Desaparecido desde a tragédia causada pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), João Paulo Pizzoni Valadares Mattar, de 36 anos, que viveu em Mato Grosso por 20 anos, superou diversas limitações da doença rara chamada mielomeningocele, também conhecida como espinha bífida aberta. Em entrevista a irmã dele, Janaina Pizzani, de 42 anos, contou que ele corria o risco de não andar, segundo os médicos da época.
João, apesar de ter nascido em Belo Horizonte, se mudou para Arenápolis (a 242 quilômetros de Cuiabá) ainda criança, onde viveu por cerca de 20 anos. Neste período, ele lutou contra uma doença rara. Embora os médicos e pesquisadores não saibam ao certo porque a mielomeningocele ocorre, é possível elencar alguns fatores de risco, que, no caso, são basicamente os mesmos para todos os tipos de espinha bífida: etnia, sexo, histórico familiar e deficiência de acido fólico.
Os médicos disseram que caso João sobrevivesse, ele não andaria. Mas, com quatro anos de idade, deu os primeiros passos. Depois disso, aprendeu a andar de bicicleta e levou uma vida normal. “Ele puxava um pouco da perna esquerda, a mão esquerda não abria totalmente, mas nunca o impediu de fazer nada”, lembrou a irmã. “Ele não podia fazer trabalho pesado, levantar peso, mas teve uma vida normal, viajava, casou e não teve filhos por opção”.
Funcionário administrativo da Vale por 13 anos, João era casado com Rosilene Ozório Mattar, de 48 anos, uma das 134 pessoas mortas (número oficial divulgado até o momento). Quando a barragem se rompeu, João Paulo e Rosilene estavam na Vale, onde se conheceram e acabaram se casando. Apesar de estarem na mesma empresa, os dois atuavam em setores diferentes no momento da tragédia.
Segundo Janaina, as buscas continuam. “Até o momento a gente não tem nenhuma solução. Hoje retornamos ao IML [Instituto Médico Legal], levamos uma radiografia dele, que eu achei, para tentar ajudar na identificação. Existem alguns corpos que ainda não foram identificados”, contou. “Tem sido muito angustiante, exaustivo essa espera, essa procura que não tem fim. É muito angustiante, muito dolorido”, lamentou.
Um dia após a tragédia, a Vale anunciou que faria uma doação de R$ 100 mil para cada família que perdeu um “ente querido” no rompimento da barragem. Entretanto, Janaina entrou com o pedido para receber a doação, que foi negado. “Primeiro eles falaram que iam ajudar todas as famílias, iriam fazer uma doação. Agora eles falam que irmão não é família. Eles falam que só parentes ascendentes e descendentes, mas na televisão eles não falaram isso. Eles falaram que iam dar essa doação aos familiares. Inclusive, tenho um filho de 12 anos, o qual é dependente do meu irmão. Meu irmão me ajuda com ele”, acrescentou. Conforme ela, a Defensoria Pública irá montar um processo com todas as famílias que tiveram os pedidos da doação negados.
Desde quarta-feira, 30 de janeiro, ela esta em Belo Horizonte (MG) na procura incansável pelo irmão. “Não me ajudaram até o momento, eu estou arcando com tudo do meu bolso. Acaba que a gente gasta até o que não tem”, disse.
Apenas o corpo de Rosilene foi encontrado. No 12º dia de buscas, o número de mortes confirmadas subiu para 142, sendo 122 corpos identificados. Segundo os bombeiros, são 194 desaparecidos. O 12º dia de buscas começou por volta das 6h50. Os primeiros corpos ou restos mortais resgatados na lama chegaram ao campo usado como centro de operações do Corpo de Bombeiros por volta das 9h45, no Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH.