar as mãos ou desinfetar com álcool 70%, além de evitar aglomerações, para diminuir o contágio da Covid-19 em todo Estado. “A união faz a força”, pede.

Ela demonstrou preocupação com a alta transmissão do coronavírus em Mato Grosso, que tem demandado árduo trabalho dos profissionais de saúde há mais de um ano.

Na entrevista, Patrícia ainda fala das dificuldades do início da pandemia, quando se dividiu a Santa Casa em dois hospitais – um exclusivo para Covid –, da criação de protocolos de biossegurança e de tratamento e da angústia em não saber como repassar informações aos familiares sobre os pacientes.

Confira a entrevista na íntegra

Há um ano, estamos enfrentando a pandemia da Covid-19 e a senhora acompanha de perto a luta de muitos pacientes contra a doença. Como o hospital se preparou para enfrentar todas as dificuldades de uma doença ainda pouco conhecida pelos especialistas?

Patrícia Neves Dourado – No início da pandemia, nossa principal dificuldade foi como dividir um hospital, pois precisávamos manter os atendimentos aos pacientes de outras enfermidades, mas também garantir que os pacientes da Covid-19 fossem bem tratados.

As equipes da Secretaria de Saúde (SES) e do próprio hospital trabalharam para dividir a Santa Casa em dois hospitais – um para tratamento da Covid-19 e outro onde não paralisamos o atendimento aos demais pacientes de outras especialidades. Este foi nosso principal desafio.

O segundo foi montar toda uma estratégia de biossegurança para melhor atendimento aos dois hospitais em funcionamento na Santa Casa, evitando a transmissão do vírus aos profissionais e aos outros pacientes.

Tivemos total apoio do governador Mauro Mendes e do secretário Gilberto Figueiredo [Saúde] para tomar as decisões necessárias e, com isso, foram criados protocolos de biossegurança e de tratamento. Foi tudo muito bem desenhado e instituído, para que pudéssemos acomodar os dois hospitais.

Nesse período, quais foram os momentos mais marcantes e como a Santa Casa trabalhou para amenizar o sofrimento de pacientes e familiares?

Patrícia Neves Dourado – Considero como mais marcante, o começo da pandemia, quando tudo era ainda muito obscuro. Conforme íamos implantando os cuidados, o que muito nos marcou foi a dificuldade, por parte dos pacientes, de acesso às informações, por se tratar, naquele momento, de uma doença ainda desconhecida.

Sabíamos que era contagiosa, que não podíamos deixar parentes de pacientes entrando e saindo do hospital para obter informações. Esta situação nos deixou muito angustiados, porque, naquele momento, não sabíamos como trabalhar junto às famílias.

Temos visto a grande dificuldade na contratação de profissionais de saúde para ampliar leitos de UTI, não apenas na unidade, mas em todo o Estado. A senhora, que convive com esses profissionais de perto, percebe manifestações de cansaço na luta contra a Covid-19? Quais as principais dificuldades e como elas podem ser amenizadas?

Patrícia Neves Dourado – Creio que atualmente a dificuldade de contratação de profissionais da área de saúde é mundial.  Por se tratar de doença multissistêmica, exige equipe multiprofissional. Em todo o mundo, os profissionais há um ano combatem a doença, labutando em vários horários diferentes, em várias horas na semana. Um trabalho emocionalmente exaustivo, com cansaço físico muito grande, porque trata-se de uma doença totalmente diferente, com critérios de cuidados diferentes.

As dificuldades vêm sendo amenizadas ao longo do tempo. O secretário Gilberto teve essa sensibilidade de auxiliar os profissionais para um conforto psicológico e o Governo do Estado desenvolveu, por meio da Escola de Saúde Pública, vários meios, de forma online, para mitigar o esforço destes profissionais, como auxílio psicológico, atividades de pilates e terapia reiki, por exemplo. Também criamos rodas de conversa.

Já estamos há um ano neste enfrentamento. As pessoas passaram da fase da estafa, do cansaço, mas ainda tentamos minimizar este sofrimento. Há, sim, toda uma equipe muito cansada, muito exausta. Muitos foram contagiados, estão se recuperando das sequelas. Não muitas, mas é um cansaço físico diferente, com dores de cabeça e articulares. Este é o maior desafio dos profissionais da área de saúde.

De que forma a população pode colaborar para diminuir os problemas que a pandemia vem causando?

Patrícia Neves Dourado – É de suma importância se conscientizar de que o vírus só consegue se propagar, como vem acontecendo, a partir do momento em que pessoas contaminadas continuam circulando, se aglomerando.

O que nos preocupa são os pacientes assintomáticos, que não desenvolvem a doença na fase de infecção ou de inflamação, mas que transmitem o vírus. Portanto, há o risco de as pessoas mais vulneráveis serem contagiadas e desenvolverem a doença.

Esta é a nossa preocupação. Por isso, é fundamental o uso irrestrito da máscara, lavar as mãos, fazer assepsia com álcool sempre que possível e, principalmente, evitar aglomerações.

O hospital também coordena as ações desenvolvidas no Centro de Triagem, na Arena Pantanal. Qual a importância desse serviço no combate à pandemia?

Patrícia Neves Dourado – O Centro de Triagem foi uma decisão acertada do governador Mauro Mendes e tem sido um carro-chefe do Governo de Mato Grosso nessa luta contra o coronavírus.

Tenho atribuído este resultado ao Centro de Triagem, onde é feita a abordagem do paciente, que necessita de tratamento o quanto antes, de forma precoce. Com isso, conseguimos achatar a curva da contaminação.

Qualquer sintoma, que esteja relacionado à Covid-19, o paciente procura assistência e o Centro de Triagem é uma forma de prestar assistência básica a este paciente, que passa por uma triagem – de enfermagem, médica e, posteriormente, em casos mais graves, tomográfica, para no final receber medicação e ser monitorado.

A senhora já tirou alguma lição do que representa a pandemia e o que podemos aprender com ela? Qual a mensagem a senhora pode deixar?

Patrícia Neves Dourado – Em minha opinião, ainda estamos na fase de aprendizado. A pandemia traz várias lições, para nós profissionais da área de saúde, mas a ciência ainda busca explicações; estamos também em evolução nos estudos e no aprimoramento.

No geral, creio que a ascensão de outros profissionais, além do médico, foi de grande valia, porque para se cuidar de um paciente de Covid é preciso uma equipe multiprofissional.

A união faz a força. Nos grupos que se uniram, de diferentes especialidades e profissões, cada um tem papel primordial no tratamento da doença, na devolução do paciente à sociedade. Esta foi, em minha opinião, a grande lição.

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