Com o fim do vazio sanitário na última semana, produtores de Mato Grosso voltaram suas atenções para o volume de chuvas antes de iniciar o plantio de soja. Para o professor e PhD em Meteorologia, Luiz Carlos Molion, o cenário do clima para a safra 2023/24 ainda não está claro em razão de uma indefinição sobre o fenômeno El Niño.
Durante live realizada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Molion destaca que o Centro de Previsão Climática dos Estados Unidos (CPC) não aponta para um cenário claro. O CPC indica para probabilidades entre 40% e 66% de chances de um “Super El Niño”, com temperatura do oceano 1,5°C acima da média.
“O que significa isso em termos de probabilidade? Imagine uma moeda com duas faces, ‘cara’ e ‘coroa’, se der ‘cara’, temos um ‘Super El Niño’, se der ‘coroa’, não teremos”, exemplifica Molion. O especialista ainda cita que a atmosfera não se “acoplou” ao oceano, portanto, esse cenário se mantendo, a tendência é que as águas quentes se dissipem para o Pacífico Norte.
Crítico dos modelos climáticos globais, Molion usa o método de ‘similaridade’, onde avalia o cenário global do clima e encontra um ano anterior semelhante. Segundo ele, o ano que melhor se assemelha ao de 2023 é 2008. Para chegar à previsão, Molion considera os desvios de precipitação de 1991 a 2020, conforme indicação da Organização Meteorológica Mundial.
“Prever clima não é fácil, fica mais fácil quando a gente tem uma situação muito clara, como por exemplo, o El Niño bem estabelecido, como foi em 2015 e 2016, assim fica muito mais claro, nós sabemos como o as chuvas se comportam. Agora, numa situação como essa, que você tem água quente, a atmosfera não se acoplou, a previsão é muito difícil”, destaca Molion.
O professor ainda pontua que é necessário permanecer atento ao cenário para identificar eventuais mudanças de tendências. No entanto, a leitura do especialista no momento é que as chances de El Niño forte são pequenas. Por outro lado, há a possibilidade de um veranico no mês de janeiro, com redução de até 65% de chuvas no comparativo com o ano referência.
A previsão de Molion, que usa o município de Diamantino como referência, é que o trimestre julho-agosto-setembro vai encerrar com um volume de chuvas 60% inferior ao mesmo período de 2008, em 40 milímetros. Já no trimestre seguinte, outubro-novembro-dezembro, terá 10% a menos de precipitação, na casa dos 630 mm.
Para primeiro trimestre de 2024, a previsão é de um volume de chuvas 10% maior, em 930 mm, porém, em janeiro pode ter redução de até 65%. Mas, segundo Molion, esse veranico será compensado pelos meses de fevereiro e março, com aumento de 25% e 50%, respectivamente. Portanto, alerta ele, a colheita da oleaginosa pode ser afetada pelo excesso de chuvas.
Já o período ideal para o plantio, na avaliação do professor, seria no início de novembro.
“Contando com essas chuvas que vão acontecer e as que caíram agora, elas podem melhorar um pouco a umidade do solo. Então, eu estou vendo que a gente poderia começar a plantar já no início de novembro, pois mesmo que haja uma redução de chuvas em dezembro, ainda é um mês que chove muito, então, não vejo grandes problemas”, disse.