Documentário expõe situação de vulnerabilidade de refugiados venezuelanos no Brasil e MT

Filme visa retirar da invisibilidade cidadãos venezuelanos que se exilaram forçadamente em nosso país

Fonte: CenárioMT

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O projeto de documentário foi selecionado em edital da Lei Aldir Blanc, realizado pelo Governo de Mato Grosso via Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT) - Foto por: Jade Rainho

Intensificado em 2018, o fluxo migratório de venezuelanos para o Brasil tem impactado muitas cidades brasileiras que recebem refugiados da crise econômica, política e humanitária que vive a Venezuela.

É sobre a jornada desses imigrantes que trata o documentário de curta-metragem, “Hermanos, aqui estamos”, de Jade Rainho, prestes a ser lançado. Esse filme é uma produção da Cadju Filmes, por meio do selo Toda Vida é uma Obra de Arte, com coprodução da Galo de Briga Filmes.

A fome e o desemprego causado pela hiperinflação, a crise política interna e externa, e o isolamento diplomático do Governo de Nicolás Maduro, marca o drama vivido por inúmeras famílias venezuelanas, que buscam melhores condições de vida para suas famílias, trabalho com carteira assinada, educação para seus filhos e acesso à saúde pública.

O Brasil se tornou o país com a sexta maior concentração global de migrantes venezuelanos. Segundo dados da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), há mais de 264.000 venezuelanos no Brasil. A cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso, também está na rota dos refugiados venezuelanos. Até março de 2020, 984 pessoas chegaram à cidade.

O projeto de documentário foi selecionado em edital da Lei Aldir Blanc, realizado pelo Governo de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT) em parceria com o Governo Federal via Secretaria Nacional de Cultura do Ministério do Turismo.

Um tema urgente

“Ele aborda um tema presente e necessário em nosso tempo, ajudando a retirar da invisibilidade cidadãos venezuelanos que se exilaram forçadamente em nosso país e Estado em busca da sobrevivência de suas famílias, compondo hoje uma minoria social que se encontra em condições de extrema vulnerabilidade e comprometimento de direitos humanos básicos”.

Segundo a cineasta, “além de possibilitar o reconhecimento humano e identitário dessas pessoas, o filme trabalha para desfazer os véus da ignorância e do preconceito gerados pela desinformação e o distanciamento em relação a sua situação de vida. O cinema documental tem um papel fundamental em criar pontos de contato entre distintas realidades, atuando como uma potente ferramenta de sensibilização e transformação social”.

Além de “Hermanos, aqui estamos”, Jade finaliza outro curta-metragem e filma seu primeiro longa-metragem, um documentário financiado pelo MINC, com distribuição da Elo Company, através do Selo Elas.

Direitos humanos

Para produzir o documentário, Jade contou com suporte da historiadora Nathalia da Costa Amedi, que além de analisar a situação da crise migratória desde sua raiz histórica, apontou a necessidade de políticas públicas para mitigar o sofrimento do povo venezuelano.

“É latente a falta de estrutura para recebê-los, apesar do esforço das entidades não-governamentais e do poder público estadual e municipal. A presença dessa população refugiada e migrante venezuelana passou a ser perceptível no cenário da cidade, especialmente nos semáforos e em meio às rotatórias nas proximidades dos shoppings centers”.

Nestes locais, grupos de famílias se reúnem para pedir ajuda das pessoas que passam de carro. Empunhando placas de pedidos de ajuda, pedem dinheiro e/ou emprego para sustentar seus familiares. Muitos têm de levar os filhos menores dada a falta de vagas em creches.

“São tantos os percalços. As separações das famílias provocam uma desestruturação familiar. Quem vem para cá, está numa constante luta por sobrevivência e também, para poder ajudar os parentes que ficaram na Venezuela. Eles enviam dinheiro para ajuda-los”, explica a cineasta.

Alguns venezuelanos têm formação em nível superior, o que facilita a inserção no mercado de trabalho, porém, nem todos conseguem ter acesso a trabalhos na sua área de atuação, e acabam virando mão de obra barata nas cidades e trabalhando na informalidade. Uma das dificuldades enfrentadas pelas famílias venezuelanas em Cuiabá, é o acesso às creches para as crianças para que os pais possam trabalhar. Esse fato motivou a criação de uma associação para acolher imigrantes que chegam à Capital.

A luta sob a perspectiva feminina

Personagens do documentário também anseiam por políticas públicas e regularização de documentos. Muitas vezes, não conseguem legalizar sua situação para conseguir um emprego, por falta de documentos. Mas certamente que a luta contra o preconceito é uma das mais árduas. Para expor as nuances, a diretora escolheu a perspectiva feminina.

“Não queremos pedir dinheiro, mas a situação nos obriga”, diz Evelyn sobre constantes questionamentos nos semáforos de Cuiabá (MT). Outra venezuelana acolhida pela Casa do Imigrante, a adolescente Darelys relembra que há três anos a família tinha que escolher: ou comprava comida ou comprava material escolar. Ela ficou sem escola, mas logo, sem comida. Ambas, encontraram refúgio no Brasil.

Mulheres de várias idades, indígenas e não-indígenas, que tiveram que deixar a Venezuela para conseguir sobreviver, narram situações do contexto de crise generalizada neste país, crise econômica, política, humanitária e migratória.

Sensível à causa, a diretora dividiu o peso com essas mulheres, que tiveram que recomeçar em um lugar totalmente novo, com outro idioma, outra cultura e outros direitos.

Jade Rainho é poetisa, cineasta, documentarista, educadora e ativista pelos Direitos Humanos & da Natureza. Seu documentário de estreia, o curta-metragem Flor Brilhante e as Cicatrizes da Pedra, foi exibido em mais de 60 festivais, em 21 países e premiado no Brasil, Bolívia, Peru e México.

 

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